Estiagem severa prolongada faz Saae buscar mais reforços de água na Vale e em outras fontes emergenciais para abastecer Itabira
Fotos: Thamires Lopes/ Ascom/Saae
Já há mais de três décadas que o sistema de abastecimento de água em Itabira tem sido insuficiente para abastecer a cidade, o que tem sido agravado com o crescimento populacional e com a população flutuante crescente, principalmente nos últimos anos,
Isso sem que fosse viabilizada alternativa robusta para suprir essa deficiência, o que só deve ocorrer a partir de 2027 com a conclusão do projeto de transposição do rio Tanque.
Esse colapso no abastecimento, que é histórico, agravou-se ainda mais neste ano com a seca severa que assola quase todo o país – e mais ainda em Itabira, onde as principais outorgas de água estão a serviço da mineração e as fontes que sobraram para abastecer a cidade vem minguando ano a ano.
Daí que, por força de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado pela Vale com o Ministério Público, via Curadoria do Meio Ambiente, a mineradora tem fornecido 160 litros por segundo (l/s) desde a sua assinatura em 2020.
Além desse volume, desde 10 de julho, a Vale passou a fornecer mais 30 l/s adicionais, distribuídos também por meio da alça hidráulica. “A crise no fornecimento de água em Itabira só não está pior graças a esses reforços das outorgas da Vale”, afirma o presidente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Carlos Carmelo “Cac” Tôrres Bahia.
Entretanto, mesmo com esses reforços, com o agravamento da crise hídrica, tornaram-se insuficientes para suprir a perda de vazão ocorrida em todas as fontes atualmente disponíveis para abastecer a cidade de Itabira.
ETA Pureza
O principal sistema de abastecimento ainda existente em Itabira, e que está definhando ano a ano, é o que abastece a ETA Pureza, responsável por suprir 60% dos bairros de Itabira e 40% da população itabirana. A estação tem capacidade de tratar 120 litros por segundo (l/s), mas só tem disponibilizado à população entre 85 e 90 l/s, isso graças aos reforços já encontrados para cobrir parte dessa queda.
Uma das fontes alternativas, que vem sendo utilizada desde a segunda quinzena de agosto, é a captação de água em um córrego afluente do rio de Peixe. Desse afluente, o Saae já está bombeando 12 l/s durante 12 horas ao dia, sendo que essa operação deve passar para 24h/dia, ampliando esse suprimento para 50 l/s. É outro reforço para o sistema Pureza.
Por meio de outro reforço, já praticamente viabilizado, o Saae busca captar água em uma fonte emergencial no córrego Duílio, próximo do campus da Unifei. Essa água já está sendo encaminhada para uma lagoa existente no campus universitário, para de lá seguir por gravidade para ser tratada na ETA Pureza. A expectativa com essa fonte é dispor de um reforço entre 40 e 50 l/s no prazo de aproximadamente 20 dias.
Outra alternativa é recuperar um dos dois poços artesianos do Areão, danificado no passado com a queda de bomba em seu interior. Com isso, durante todo esse tempo a cidade contou com apenas um desses poços, com capacidade de fornecer 27,5 l/s. Com o retorno de operação do poço danificado, a expectativa é dobrar o suprimento com esses poços profundos.
ETA Gatos
Se por um lado está provisoriamente equacionado o déficit para o suprimento de água por meio da ETA Pureza para os próximos dias, devendo passar a tratar 90 l/s, próximo de sua capacidade nominal, a situação é ainda mais complicada na ETA Gatos. Essa estação recebe água do córrego Pai João que, assim como os afluentes da Pureza, tem a sua vazão definhando ano a ano.
A estação tem capacidade nominal para tratar 75 l/s. Porém, nesta estiagem já teve dia de tratar apenas 28 l/s, dada a indisponibilidade de recursos hídricos para abastecê-la. “Tentamos buscar um reforço da barragem Cemig 2, da Vale, mas com o esvaziamento da barragem de Santana (que abastece o complexo Cauê) esse bombeamento não foi possível”, conta o presidente do Saae.
Como alternativa, foi sugerido transpor água de um córrego que passa pela fazenda Palestina, a cerca de 5 quilômetros da ETA Gatos. Porém, isso não foi possível, pois a água dessa localidade também está em volume que não suporta a captação. Essa água seria levada até a ETA por caminhões-pipa.
Já agora, para reforçar esse sistema, e não ter de fazer racionamento nos bairros abastecidos pela ETA Gatos (Campestre, Bela Vista, Nova Vista, Jardim das Oliveiras), o Saae avalia com a Prefeitura captar emergencialmente água do Ribeirão São José, que fica a cerca de 15 quilômetros da estação de tratamento, por meio de caminhões-pipa.
Essa alternativa, porém, deve representar um reforço pequeno. Para se ter ideia, 15 caminhões-tanque de 30 mil litros vão representar um acréscimo de apenas 12 l/s.
Itabira conta ainda com o fornecimento de água captada de poços profundos das Três Fontes, atualmente operando com um total de pouco mais de 64 l/s, o que tem sido suficiente para suprir a demanda dos bairros Pará, Penha e Centro.
Uso sem desperdício para evitar racionamento
Diante desse quadro de estiagem prolongada, com a seca severa, é imprescindível que a população faça uso racional da água, sem desperdícios lavando automóveis e calçadas com água tratada, fazendo uso doméstico apenas para a dessedentação e banhos, que devem ser também mais curtos.
“Estamos trabalhando para encontrar outras fontes alternativas também para o sistema Gatos. Mas se for preciso, vamos fazer racionamento como já ocorreu em administrações passadas, que seria abastecer grupos de bairros em dias alternados”, admite o presidente do Saae, Carlos Tôrres Bahia que, mais uma vez, pede à população para que faça uso racional da água, cortando todas as formas de desperdício.