Em busca das origens em Santa Maria

Vista da antiga Santa Maria de Itabira, recuperada do arquivo público mineiro

Foto: Raimundo A. Pinto/
Reprodução)

Por Anselmo “Préus” Martins

O Garrucheiro, como dito no número anterior é o apelido dado aos moradores da pequena cidade distante 30Km de Itabira: Santa Maria do Itabira. Agora, o porque deste apelido me foi  contado em várias versões, e você leitor, em algumas encontrará verdades, que esclareço, jamais citarei nomes reais em minhas histórias (art. V – Direitos Humanos: Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento cruel, desumano ou degradante…).

Assim começo esta segunda versão deturpada  e caduca do porque um povo, em plena era atômica, ainda é garrucheiro…

Foi pouco depois da servidão gratuita que se passou este fato, hoje adormecido na memória dos senhores coronéis, que não noticiam noticia alguma. Principalmente, notícias do princípio do século passado ou atrasado (não sei certo). Nesta versão que talvez seja a mais verdadeira das apresentadas pelos bisnetos e netos dos coronéis, apresento a você, leitor, um homem chamado Lutero.

Lutero surgiu no mundo após a valorização do homem no período renascentista. Os projetos de reforma de Lutero tinham como objetivo combater o semi- paganismo. Fato que levou os católicos a lançarem uma contra reforma em combate a Lutero, colocando o homem entre dois planos distintos: de um lado os valores humanos , do outro o Espiritualismo medieval.

Tirando os valores humanos, era Santa Maria cheia de tabus e mistérios e quando pastores da Igreja Luterana resolveram criar aqui um templo de protestantes, pregando pelas ruas a bíblia não latinizada, fizeram com que os conservadores católicos incitassem o povo a combater a nova religião que era, então, uma “afronta aos bons costumes católicos”, ao que o povo prontamente atendeu.

O clima de tensão tornou-se geral nas ruas. Alguns falavam em apedrejar a nova religião, outros falavam em matar os crentes que não saíssem da cidade. E pelas esquinas vários grupos eram formados para controlar e verificar se havia gente suficientemente, capaz e bem armada para expulsar os luteranos. Todas as residências estavam de portas e janelas  fechadas, os conservadores rezavam, os crentes não apareceram no horário de costume; aumentavam as tensões na rua Velha e na rua do Conselho…

Já era quase noitinha, quando na esquina da rua Velha, perto do Hotel Excelsior (atual Pensão do Jota), um grupo de revoltados foi informado de que o coronel mais importante da cidade, homem de cultura e sabedoria, homem de poucas palavras, porém, de muita justiça, estava chegando de sua farmácia, acompanhado pelos Luteranos, com o objetivo de pacificar a situação.

Mais revoltada ficou ainda a massa santamariense, devido ao apoio do Coronel, que assustado, tentava em seu cavalo galopante esparrador os que, de garrucha na mão, atiravam tiros perdidos e sem destino certo. Na hora em que para recarregar suas armas, um outro grupo com pontarias certas atirava pedras nas cabeças dos luteranos.

Com sangue estagnado nas veias, o Coronel Importante, apeou de seu cavalo, tentando dialogar com o povo que não queria escutá-lo. De repente, lá estava ele… meio zonzo, cambaleando pelas ruas, uma mancha vermelha coloria seu de linho branco.

Assutados com o estado do Coronel, os luteranos correram à procura de abrigo, e que para eles era um beco sem saída, pois todas as ”portas” da cidade estavam fechadas. Exceto a da Pensão do Jota, cujas escadas de tábuas claras, transformaram-se em escada de sangue.

Contam-me ainda, que uma ilustre senhora ao subir as escadas foi fatalmente atingida nas nádegas, por uma peicheirada dada por mãos não identificadas…

Desta história, de tão antiga que é, sobra apenas uma coisa: o infinito e o nada.

O Sr. Glicério Vieira foi assassinado na casa da esquina de J. Belizário com Padre Martins. O Coronel Importante esteve entre a vida e a morte, após recuperação clínica foi indevidamente processado pela comarca de Itabira.

Devido a tantas injustiças cometidas contra o Farmacêutico, hoje temos em sua homenagem um colégio e um grupo. E, em Itabira, tem uma rua e um grupo.

Contaram-me ainda, que mais de 50 pessoas saíram feridas nesta revolução cristã do século passado.

*Anselmo “Préus” Martins da Costa, já falecido, editou por algum tempo o periódico O Garrucheiro, em Santa Maria, com boas e contundentes reportagens. Ele faz muita falta na vizinha cidade, que hoje sofre com a presença de mineradoras.

[O Garrucheiro, suplemento do Jornal O Papel de Pão, Santa Maria de Itabira-MG, maio de 1983, ano III, n. 04 – Pesquisa: Cristina Silveira]

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1 Comentário

  1. O povo de Santa Maria do Itabira sabia do massacre aos camponeses perpetrado por Lutero, “o peidorreiro” na guerra de 1524. Então fez muito bem de opor ao nazismo religioso da Alemanha sempre nazi-nazi….
    Viva os Garrucheiros!

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