Pandemia tem espaço para avançar mais ainda no mundo, adverte OMS. Em Itabira a disseminação do vírus já está por todos os bairros
Nesta terça-feira (30) completam seis meses que a Organização Mundial de Saúde (OMS) relatou os primeiros casos de pessoas infectadas por uma síndrome respiratória aguda grave ainda desconhecida, na cidade de Wuhan, na China, que depois passou a se chamar Covid-19, causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV2).
Já no início da doença, 800 pessoas foram infectadas, com registro inicial de 259 mortes na China. Rapidamente a doença se espalhou pelo mundo, com os primeiros registros no Japão, Tailândia, Coreia do Sul, França, Itália, Estados Unidos. Até então a informação era que essas pessoas contaminadas havia passado pela China.
Com a rápida propagação do novo coronavírus pelo mundo, em 11 de março a OMS reconheceu que se tratava de uma pandemia, ocasião em que o número de casos confirmados em todo o mundo saltou para mais de 120 mil infectados em 120 países, com o registro de 80 mil casos na China. Nessa ocasião, o número de mortes chega a 4,3 mil, com mais de 1,2 mil óbitos fora do território chinês.
Hoje já se sabe que, mesmo antes do aparecimento do novo coronavírus na China, o SARS-CoV2 já estava presente no esgoto de vários países europeus. Essa constatação desmonta a tese de que tenha sido gerado, exclusivamente, pelo consumo de animais silvestres vendidos nas feiras de Wuhan.
A constatação é importante não só para conhecer a evolução do vírus, mas também para que seja rechaçados os casos de xenofobia e preconceito contra o povo chinês.
Com a pandemia se espalhando rapidamente pelo mundo, em 4 de fevereiro o Ministério da Saúde, então sob o comando do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, decretou a Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, por meio da portaria nº188/20, após a OMS ter declarado Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional, em 30 de janeiro de 2020.
Mas mesmo com o reconhecimento da gravidade da pandemia pelo Ministério de Saúde, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desdenhou da doença. Disse que se tratava de uma “gripezinha” e, acintosamente, desafiou as autoridades de saúde de seu próprio governo, saindo às ruas sem máscara e cuidados necessários, cumprimentando e abraçando seus apoiadores.
Itabira não é uma redoma
Em Itabira, a pandemia foi chegando aos poucos, assim como as medidas de enfrentamento à doença. Em 16 de março a Unifei suspende as aulas, mesmo não tendo caso testado positivo no campus local.
Dois dias depois, o prefeito Ronaldo Magalhães (PTB) comunicou a suspensão das aulas na rede municipal por 15 dias, seguindo orientação da Secretária de Estado de Saúde. A suspensão permanece e a volta às aulas só deve ocorrer em 2021.
A Câmara Municipal, no dia seguinte, decidiu suspender as sessões legislativas. Na mesma ocasião, a mineradora Vale dispensou os empregados dos grupos de risco e manteve os que trabalham no escritório no trabalho remoto (home-office), mas sem parar a produção.
Em 18 de março o prefeito decretou o Estado de Emergência em Saúde no município, fechando o comércio e os serviços não essenciais por 40 dias.
Após esse período, mesmo já com 121 pessoas testadas positivas na cidade, e ainda sem a testagem em massa pela Vale, no dia 28 de abril Ronaldo Magalhães decidiu flexibilizar as medidas de distanciamento e isolamento social. Foi quando autorizou a reabertura de atividades não essenciais, com poucas restrições (bares, serviço à la carte nos restaurantes, academias).
A justificativa para a distensão, que não foi gradual e nem segura, segundo a secretária municipal de Saúde, Rosana Linhares foi por ter sido suficiente o tempo que durou as medidas mais restritivas para o município se preparar para o pior cenário. Esse triste cenário, felizmente, ainda não ocorreu – e espera-se que não chegue ao município, embora não se tenha uma bolha eficaz para proteger a população.
Testagem em massa
Com a testagem em massa dos empregados da Vale, iniciada no dia 18 de maio, por amostragem a cidade descobriu que o novo coronavírus já estava disseminado por todo o município – e que, mesmo antes, já havia a chamada contaminação comunitária, quando a disseminação ocorre entre as pessoas da mesma localidade.
Segundo o boletim epidemiológico dessa segunda-feira (29), o município já registra 667 casos confirmados, o que indica um crescimento exponencial da doença no município.
A boa notícia é que desses casos, 542 já estão recuperados, enquanto 121 seguem em isolamento domiciliar, com três pacientes hospitalizados e registro de um óbito. Outros 107 casos suspeitos estão sendo monitorados, com quatro pacientes hospitalizados.
Embora aparentemente a pandemia possa parecer que esteja sob controle na cidade, isso pode levar a um erro que pode ser fatal para a saúde pública. Isso por relaxar o isolamento social, com o aumento da quantidade de pessoas nas ruas, muitas com o vírus ainda que estejam assintomáticas, e mesmo com a maioria usando máscaras.
Como tem alertado as autoridades de saúde, o Brasil está no epicentro da doença, que segue o processo de interiorização, disseminando dos grandes centros urbanos para as cidades menores. É o que ocorre em Belo Horizonte, que teve de voltar atrás na flexibilização da economia, após ver crescer o número de pessoas infectadas e de mortes.
Alerta geral
Ainda nessa segunda-feira, a OMS salientou que a pandemia do novo coronavírus está longe de terminar.
E que o pior momento está para acontecer, inclusive com risco de retorno com uma nova onda de disseminação nos países onde a pandemia parecia estar sob controle.
De acordo com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em coletiva de imprensa nessa segunda-feira, após o mundo ultrapassar a marca de 10 milhões de casos confirmados e 500 mil óbitos provocados pela doença, não é hora de relaxar com as medidas restritivas.
Isso mesmo que cause mais danos duradouros à economia mundial, com o aumento do número de falências e crescimento do desemprego.
“Embora muitos países tenham feito algum progresso globalmente, a pandemia está na verdade acelerando”, advertiu Tedros Ghebreyesus, para quem a maioria das pessoas permanece suscetível à doença.
“O vírus tem muito espaço para se movimentar”, disse ele, lembrando ainda que não se tem uma vacina eficaz contra o novo coronavírus – e nem garantias de sucesso dos medicamentos para combater a doença, que pode levar à morte em poucos dias após a contaminação.
“Esse é um momento para todos nós refletirmos sobre o progresso que fizemos e as lições que aprendemos”, disse ele, ao pedir para as nações renovarem os compromissos para salvar vidas.
Portanto, todo cuidado é pouco. É preciso que as autoridades de saúde avaliem com mais precisão, e cautela, os parâmetros para flexibilizar ainda mais a economia.
A testagem em massa pela Vale, e também pela Prefeitura, indica que o vírus já está em todos os bairros da cidade – e ninguém, mesmo os jovens e sem comorbidades, está livre da doença e de suas consequências. Portanto, ficar em casa a maior parte do tempo continua sendo o melhor remédio.