Dia da Mulher Negra é lembrado na Câmara Municipal com propostas para construir uma Itabira antirracista
Foto: Raissa Leite/ Ascom/CMI
“Para um negro a cor da pele é uma sombra muitas vezes mais forte que um soco. / Para um negro a cor da pele é uma faca que atinge muito mais em cheio o coração.” (Adão Ventura, poeta de Santo Antônio do Itambé, já falecido)
“A lei de cotas no Brasil é só o início de uma reparação histórica em favor dos descendentes de pessoas negras que foram escravizadas no país”, disse a líder comunitária Maria da Conceição Leite, a Lia da Diocese, ao fazer uso da tribuna da Câmara Municipal de Itabira, nessa terça-feira (25), a convite do vereador Júlio “Contador” César de Araújo (PTB).
Foi quando se comemorou o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder quilombola que viveu no século 18, no quilombo Quariterê, nos arredores de Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso.
A data relembra o marco internacional de luta e resistência da mulher negra para reafirmar a necessidade de enfrentar o racismo e o sexismo vivido até hoje por mulheres que sofrem com a discriminação racial, social e de gênero.
“Eu, como muitas mulheres, sofri com o processo de embranquecimento, quando a minha mãe fazia de tudo para esticar o meu cabelo usando produtos químicos, que era para eu ficar parecida com a mulher branca”, recordou Lia da Diocese já no final de seu pronunciamento na tribuna da Câmara.
Segundo ela contou, quando saiu na imprensa mundial sobre os ataques racistas sofridos pelo jogador Vinicius Junior, do Real Madri, no jogo contra o Valência, em 21 de maio, pelo campeonato espanhol, sofreu muito ao recordar de ofensas semelhantes que teria sofrido o seu filho Ramon por diversas ocasiões.
“O meu filho sofreu muito por ser preto. Quando se fala na falta de segurança no país, quem toma bala são os jovens negros, que não contam com políticas públicas para tirá-los da marginalidade em que estão não porque querem, mas por falta de políticas públicas que os tirem dessa situação”, acentuou.
“O racismo dói. Só quem é mãe sabe o que isso representa quando vê o filho sendo discriminado pela cor da pele. E Isso não é vitimismo”, fez questão de frisar a ativista.
“Neste dia de julho das Mulheres Pretas, estamos ocupando esse espaço na Câmara para trazer também um pouco de nossa dor. Quero agradecer aos vereadores por terem instituído o Dia Municipal do Afrodescendente, nos colocando à disposição para construir uma agenda contra a discriminação, por uma Itabira antirracista e na valorização da mulher negra.”
De acordo com Lia, Itabira é a segunda cidade do país onde, proporcionalmente, a população se autodeclara preta e parda. “Segundo a ONU, esse percentual é de 72% da população itabirana. Só perdemos para Salvador, Bahia.”
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