Democrático e descentralizado, assim promete ser o retorno do Carnaval de Itabira para todo mundo botar o bloco na rua
Ti Murilo e a Escola de Samba Nove de Outubro, sucesso no carnaval de Itabira dos anos 1970/80
Fotos: Acervos do Cometa, Marconi Ferreira e Cristina Silveira
Tendo como tema Eu quero botar o meu bloco na rua, célebre canção de Sérgio Sampaio (1947-94), compositor brasileiro considerado “maldito”, parceiro de Raul Seixas na década de 1970, o pré e o carnaval de Itabira prometem movimentar a cidade em diferentes bairros, como também no distrito de Ipoema e no povoado Serra dos Alves, distrito de Senhora do Carmo, conforme adiantou este site.
Nada mais apropriado ter a Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA) escolhido esse tema, após os últimos anos de obscuridade que o povo brasileiro viveu, com a pandemia e com o tragicômico governo de extrema-direita – e também pela história da canção, que virou hit carnavalesco e de resistência à ditadura militar (1964-85).
Quando Sérgio Sampaio lançou a canção, na etapa brasileira do VII Festival Internacional da Canção, em 1972, num período marcado pela extrema repressão militar e censura, não se imaginava que a marcha-rancho iria virar um hino libertador, para se seguir em frente, botar o bloco na rua e não fugir da luta.
Os censores da ditadura, incultos que eram, não perceberam a sutileza da canção, na verdade um grito de liberdade. Uma das estrofes originais da canção dizia que depois de botar o bloco na rua, o povo ia ter ginga para botar pra foder. Para não ter problema com a censura, a estrofe foi mudada para “botar pra gemer”. Então, que assim também seja.
Ouça aqui:
Resistência à ditadura
A canção, segundo revelou o compositor logo após o sucesso, tornando-se a mais tocada em todo o país no carnaval de 1973, foi influenciada pelo muito que ele viu de repressão ao movimento estudantil pela ditadura militar.
Um desses acontecimentos foi o assassinato do estudante Edson Luiz Lima Souto, aos 18 anos, por um tresloucado PM que entrou atirando contra estudantes secundaristas em um restaurante no Calabouço, Rio, em 28 de março de 1968.
A sua morte desencadeou uma série de passeatas de protestos estudantis por todo o país, com Edson Luiz tornando-se ícone desse movimento que muito contribuiu para o fim da ditadura militar.
Com a redemocratização do país agora em curso novamente, nada mais oportuno do que reviver esse hit da canção popular com o retorno da festa momesca na terra de Drummond, que foi homenageado pela Estação Primeira de Mangueira, com o samba-enredo O reino das palavras, no carnaval de 1987. Oh, honra para Itabira, que “em seus versos ele tanto exaltou, com amor”.
Ouça aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=ksIDn2_GuSo
Não bastando toda essa ligação, Drummond registrou o carnaval de Itabira no tempo do Mato Dentro, na crônica Casaca Vermelha:
“Sabíamos que o carnaval estava chegando porque, semanas antes, os operários se encarregavam de anuncia-lo à noite, com o zé-pereira ensaiando ao longe, como trovoada surda.”
“Não tambores, mas caixas-de-guerra bem batidas a encher o sono dos meninos com visões carnavalescas muito acima da realidade humilde. A essência do carnaval errava no ar, prometendo-nos delírios que não avaliávamos bem em que constituiriam – carnaval imaginado, imaginário”, registrou o poeta.
Leia a crônica na íntegra aqui:
Reminiscências do poeta do carnaval de Itabira: Casaca Vermelha
Retorno descentralizado
Pois será novamente com o rufar dos tambores que o carnaval de Itabira retorna neste ano, prometendo noites e dias de esplendorosa homenagem ao rei Momo e à sua Rainha, que serão apresentados aos foliões neste sábado (28), a partir de 16h, no histórico paredão da rua Tiradentes.
A noite terá ainda apresentação musical do grupo Sambas de nosso Tempo e do grupo Candonguêro, de Ouro Preto. Na sequência, o esquenta carnavalesco seguirá com os desfiles dos blocos pré-carnavalescos, com destaques para os já consagrados Altamente e Madalena não Gosta de Poema – e mais os blocos de outras cidades que virão animar ainda mais a festa momesca em Itabira, com apresentações nos dias 10, 11, e 12 de fevereiro.
Os outros blocos que se apresentarão: E agora Môfi?, Nós que aqui estamos por vós esperamos, Calangodum e Dinossauros Rock, além da participação dos grupos Bartucada (Diamantina), Pata de Leão (BH), Domilindró (BH) e Chama o Síndico (BH), todos inscritos por meio de edital da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA).
Ala Show Itabira
Durante o tríduo momesco, que na realidade se estenderá por cinco dias/noites, com início na sexta-feira (17), arrastando-se com os foliões ainda animados até a madrugada de quarta-feira gorda (22), a Prefeitura por meio da FCCDA está apoiando folias descentralizadas.
Pelo edital, se inscreveram os bairros Pará, Campestre, Centro, Praia, Juca Batista, Candidópolis, Boa Esperança e Santa Tereza, além do distrito de Ipoema e a localidade de Serra dos Alves.
Descentralizando ainda mais a festa momesca, haverá eventos carnavalescos nos bairros Fênix, Santa Ruth, Santa Marta, Gabiroba e Caminho Novo.
Nesses bairros será desenvolvido o projeto Ala Show Itabira, uma homenagem às históricas escolas de samba que marcaram o carnaval de Itabira na década de 1980: Canto da Juriti, Nove de Outubro, Unidos da Belinha, Unidos de Itabira e Gente Humilde.
“O resultado deste Carnaval 2023 é baseado na escuta e no diálogo com os blocos e organizadores do carnaval tradicional, acrescido de ações inovadoras que estão incluídas na programação deste ano”, salienta Marcos Alcântara, superintendente da FCCDA.
Confira a programação completa do Pré-Carnaval e do Carnaval de Itabira 2023
PRÉ-CARNAVAL
28 de janeiro (sábado)
16h – Começo do evento – Ambientação Sonora
17h30 – Sambas de nosso tempo
18h30 – Final do Concurso Rei e Rainha do Carnaval 2023
20h – Show Candonguêro
10 de fevereiro (sexta-feira) – Entrega da Chave do Carnaval pelo prefeito Marco Antônio Lage
BLOCO – E AGORA MÔFI?
Saída: paredão da rua Tiradentes – Horário: 20h
BLOCO – NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VÓS ESPERAMOS
Saída: Cemitério do Cruzeiro – Horário: 21h30
SHOW – BARTUCADA (DIAMANTINA)
Espaço Circuito Blocos – (Praça do Centenário) – Horário: 23h
11 de fevereiro (sábado)
BLOCO CARNAVALESCO – MADALENA NÃO GOSTA DE POEMA
Saída: rua Ipoema, bairro Pará – Horário da concentração: 14h – Saída: 17h
SHOW – PATA DE LEÃO (BH)
Local: Espaço Circuito Blocos (Praça do Centenário) – Horário: 21h
SHOW DOMINLIDRÓ (BH)
Local: Espaço Circuito Blocos (Praça do Centenário) – Horário: 23h
12 de fevereiro (domingo)
BLOCO ALTAMENTE
Saída: Rua Coronel Linhares Guerra (rua acima da Catedral) – Horário: 14H
BLOCO CALANGODUM
Saída: Rua Coronel Linhares Guerra (rua acima da Catedral) – Horário: 16h
BLOCO DINOSSAUROS ROCK
Saída: Paredão da rua Tiradentes – Horário: 18h
CHAMA O SÍNDICO (BH)
Local: Espaço Circuito Blocos (Praça do Centenário) – Horário: 21h
CARNAVAL – Eu quero botar meu bloco na rua
17 a 21 de fevereiro
Carnaval do Pará – Local: Praça do Pará – Horário: 14h às 01h
17 a 21 de fevereiro
Carnaval do Campestre – Local: Praça do Campestre – Horário: 14h às 01h
CARNAVAL DESCENTRALIZADO
18 de fevereiro (sábado)
Carna Rock – Local: Paredão da rua Tiradentes – Horário: 14h
Carnaval de Ipoema – Local: Praça Augusto Guerra – Ipoema – Horário: 10h
CarnaPraia – Local: avenida Cristina Gazire, 1300, Praia – Horário: 15h
Ala Show Itabira- Fênix/SantaRuth: 16h
19 de fevereiro (domingo)
Mundo Mágico do Batuque no Carnaval
Local: Ginásio Polisportivo – Juca Batista – Horário: 12h
Carnaval Abre Alas
Local: rua ao lado da Igreja – Candidópolis – Horário: 14h
Carnaval da Esperança
Local: Campo do Boa Esperança – Boa Esperança – Horário: 9h
Ala Show Itabira – Santa Marta : 16h
20 de fevereiro (segunda)
Carnaval dos Alves
Local: campinho da comunidade – Serra dos Alves – Horário: 13h
Carna Santê
Local: Praça Sebastião Damásio – Santa Tereza – Horário: 13h
Ala Show Itabira – Gabiroba: 16h ;
21 de fevereiro (terça)
Samba da Resenha
Local: av. Duque de Caxias n° 812 – Esplanada da Estação – Horário: 14h
Ala Show Itabira- Caminho Novo: 16h
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