Doenças crônicas e autoimunes: as dores que não saem nos jornais

Foto: Jessica Estefani/
Ascom/CMI

Ativista da Rede Raras exige mais respeito dos vereadores ausentes durante seu pronunciamento na tribuna da Câmara de Itabira e cobra melhorias no atendimento a pacientes com doenças crônicas

A convite do vereador Elias Lima (Solidariedade), a representante do Grupo de Pacientes com Lúpus e Doenças Autoimunes e articuladora do coletivo Rede de Mulheres com Dor Crônica e Doenças Raras (Rede Raras), Kátia Cilene Fonseca, ocupou a tribuna da Câmara Municipal de Itabira, nesta terça-feira (7).

Durante sua fala, expôs os desafios enfrentados por pacientes com lúpus, fibromialgia e outras doenças autoimunes, cobrando o cumprimento de leis já aprovadas e denunciando a precariedade dos serviços de saúde oferecidos a essas pessoas.

A ativista ressaltou a importância da campanha Maio Roxo, voltada à conscientização sobre essas doenças, mas defendeu ações práticas e melhorias urgentes na rede pública de saúde. “Nós não queremos ficar só na conscientização, queremos que as leis façam valer os nossos direitos”, reivindicou.

Segundo ela, o Maio Roxo não pode ser apenas uma campanha simbólica, mas sim um movimento capaz de transformar conscientização em ação. “Mesmo que a dor não seja visível, ela existe. Que a empatia se transforme em ação”, afirmou, representando aqueles que enfrentam dores crônicas diariamente.

Doenças crônicas e autoimunes afetam mais as mulheres

De acordo com Fonseca, a fibromialgia atinge cerca de 3% da população brasileira, segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia. Embora a doença seja mais prevalente entre mulheres, homens também podem desenvolvê-la, o que motivou a inclusão deles no grupo de doenças autoimunes da Rede Raras.

“Tanto lúpus quanto fibromialgia acometem mais as mulheres, em cerca de 90%”, acrescentou. Segundo estudos ainda em desenvolvimento, essa prevalência feminina pode estar relacionada à pressão psicológica que a mulher sofre mais.

Fonseca também alertou que a fibromialgia pode desencadear depressão, tornando o suporte psicológico essencial no tratamento. Além disso, destacou que lúpus e fibromialgia apresentam sintomas semelhantes, o que dificulta o diagnóstico. “Ambas as doenças demoram para serem identificadas, pois as dores confundem uma patologia com outra”, explicou.

O diagnóstico da fibromialgia, segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, deve considerar entre 12 e 28 pontos de dor no corpo. Já o tratamento exige um acompanhamento multidisciplinar, incluindo médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e acupunturistas.

“Na nossa cidade, há apenas um reumatologista atendendo na rede pública, e a demanda é enorme”, criticou. Fonseca relatou casos de pacientes que aguardam até dois anos por uma consulta, o que pode agravar a condição clínica.

Além da falta de especialistas, a ativista denunciou a precariedade dos serviços de hidroterapia no Centro de Reabilitação de Itabira. “A piscina foi inaugurada, mas não tem estrutura para ser usada”, afirmou. Segundo ela, cadeirantes não conseguem realizar o tratamento adequado porque “o espaço não comporta”.

Outra reivindicação é a inclusão de exercícios de Pilates na rede pública, além da necessidade de melhorar o atendimento psicossocial, que não supre a demanda da cidade.

“O CAPS atende principalmente pacientes com transtornos mentais, mas nós, que precisamos desse suporte por outros motivos de saúde, temos atendimento reduzido”, afirmou.

Por fim, Fonseca lamentou a ausência de alguns vereadores durante sua exposição na tribuna. “É uma pena que nem todos estejam em suas cadeiras. Nós nos autoconvidamos ou somos convidados para falar, e isso exige uma ética melhor”, criticou.

Apoio às reivindicações

Elias Lima promete cobrar melhorias no atendimento a pacientes com doenças crônicas (Foto: Carlos Cruz)

O vereador Elias Lima (Solidariedade) declarou apoio às reivindicações apresentadas pela ativista Kátia Fonseca, destacando os desafios enfrentados por pacientes com doenças crônicas e autoimunes.

“A Kátia é extremamente verdadeira. E só quem sente dor sabe o que ela está dizendo”, afirmou após ouvir as críticas sobre a ausência de parlamentares no plenário.

Lima revelou que também sofre com dores constantes, sem diagnóstico preciso, e compartilhou sua frustração diante das dificuldades para encontrar tratamento adequado. “Eu sinto dor da minha cabeça até a planta do pé, na coluna, na panturrilha. Só quem sente dor sabe o quanto isso é terrível”, testemunhou.

O parlamentar chamou a atenção para os entraves burocráticos que impedem a aplicação de leis já aprovadas. “Não é o volume de leis que resolve, mas a aplicabilidade delas”, alertou.

Ele defendeu a necessidade de estruturação da Câmara para monitorar e cobrar efetivamente a implementação das normas. “Precisamos separar melhor nossas comissões e nos desdobrar em áreas específicas. Só assim conseguiremos fiscalizar e garantir que as leis não fiquem apenas no papel”, declarou.

Lima anunciou que, junto ao colega vereador Marquinho da Saúde (Solidariedade), pretende visitar o Centro de Reabilitação de Itabira para verificar as dificuldades apontadas pela ativista.

“Vamos lá acompanhar, porque essas informações são muito importantes. Queremos lutar para que o serviço municipal de saúde funcione da melhor maneira possível”, comprometeu-se.

Por fim, reforçou que a fiscalização precisa ir além das datas simbólicas, cobrando avanços contínuos e estruturais. “A dor não espera. Quem convive com ela sabe o quanto é urgente ter tratamento adequado e medicamentos acessíveis”, concluiu.

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