“Enquanto houver racismo não haverá democracia no Brasil”, diz estudante, em carta-aberta entregue aos vereadores de Itabira
A diretora Heldeane Campos acompanha a leitura da carta-aberta pela estudante Joana Fernandes, da escola municipal Antonina Moreira
Fotos: Carlos Cruz
Na reunião da Câmara Municipal, nessa terça-feira (8), fazendo uso da tribuna, a estudante Joana Fernandes, 13 anos, do 8º ano da escola municipal Antonina Moreira, localizada no bairro Água Fresca, leu uma carta-aberta entregue aos vereadores, cobrando políticas públicas de combate ao racismo no município de Itabira.
A leitura da carta-aberta pela estudante, ao lado da diretora, professora Heldeane Conceição Felipe Campos, ocorreu por solicitação do vereador Júlio Rodrigues (PP), que leciona na escola municipal. Na carta, os estudantes da escola fazem o apelo para que todos os vereadores se engajem na luta contra o racismo, como dever de cidadãos que prezam e lutam pela democracia.
“O racismo acentua as desigualdades em nossa sociedade e gera consequências violentas que atingem, sobretudo, a juventude e as mulheres negras. Por isso a luta contra o racismo é tão importante para a democracia brasileira”, acentuou a estudante ao ler a carta-aberta, que contém assinaturas de todos os alunos da instituição municipal de ensino.
Antes da leitura da carta-aberta, estudantes da escola municipal participaram do projeto Visita Guiada à Câmara Municipal, que tem por objetivo informar a juventude sobre o funcionamento do legislativo itabirano.
Quadra esportiva
Mas antes da leitura da carta-aberta, a diretora da escola apresentou outra reivindicação dos estudantes aos edis itabiranos. Foi quando ela solicitou, “encarecidamente”, o empenho dos vereadores, e das demais autoridades municipais, para que seja construída uma quadra de esportes na escola.
“Nossos alunos precisam desse espaço para desenvolver a educação física”, cobrou a diretora, lembrando que a Antonina Moreira é a terceira maior escola municipal de Itabira.
Segundo ela, atualmente, metade dos estudantes da escola fazem educação física na quadra do bairro Juca Batista e a outra metade em uma quadra no bairro Água Fresca. “É um ir e vir de alunos que prejudica o desenvolvimento das aulas, causando transtornos e perda de tempo”, lamentou e cobrou.
Carta-aberta
A carta-aberta, contendo assinaturas de todos os estudantes da escola, foi entregue ao vereador Weverton “Vetão” Andrade (PSB), para que seja encaminhada às autoridades municipais e dada ampla divulgação.
Leia a íntegra:
Nós, alunos da escola municipal Professora Antonina Moreira, no mês de setembro, por meio do projeto Cultura da Paz e do trabalho com a coleção Acorda Gente, da Aprender Editora, começamos a discutir o problema do racismo no Brasil.
Esse assunto é extremamente importante e apresentamos às autoridades aqui representadas pelo legislativo itabirano, nossos anseios em relação a esse importante fato. Primeiramente gostaríamos de afirmar que o racismo é frequente e é visto em todos os espaços públicos privados e inclusive dentro da própria escola.
É importante ressaltar que não é um ato isolado ou um conjunto de atos. E tão pouco se resume a um fenômeno restrito às práticas institucionais. Todavia, é o resultado de um processo histórico e político que se resume em um fenômeno restrito às práticas institucionais em que as condições de super alteridade ou de privilégios de sujeitos racionalizados é estruturalmente reproduzida.
Esse problema afeta a todos porque não é possível ter uma sociedade justa igualitária sem esse enfrentamento. O próprio lema da campanha, lançada pela coalização negra por direitos, aborda que, enquanto houver racismo não haverá democracia.
O racismo acentua as desigualdades em nossa sociedade e gera consequências violentas que atinge sobretudo a juventude e as mulheres negras. Por isso a luta contra o racismo é tão importante para a democracia brasileira. O racismo estrutural evidencia a reprodução, mesmo que inconsciente, de um discurso que legitima a desigualdade racial.
O racismo está em todos os setores da nossa sociedade, mas de modo especial nos campos econômicos, políticos e sociais, deixando raízes profundas em nossa sociedade. Em razão disso às vezes passa despercebido apesar de camuflado.
O racismo é muito forte em nosso país infelizmente. Mas, afinal, poder público pode fazer muito para combater o racismo:
- criar políticas públicas para valorização dos negros;
- investir em uma educação inclusiva e de pertencimento;
- promover campanhas sistemáticas com o objetivo de coibir o preconceito racial;
- atentar para um trabalho específico na educação infantil. Afinal, nenhuma criança nasce preconceituosa, torna-se preconceituosa.
Essa temática é bastante complexa, por isso relevante. É preciso reconhecer a necessidade de uma população politizada e consciente nesse tocante tema. Portanto a escola é um caminho fundamental para promover uma sociedade sem o apartheid social.
Nesse sentido, contamos com o envolvimento de todos os poderes para trabalhar esse tema, articulados para implantar ações afirmativas para a promoção da igualdade racial.
Diante do exposto, cordialmente agradecemos.
Assinam: alunos da escola municipal Antonina Moreira.
Parabéns a pequena grande Joana Fernandes. E ao vereador Júlio Rodrigues o meu abraço pela luta contra o racismo, o único da câmara que luta pela democracia racial.