Equívocos de Glasgow vão de viagem ao Egito

Foto: Pablo Bazquez/Greenpeace

Veladimir Romano*

Nada de novo e, do pouco conseguido, da COP26, realizada em Glasgow, na Escócia, já era esperado massiva desilusão em torno das difíceis decisões. No entanto, a pergunta correta que poucos ou quase ninguém deseja colocar no tampo da mesa, será de como o sistema capitalista [já o temos afiançado em diversas ocasiões], vai ao encontro das soluções decisivas, exigências e frontalidade ao invés de se caminhar enrolando sérias e graves realidades do problema climático.

Nada se viu de novo diante dessa mudança brusca, complexa, decisiva que todo o planeta vive. Isso enquanto a natureza dar os seus claros sinais, com todos assistindo ao crescimento dos problemas decorrentes das mudanças climáticas que vão chegando sem dó nem piedade.

Ora, se a confiança já nem era muita antes do começo, depois, com vários discursos dos líderes procurando criar outro clima mais desejado, aumentou ainda mais. No final, pouco se adiantou ao alterado panorama com os questionamentos do passado em todas as conferências anteriores sobre essa mesma temática.

Fica claro, neste momento de emergência, com muitas autoridades e lobistas discutindo agendas complexas, exigentes, ambiciosas, que sucumbem frente às questões econômicas. E assim desacreditam tudo quanto seja feito, levando ao descrédito com discursos e poucos resultados práticos.

Em abordagem urbana, a imprensa local escocesa aproveitou a presença de uma multiplicidade de nações representadas e colocou em prática várias perguntas. Descobriu que apenas 60% dos debatentes na conferência acreditam nos cientistas com suas previsões catastróficas para o planeta.

Estranho que seja assim quando todo o mundo ali presente chega pela ideia do mesmo problema. Entretanto, segundo indagação do The Nation, em outro inquérito público, verificou-se que de oito em cada 10 pessoas acreditam que atividades humanas estão acelerando o efeito negativo das mudanças climáticas.

Nessa encruzilhada econômica, a informação atilada colhe regulações ambientais, apelando aos acordos como boa coisa. Entretanto, no entendimento dos repetidos signatários o que se prevê é que as metas não serão cumpridas. Esse trato já virou lugar comum: fala, fala e nada faz, nada se pratica para mudar essa realidade das mudanças climáticas que todo o mundo já vive.

Em outra oportunidade no regime da cúpula, reaparece o desagrado, desmotivação ou então como diria Bertrand Russell (1872-1970), filósofo britânico: «O ser humano ainda não entendeu através das suas nefastas ações que a Terra, continua, mas o homem, é que não».

Sendo certo, ao homem, com todas as particularidades que a última doença viral trouxe, não parece haver entendido na mensagem de uma pandemia ter poder para destruir seu auge financeiro, aparato tecnológico do qual uma peste contagiosa consegue exterminar a vida humana.

Depois do negacionismo fanático de Donald Trump, Joe Biden no seu discurso de Glasgow falou sobre “imperativo moral”… Sem dúvida, trata-se de uma virada histórica dos EUA, mas o sentimento do fala, fala e fala que se farta continua latente na confrontação final dos resultados, em especial em relação ao consumo do carvão mineral.

Pudera. Nações como a Austrália onde se encaixam 228 bilhões de reais/ano pela venda de carvão, uma Índia onde milhares de famílias dependentes do comércio desse mineral, tanto como a Polônia com grandes produções e uma das suas maiores exportações não têm interesse em mudar essa realidade de consumo nefasto.

O que se observa, mais uma vez, é que palavras bonitas só podem continuar enganando a boa vontade de alguns ou então ir empurrando à próxima COP27 na nova capital egípcia, certamente já engalanando tarefas a mais um fracasso.

É preciso lembrar também que anualmente morrem prematuramente mais de 300 mil pessoas vítimas de doenças respiratórias causadas pelas partículas poluidoras no oxigênio que se respira.

Em 2019, foram 307 mil óbitos, entre elas, crianças afetadas por câncer pulmonar, assim como tem aumentado a incidência da asma que também liquida mais de 200 mil pessoas anualmente em todo o mundo.

De pouco serviu a tão atarefada reunião dos G20 de Roma e bem pouco os 60 milhões de reais prometidos pelo governo inglês para limpeza dos oceanos. Com enorme agrado e saudação foram recolhidas na cúpula as organizações brasileiras do ambiente e a presença indígena, marcou momentos…

É bom reter na memória que 4% da costa marítima do planeta já sumiu e o Egito, futuramente, também irá confirmar tanto equívoco. Aviso é coisa que não falta por aí.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.

 

 

 

 

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