Flores de Verão, de Tamiki Hara, retrata o impacto da bomba atômica lançada sobre Hiroshima há 80 anos, no dia 6 de agosto

Destruição em Hiroshima após o lançamento da primeira bomba atômica, em 6 de agosto de 1945

Fotos: US Air Force 
[USAF]

Romance publicado pela editora Tinta-da-China Brasil foi classificado pelo Nobel de Literatura Kenzaburo Oe como o melhor relato sobre o horror da explosão

Nessa quarta-feira (6), completaram-se 80 anos que os Estados Unidos lançaram sobre Hiroshima uma bomba atômica que devastou a cidade e matou dezenas de milhares de pessoas. 

Sobrevivente da catástrofe, o escritor Tamiki Hara (1905-1951) narra em Flores de verão, da editora Tinta-da-China Brasil, os momentos antes, durante e depois da explosão: o esforço de guerra da população de Hiroshima nos meses anteriores, o clarão fatal que atingiu pessoas, animais, plantas e coisas, e os difíceis meses de recuperação e reconstrução da vida dos que ficaram.

Ruínas de um teatro localizado a cerca de 800 metros do hipocentro (o ponto diretamente abaixo da explosão) da bomba atômica

Salvo por estar no banheiro no momento da detonação, Hara descreve tudo o que viu naqueles dias, encontrando as vítimas em desespero pelas ruas, pelos parques e pelo rio que marca a geografia de Hiroshima. Clássico da literatura japonesa do século 20, Flores de verão é a primeira tradução para o português, feita do original japonês por Jefferson José Teixeira.

Segundo o Nobel de Literatura Kenzaburo Oe, Tamiki Hara é “o escritor japonês que melhor retratou a experiência da bomba atômica”. A obra que integra o currículo escolar do Japão traz ainda imagens que mostram Hiroshima destruída, incluindo registros da Força Armada Americana e do Museu Memorial da Paz de Hiroshima.

Danos da bomba atômica no prédio da Associação Agrícola da Prefeitura de Hiroshima. 4 de novembro de 1945

O primeiro texto, “Prelúdio à destruição”, é ambientado nos meses anteriores à queda da bomba: três irmãos e suas famílias participam do esforço de mobilização de guerra e de treinamentos enquanto a cidade de Hiroshima é evacuada, na expectativa de um ataque aéreo.

O segundo texto, “Flores de verão”, é o relato dos momentos seguintes à explosão da bomba: tendo sobrevivido com poucos ferimentos por estar no banheiro quando o clarão destruiu tudo, o narrador caminha pela cidade, se refugia no parque e testemunha cenas desesperadoras, com pessoas gravemente feridas pedindo ajuda e morrendo pelas ruas e dentro do rio Ota, cujo delta marca a geografia da cidade.

Capa do livro

O terceiro texto, “A partir das ruínas”, descreve a cidade e seus habitantes nos meses após a catástrofe, quando amigos e parentes morrem ou adoecem em consequência da radiação e os sobreviventes procuram retomar a vida em meio aos escombros.

A edição brasileira acrescentou no final o texto “O país do meu mais sincero desejo”, escrito em 1951, uma reflexão transcendental sobre o sentido da vida, sobre sua mulher morta pouco antes da tragédia e sobre as memórias da bomba. Esse texto é considerado uma espécie de carta de despedida do autor, que pouco depois deu fim à própria vida.

Sobre o autor 

O escritor Tamiki Hara (Foto: Reprodução/Tinta-da-China Brasil)

Tamiki Hara nasceu em Hiroshima, em 1905. Começou a atuar como escritor profissional em meados dos anos 1930. Pouco antes do primeiro aniversário de morte da mulher, Sadae, quando Hara retornava a Hiroshima para viver na casa de sua família, a bomba atômica foi lançada sobre a cidade.

A catástrofe ficou registrada em “Flores de verão”, publicado em 1947 na revista Mita Bungaku, um dos textos inaugurais da literatura sobre a experiência da bomba e que lhe renderia o prêmio Mizukami Takitaro. Pela mesma revista, no mesmo ano, saiu “A partir das ruínas”, e em 1949, “Prelúdio à destruição”.

“O país do meu mais sincero desejo” foi publicado em 1951, pouco antes de Hara dar cabo de sua vida, sob o impacto do início da Guerra da Coreia. Um monumento em sua memória foi erguido no castelo de Hiroshima e depois foi transferido para o templo Genbaku.

Seu aniversário de morte, 13 de março, é conhecido como Kagenki, nome da sociedade criada por leitores para celebrar sua memória.

Hara ganhou projeção mundial nos anos 60, com a divulgação no Ocidente da Genbaku bungaku, ou literatura da bomba atômica, por autores como Kenzaburo Oe.

Sob censura no período da ocupação americana no pós-guerra, hoje Flores de verão é uma das obras mais celebradas da literatura japonesa do século 20 e integra o currículo escolar do país.

Sobre a Tinta-da-China Brasil

É uma editora de livros independente, sediada em São Paulo, gerida desde 2022 pela Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos. Sua missão é a difusão da cultura do livro.

https://www.tintadachina.com.br/
https://www.instagram.com/tintadachinabrasil/

Ficha técnica
Título: Flores de verão
Autor: Tamiki Hara
Tradução: Jefferson José Teixeira
Formato: 130×185 mm
Páginas: 136
ISBN: 978-65-84835-03-0
Preço: R$ 64,90
Editora: Tinta-da-China Brasil 

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