Escritor caribenho Malcom Ferdinand lança nesta sexta-feira, em BH, o premiado livro Uma Ecologia Decolonial
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No sábado, 4 de março, o autor, que se dedica a pesquisas sobre colonialismo e problemas ambientais, participa em Ouro Preto de debate com a deputada federal Célia Xacriabá (na foto em destaque). Iniciativa integra programação do Noite das Ideias 2023, evento francês realizado pela primeira vez no Brasil
O escritor martinicano Malcom Ferdinand fará nesta sexta-feira (30, o lançamento no Brasil do livro Uma Ecologia Decolonial, com palestra às 16h30, no Conservatório da UFMG, em Belo Horizonte. A obra, que aborda a interação entre o colonialismo e as problemáticas ambientais a partir da situação do Caribe, foi lançada em 2019 na França e premiada pela Fundação de Ecologia Política. Publicada no Brasil pela Ubu Editora, está em primeiro lugar em vendas na Amazon, na rubrica Ciências Ambientais.
A palestra com o escritor terá mediação da escritora e professora da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) Guiomar de Grammont e tradução de Raissa Palma, diretora da Aliança Francesa de Ouro Preto. No sábado (4), Malcom Ferdinand participa de debate aberto ao público com a deputada federal (PSOL-MG) Célia Xacriabá, em Ouro Preto.
Tanto a palestra em Belo Horizonte quanto o debate em Ouro Preto, mediado pelo professor Alex Bohrer, fazem parte da programação da Noite das Ideias 2023, evento internacional dedicado à livre circulação das ideias e saberes, que acontece pela primeira vez no Brasil.
A edição brasileira do Noite das Ideias é organizada pela Aliança Francesa de Ouro Preto com apoio do Instituto Francês e da Embaixada da França no Brasil, por meio do do Bureau du Livre. Após o debate do escritor com a deputada Célia Xacriabá, está prevista a apresentação da Bateria Pulsação da Escola de Samba Acadêmicos de São Cristóvão, celebrando a cultura popular de origem africana, gênese do povo ouro-pretano.
As problemáticas ambientais e colonialistas e as perspectivas para o futuro estarão no centro dessa Noite das Ideias, nesta edição brasileira, que busca aproximar os territórios, as culturas e os povos.
Em visita pela primeira vez ao Brasil, Malcom Ferdinand, que é graduado em engenharia ambiental pela University College London (UCL) e doutor em filosofia e ciência política pela Universidade Paris VII, observa que o princípio filosófico da colonização no Brasil é o mesmo do Caribe, com a exploração do ser humano e da natureza, embora os dois países tenham muitas diferenças.
“O Caribe são ilhas e o Brasil é um continente por si só, onde as formas de extrativismo foram distintas no período colonial”, compara, lembrando que são necessários reconhecimento e reparação da contribuição dos povos autóctones para o mundo, seja no Brasil e em outros lugares do mundo.
Antes de chegar a Ouro Preto, onde está hospedado, Malcom esteve no Rio de Janeiro e descreve suas impressões sobre o Brasil: _ “ É um país bastante complexo com uma história bem longa que aflora no presente a respeito da escravidão dos africanos e a colonização dos povos indígenas. Mas, ao mesmo tempo, é um lugar de cultura muito rica. Tive a oportunidade de ver a celebração do Carnaval no Rio. O ritmo musical, a estética, tudo evidencia uma raça, uma classe, um gênero”.
Foi para cuidar da ferida aberta pelas inúmeras crises engendradas pelo sistema capitalista que o martinicano Malcom Ferdinand propôs o conceito de ecologia decolonial, abordagem que reúne o ecológico com o pensamento decolonial, antirracista, em uma crítica ao “habitar colonial da Terra”.
Nesta análise, Ferdinand critica o que chama de “dupla fratura colonial e ambiental da modernidade”, de que resultam, por um lado, as teorias ecologistas que desconsideram o legado do colonialismo e da escravidão; e por outro, os movimentos sociais e antirracistas que negligenciam a questão animal e ambiental.
Malcom conta que o trabalho dele de abordar a interação entre o colonialismo e as problemáticas ambientais do Caribe busca sair da “fratura” em que as pessoas não brancas não podem participar das políticas ecológicas. Ele cita como exemplo a criação de parques naturais, como o Parque Nacional Yosemite, atrativo turístico na Califórnia, Estados Unidos, habitado por milênios, no passado, pelos indígenas ahwahneechees.
“Até hoje existe um compêndio de pensadores ecologistas, em que pessoas não brancas eram desautorizadas a falar. Meu trabalho é exatamente sair dessa fratura”, diz, lembrando que é preciso transformar o modo que habitamos a terra coletivamente. “Reconhecer a importância dos povos taxado de subalternos é reconhecer também a terra de outra forma”, considera.
Com prefácio de Angela Davis – filósofa, escritora e ativista que desde a década de 1960 luta pelos direitos da população negra e das mulheres nos Estados Unidos – , o livro Uma Ecologia Decolonial oferece uma aproximação para pensar em um mundo que não mais atire pessoas no porão, condenando-as a uma sobrevida sujeita a doenças, fome e morte, enquanto dá a outras a perspectiva de uma viagem segura no convés, possibilitada pela condição daqueles que ficaram condenados ao porão, em uma metáfora do que acontece até hoje na sociedade.
Sobre o evento Noite das Ideias 2023
Criado na França e difundido para diversas regiões do mundo, Noite das Ideias visa proporcionar momentos de debates e s artísticos, a fim de promover uma reflexão coletiva sobre a maneira de nos aproximarmos uns dos outros e de imaginar um futuro melhor, com espaços públicos e sociedades mais inclusivas e acolhedoras. A iniciativa propõe um momento de reflexão criativa com cidadãos, intelectuais, personalidades políticas, escritores e pesquisadores, para dialogar sobre desafios de cunho filosófico, sociológico, ecológico e cultural. As problemáticas ambientais e colonialistas e as perspectivas para o futuro estarão no centro dessa Noite das Ideias, nesta edição brasileira, que busca aproximar os territórios, as culturas e os povos.
Sobre o escritor Malcom Ferdinand
Nascido na Martinica em 1985, Malcom Ferdinand é graduado em engenharia ambiental pela University College London (UCL), doutor em filosofia e ciência política pela Universidade Paris VII, e pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique, atuando no Institut de Recherche Interdisciplinaire en Sciences Sociales (Irisso) da Université Paris Dauphine-PSL (Paris 9).
Tem especialização em engenharia ambiental e pesquisa a interação entre o colonialismo e as problemáticas ambientais a partir da situação do Caribe. Em seu livro Uma ecologia decolonial, aborda a relação intrínseca entre a questão ecológica e a questão colonial, demonstrando o quanto estão imbricadas tanto em sua origem quanto em suas consequências. O livro, lançado em francês em 2019, foi premiado pela Fondation de L’écologie Politique.
Sobre a deputada federal Célia Xacriabá
Célia Xacriabá assumiu recentemente a cadeira de deputada federal, eleita em 2022, pelo PSOL. Ela é mestra em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília e doutoranda em antropologia pela UFMG.
Célia faz parte da Articulação Rosalino Gomes, presente no Norte de Minas, e é uma das fundadoras da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade. Na Secretaria de Educação de Minas Gerais, atuou para a abertura de escolas indígenas e quilombolas e a reabertura de escolas do campo em todo o estado.
Serviço
Lançamento do livro Uma Ecologia Decolonial com palestra do escritor martinicano Malcom Ferdinand
Local: Conservatório da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na Avenida. Afonso Pena, 1.534, centro de BH.
Data: 3 de março, sexta-feira
Horário: 16h30
Debate do escritor Malcom Ferdinand com a deputada Célia Xacriabá, seguido da apresentação da Bateria Pulsação, da Escola de Samba Acadêmicos de São Cristovão
Data: 4 de março (sábado)
Local: Museu Boulieu, à Rua Padre Rolim, 412, em Ouro Preto
Horário: 19 horas