Eu acuso! A Vale é assassina
Rafael Jasovich*
“Na natureza nada independe
Somos tudo de uma vez
Todos esses sistemas são falsos
Só dinheiro, trabalho e escassez
Tudo é mentira e a mentira prevalece
Autor anônimo
Não sei por que demorei tanto para escrever, talvez porque os impactos dos homicídios (sim foram homicídios) cometidos pela Vale foram demais para serem assimilados.
Assisti como todos os brasileiros a uma hecatombe sem tamanho, a perda de vidas humanas e a destruição da natureza de maneira gigantesca, o que nos deixou primeiro atônitos, depois revoltados e por fim cheios de uma tristeza profunda e arrasadora.
Minha solidariedade com os mineiros, com os habitantes de Brumadinho e região se fez sentir em um choro incontido.
Há algum tempo escrevi que o neoliberalismo e o lucro desmedido e sem medir consequências eram os objetivos do golpe e a eleição fraudulenta. Escrevi também que para o capital financeiro, para os capitães do mato (modernos) o lucro é o fim principal, o resto é dano colateral.
Está agora mais do que provado: existem no estado de Minas Gerais barragens maiores e com risco iminente de ruptura. Com elas, mais homicídios virão se não se tomarem medidas drásticas.
O dinheiro das indenizações prometidas pela Vale é conversa fiada. Haja visto o ocorrido em Mariana e suas consequências. Advogados caros protelarão tudo e o judiciário conivente fará o resto.
As vidas perdidas, os prejuízos financeiros, as famílias em luto não serão nunca recompensadas – e não falo somente pelo dinheiro a que ela têm direito, mas a profunda dor e as consequências psicológicas que sobrevirão.
Claro que o Estado que está sem presidente há 15 dias nunca fará nada para prejudicar e cobrar firmemente da empresa causadora que assassinou centenas de pessoas.
É difícil continuar escrevendo, a tristeza e a revolta falam mais alto. Deixo aqui a minha solidariedade com o povo das Minas Gerais.
*Rafael Jasovich é advogado e jornalista, membro da Anistia Internacional
Eu Acuso a Vale. Acuso a Vale.