El Tigre: o teuto-brasileiro de 1.329 gols

Fotos: Reprodução
Pesquisa e texto: Cristina Silveira

Arthur Friedenreich, El Tigre, o primeiro grande ídolo negro do futebol brasileiroNo início do século XIX o futebol era um esporte praticado majoritariamente por brancos. Não que estes eram hábeis, mas ao negro era proibido jogar futebol, ao menos nas pequenas competições, ainda amadoras, que existiam na época.

Encontro de fenômenos

Filho de Oscar, um comerciante alemão, [e neto de Karl Wilhelm Friedenreich, nascido na Alemanha, naturalista no Museu do Ipiranga] e Mathilde, uma trabalhadora doméstica filha de escravos libertos, Arthur conseguiu furar o bloqueio que havia à participação do negro no esporte por conta de sua ascendência alemã, sendo o primeiro jogador negro no futebol profissional. Seu futebol marcou toda uma época do futebol brasileiro que foi até 1930.

Obviamente, aprendeu seu futebol jogando com crianças negras e pobres nas ruas, com as famosas bolas feitas de bexiga de boi, já que sua origem negra não permitia que ele frequentasse os clubes paulistas. Lhe era proibido nadar, fazer compras, jantar ou participar de festas com seus companheiros brancos.

El Tigre como é mais conhecido, teve participação destacada no futebol brasileiro, especialmente nas divisões paulistas. Jogou nos clubes Germânia, time composto por imigrantes alemães (atual Pinheiros), Mackenzie, Ypiranga e o Paulistano.

El Tigre com o rei Pelé: encontro de reis do futebol

Como é típico dos craques que o sucederam, El Tigre ficou marcado pela inovação, inteligência, improvisação, visão e organização do jogo. Chute de curva com as duas pernas, dribles curtos, jogo de corpo, são algumas das inovações que El Tigre trouxe para o futebol.

Relatos dão conta que o jogo de El Tigre dava a entender quando e como seria o seu gol. Por onde iria passar, como faria a jogada, com quem contaria, como seria a finalização. A inteligência foi a marca registrada do jogador.

Foi campeão sul-americano, atual Copa América, em 1919 e 1922 pela seleção brasileira, sendo estes os dois primeiros títulos do Brasil. Foi dele o gol da vitória por 1×0 contra o Uruguai em 1919. Gol que fez El Tigre ser carregado nos braços pela população carioca, numa prematura visão do que viria a ser uma paixão nacional.

Sua raça lhe rendeu o apelido de El Tigre entre os adversários argentinos e uruguaios. [El Tigre, apelido que ganhou após tento decisivo no Sul-Americano de 1919; conhecido também por Fried, e após um 7 x 2 do Paulistano contra a França arrematou os condizentes apelidos: Le roi du football/O rei do futebol e Le danger/O Perigo].

Esquadrão de aço – El Tigre fez carreira espetacular em todos os times que jogou, tendo se destacado no São Paulo Futebol Clube, onde fez parte do famoso Esquadrão de Aço, campeão paulista em 1931. Pelo tricolor paulista anotou 103 gols em 125 jogos, é o 18º maior artilheiro do clube.

Tendo jogado em outros times brasileiros, como o Flamengo, Arthur ou Fried, teve grandes atuações internacionais, voltando da Europa, em 1925, sendo considerado um dos melhores jogadores do mundo após uma excursão vitoriosa do Paulistano pelo continente, ou o Rei do Futebol, o Pelé dos Anos 20.

Para se ter uma ideia, no dia 15 de março de 1925, ainda na Europa, pela primeira vez um time brasileiro jogava no exterior, o Paulistano, no caso. E foi ele, El Tigre, que comandou a goelada de 7 a 2 na França.

Em tempos modernos de times armados com 11 zagueiros, Fried fez história do futebol mundial ao marcar 0,99 gols por partida, segundo os levantamentos que são os mais diversos.

El Tigre foi o primeiro jogador negro a jogar futebol profissionalmente no Brasil

1.329 partidas x 1. 239 gols para os entusiastas e para o Guinness, o livro dos recordes, 554 gols em 561 partidas, para os céticos. Não importa, o time adversário poderia contar que El Tigre marcaria um gol de qualquer maneira.

Por conta de toda a história e mitos que rondam o jogador, El Tigre virou o primeiro ídolo do futebol brasileiro, e lenda mundial. Morreu com pouca condição financeira, em 6 de setembro de 1969, aos 77 anos. [Revista Zona do Agrião, novembro de 2022, uma revista do PCO – Partido da Causa Operária]

Mathilde de Moraes e Silva, era professora de primeiras letras em escolas públicas, formada pela Escola Normal em 1879, bem antes de conhecer Oscar.

É provável que o equívoco de identificar Mathilde, uma mulher negra com marido branco, como sendo lavadeira e esposa de um estrangeiro rico, tenha sido originado para justificar a presença de um jogador mestiço no Club Atlhético Paulistano, equipe ligada à elite fazendeira.

Posts Similares

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *