Demissão de Cátia Porto na Vale após polêmica sobre cultura woke reacende debate sobre diversidade corporativa

Foto: Reprodução

Mineradora reafirma em nota compromisso com inclusão após saída da vice-presidente de Pessoas

A Vale demitiu a vice-presidente executiva de Pessoas, Cátia Porto, após permanecer apenas dez meses no cargo. A decisão ocorre meses depois de uma série de postagens polêmicas feitas pela executiva em suas redes sociais, nas quais ela criticava políticas de diversidade e exaltava um novo paradigma corporativo centrado em mérito, excelência e inteligência, o chamado movimento MEI (Mérito, Excelência e Inteligência).

Segundo reportagem publicada em 3 fevereiro de 2025 pela Capital Reset, comentada e em parte reproduzida neste site, Porto utilizou os stories de sua conta no Instagram, quando defendeu políticas de recursos humanos focadas na meritocracia e excelência, em detrimento das ações de diversidade. Em quatro postagens, ela afirmou que “performance é o nome do jogo agora” e que a “cultura woke” estaria perdendo espaço nas empresas.

A executiva citou uma reportagem do Wall Street Journal intitulada O equilíbrio do poder volta a pender para o lado dos chefes, para justificar o endurecimento das políticas de trabalho presencial e a redução de benefícios corporativos.

Porto apresentou o movimento MEI como substituto das atuais políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), sugerindo que o foco deveria ser em desempenho e habilidades intelectuais, e não em ações afirmativas.

As declarações geraram forte repercussão interna, com empregados da mineradora preocupados sobre uma possível reversão dos compromissos assumidos pela Vale desde 2019.

Reprodução de postagem no Instagram
O que é a cultura woke?

O termo “woke”, derivado do inglês awake (“desperto”), surgiu como expressão usada por ativistas negros nos Estados Unidos para indicar consciência sobre injustiças raciais. Com o tempo, evoluiu para abranger uma ampla sensibilidade social, incluindo pautas de gênero, direitos LGBTQIA+, justiça ecológica e combate às desigualdades estruturais.

A cultura woke passou a representar um conjunto de valores que promovem inclusão, equidade e representatividade. No entanto, também se tornou alvo de críticas, especialmente por setores conservadores, que a associam à “cultura do cancelamento” e à suposta fragilidade das políticas de inclusão.

No contexto corporativo, essa cultura tem influenciado políticas de diversidade e ações afirmativas, mas também gerado resistência por parte de executivos que defendem modelos mais tradicionais de gestão.

Reação da Vale e reafirmação pública

Após a repercussão das postagens e o desligamento de Cátia Porto, a Vale divulgou nova nota à imprensa reafirmando seu compromisso com a inclusão. A empresa declarou:

“A companhia acredita que a pluralidade aprimora a capacidade de trazer novas soluções para o negócio, gera mais engajamento e contribui para a inovação, a performance e a eficiência. Nosso objetivo é criar um ambiente em que todos, independentemente de origem, identidade ou experiência, sintam-se valorizados e tenham oportunidades iguais de desenvolvimento.”

Essa declaração reforça que, apesar da polêmica, a mineradora mantém sua agenda de diversidade como prioridade estratégica. A saída de Porto, embora não oficialmente atribuída às postagens, é vista como um gesto claro de alinhamento institucional com os valores de inclusão.

Compromissos públicos e metas de representatividade

Desde 2019, a Vale tem adotado metas ambiciosas para ampliar a representatividade em seus quadros.

Em 2024, a empresa dobrou a presença de mulheres em sua força de trabalho, passando de 13% para 26%, e estabeleceu como meta alcançar 40% de pessoas negras em posições de liderança até 2026. Atualmente, esse percentual está em 37%.

Essas metas foram reafirmadas mesmo após a repercussão das declarações de Porto, o que reforça a leitura de que sua demissão representa não apenas uma mudança de liderança, mas uma reafirmação institucional da mineradora em favor da inclusão.

Meritocracia versus equidade

A defesa da meritocracia como substituto das políticas de inclusão tem sido alvo de críticas por desconsiderar os obstáculos históricos enfrentados por grupos marginalizados. Sem ações afirmativas, o mérito pode se tornar apenas uma fachada, pois não é razoável esperar que todos tenham as mesmas condições de competir em um ambiente profundamente desigual.

A demissão de Cátia Porto, nesse contexto, pode ser interpretada como um gesto simbólico da Vale em direção ao fortalecimento de uma cultura corporativa mais plural e equitativa, em contraste com o posicionamento da ex-executiva.

*Com informações da Folha de S.Paulo, O Globo/Lauro Jardim e Capital Reset.

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