Festival Pulsar, em Ipoema, atrai turistas que se divertem sem agredir a natureza e com respeito à cultura local
Eduardo Cruz
O maior evento cultural e turístico que acontece no distrito de Ipoema terminou nesta segunda-feira (24). O Festival Pulsar 2019, que acontece todos os anos durante a semana do feriado de Corpus Christie, reuniu mais de 3 mil turistas que vieram de todas as partes do país e do exterior ao distrito itabirano, na já famosa cachoeira Alta (Macuco), na fazenda de sô Onelvino Coelho, falecido recentemente.
Com apresentações especiais na abertura do festival e na noite da Parvati, uma trupe de artistas inspirados apresentou seus espetáculos, criados especialmente para o conceito Pulsar. Para os participantes, a “verdadeira ‘viagem’ está dentro do próprio cérebro, um lugar sem fronteiras ou limites”
No festival, exercita-se a verdadeira liberdade de expressão. O festival cultiva também conceitos que passam por outras galáxias distantes, assim como universos paralelos, sem se esquecer da forte influência urbana de uma realidade pós-moderna, líquida e rarefeita.
O respeito à natureza é outro forte apelo. Nas apresentações, e em toda a infraestrutura do festival, são utilizados materiais recicláveis. Temas recorrentes e de última geração são também explorados nas apresentações artísticas: a feminilidade e os direitos da mulher, o respeito à diversidade e às minorias, assim como a sensualidade e os mistérios da criação humana.
O conceito de sustentabilidade também permeia todo o festival. O que se procura é preservar as riquezas atuais para que possam ser usufruídas pelas gerações futuras.
A cada edição, os organizadores buscam elementos e recursos locais que possam ser empregados na infraestrutura do festival. A bioconstrução é exemplo dessa proposta.
Consiste na construção em harmonia com os elementos do ambiente, com materiais aproveitáveis da própria natureza, sem destruí-la.
Além das técnicas empregadas de construção sustentável, são utilizados o adobe, o solo cimento, além de construções com emprego de bambu e cipó, com coberturas vegetais, dentre outros materiais.
Ritual
Com as bênçãos de Mamãe Oxum, que integra a cultura religiosa e popular, o festival dedica cantos a essa grande protetora e mãe das águas doces contidas nas cachoeiras, rios e riachos.
Com as guias dessas forças mantenedoras seus devotos seguem em procissão fazendo limpezas com defumação e banho de cheiro, seguida da interpretação da presença de Oxum.
Espaços culturais
No festival diferentes áreas foram criadas – e cada qual com suas características próprias. São elas:
Cosmic Stage: É o coração do festival. Movido pelo ritmo constante e hipnótico do psytrance, esse espaço apresenta uma meticulosa seleção de Djs e produtores de renome internacional, para guiar a experiência de cada um ao longo de seis dias do festival. Alguns artistas que se apresentaram nesse palco: Fareb Jalebi, Kaos, Will o’Wisp, Foreste Baap, Minimal Criminal, Hypogeo, Del Torto, Cromarepo, Kasatka, Alchemy Circle.
Molecular Stage: trata-se de um som para relaxar, descansar a cabeça e viajar numa parada que no festival é obrigatória. Pode ser chamado também de pista alternativa. Possui toda uma dimensão de sons e texturas. Do Psychill ao Trip Hop, as subvertentes psicodélicos do Techno. Rodrigo Merken, Rafael Souza, Ponz Dub, Palmer, Dobianchi, Rica Amaral.
Quantum Stage: É uma área de cura, espaço de consciência, onde se trabalha a mente e o espirito. Trata-se de um ambiente de aprendizado, troca e amor, aqui as programações são voltadas a terapias holísticas focadas na autoconsciência e evolução. É o território dos Xamãs e terapeutas, do autoconhecimento e da limpeza, em busca de enriquecimento espiritual e cura.
Oficinas
As oficinas também foram pontos fortes do festival. Os participantes aprenderam a fabricar “tinta da terra”, “sabão ecológico”, “ativismo contemporâneo”, “cuidados naturais e consciência corporal”.
Outra oficina bastante concorrida foi de compostagem e resíduos sólidos, assim como a de Plantamor, que consiste nas técnicas para cultivo de mudas nativas.
Houve ainda palestras diversas, destacando o tema como Contribuir para a transição agroecológica, ministrada pelo engenheiro agrônomo Felipe Oliveira.
Outro curso bastante concorrido foi o workshop Veganismo com baixo custo, ministrado por Tiago Peixoto, que também teve grande procura.
Turistas e moradores elogiam o festival, mas há também quem não goste
Os participantes do festival, ouvidos pela reportagem, foram unânimes em apontar essa festa rave no distrito de Ipoema como sendo uma das melhores do país.
Ronaldo Meireles veio da Bahia, de Salvador, especialmente para o festival. Ele elogiou o clima de paz e tranquilidade reinante durante os cinco dias de intensa programação.
“É muito diferente dos shows sertanejos, aqui o nível é outro. Não há briga e nem desrespeito e as individualidades têm espaço de expressão sem repressão.”
Aline Ribeiro é dentista. Veio do Rio Grande do Sul pela quinta vez para participar do festival Pulsar. “Não perco um, só se estiver ruim da cabeça e doente do pé”, brinca.
Tiago Victor é programador visual de São Paulo, capital, e veio pela primeira vez – e promete voltar no próximo ano. “Só encontrei gente da paz, aqui não tem confusão”, elogiou.
André Noronha e Tuane Valadares são amigos e vieram também de São Paulo, da cidade de Santo André. Eles contam que viajam juntos Brasil afora curtindo festivais. Dizem ter conhecido o Pulsar por meio de amigos e que “barbarizaram” com o que participaram. Eles também prometem voltar no próximo festival.
Comércio local
Comerciantes de Ipoema também veem de forma positiva o festival Pulsar. Pousadas lotadas, todas com 100% de ocupação fez a alegria dos proprietários. Casas alugadas também foram oferecidas e ocupadas por turistas.
Antônio Coelho, fazendeiro e proprietário da área ocupada pelo festival, também não tem do que reclamar. “É um pessoal ordeiro e organizado, gentil e educado. Gosto muito de tratar com eles. O que eles se comprometem, cumprem.”
Mas como toda unanimidade é burra, há também os que não gostam e criticam o festival. Muitos, desinformados, acham que as drogas correm soltas, quando na verdade, se há consumo, como em todos grandes eventos, isso ocorre discretamente, sem agredir as pessoas que não curtem.
Outros acham que o festival causa pouco impacto positivo no comércio local, o que não se confirma, por exemplo, quando se observa a ocupação das pousadas e dos restaurantes e bares locais.
Em tempo
O festival Pulsar realiza todos os anos, antes de o festival ter início, a ação Sorriso que Pulsa, junto a comunidade escolar do distrito de Ipoema.
Neste ano, a ação consistiu em fornecer noções de higiene bucal e cuidados necessários para a prevenção de caries e da saúde bucal.
Nesta edição, segundo a organizadora Janaína Sarzi, foram atendidos 90 alunos da Escola Estadual Professor Manoel Soares.
Para o próximo festival, ela promete estender essa ação junto aos moradores da comunidade de São José do Macuco, onde se situa a cachoeira Alta.
Olá! Bela matéria!!
Luiz Carlos Figueiredo
Ipoema-MG
Estrada Real
Circuito do Ouro
Excelente reportagem retrato fiel do evento!!! Pena que só pude ir um dia!!! Organização perfeita!! Nenhum impacto negativo à região!! Gente educada, gentil e ordeira!! Nunca vi em um evento de mais de 3000 pessoas um ambiente tão limpo!! Nada jogado no chão!! Muita paz e alegria!!! Maravilha!!!
geração de renda local. muito bom.
Impacto ambiental sempre tem ainda mais com som ligado 24 horas durante cinco dias. Deveria ter uma condicionante ambiental como nós primeiros festivais quando foram instaladas fossas sépticas em diversas casas da zona rural em contrapartida para realização do evento.
o QUE??? ficou limpinho só por causa da galera que limpava…nunca vi tanto plástico! as mesas da praça de alimentação ficavam bizarras depois da galera comer