Crime sem castigo: seis anos sem justiça para as vítimas da Vale em Brumadinho

Foto: Reprodução/
Corpo de Bombeiros

Colapso de barragem da mineradora em Brumadinho continua sem julgamento pelas mortes e pelo maior desastre ambiental da mineração no País

Às 12h28 do dia 25 de janeiro de 2019, a negligência e omissão criminosa levaram à ruptura da barragem 1 de Córrego do Feijão, em Brumadinho, matando 272 trabalhadores, moradores e turistas, incluindo dois bebês de mulheres que estavam grávidas.

Passado todo esse tempo, ninguém da Vale, dona da barragem, ou da empresa alemã TÜV Süd, que atestou a estabilidade da estrutura mesmo sabendo que havia graves problemas estruturais que levaram ao colapso, foi julgado e condenado.

Ou seja, pela morosidade da justiça, o crime continua sem castigo. E nem mesmo as ações de reparação dos danos ambientais, outro crime, avançaram como deveriam ter ocorrido mesmo com todo clamor popular e nacional.

Homenagem às vítimas 

A lama carregada de rejeito de minério soterrou vítimas e causou danos ambientais irreversíveis (Foto: Reprodução/Corpo de Bombeiros)

Neste sábado (25), Brumadinho vai homenagear as vítimas e cobrar por justiça e reparação. O rompimento da barragem da Vale, liberou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério despejados no leito do rio Paraopeba, afetando as vidas de centenas de milhares de pessoas, soterrando comunidades inteiras, destruindo o meio ambiente.

Seis anos depois, a dor da perda e a luta por justiça permanecem vivas, assim como os impactos causados à saúde e à vida da população local.

Para marcar a data e manter viva a memória das vítimas, diversas atividades serão realizadas na comunidade do Córrego do Feijão.

As homenagens começam com uma caminhada pela comunidade, em lembrança dos que perderam suas casas, seus entes queridos e a própria identidade de um lugar que, para muitos, era lar, local de convivência e afeto.

Em seguida, será realizada uma missa em memória das vítimas, um momento de acolhimento e solidariedade para aqueles que carregam as marcas dessa tragédia.

Pontualmente às 12h28, horário exato do rompimento da barragem, 272 badaladas do sino ecoarão na Igreja Nossa Senhora das Dores, paróquia São José do Paraopeba, em Brumadinho.

Resgate de vítima sobrevivente pelo Corpo de Bombeiros (Foto: Reprodução/TV Record)

Persistência da impunidade

O crime em Brumadinho não foi um caso isolado. Grandes mineradoras continuam devastando territórios, explorando recursos sem a devida responsabilidade ambiental e social, e colocando populações inteiras em risco.

Mariana, Brumadinho e tantas outras tragédias mostram um padrão de impunidade e descaso que não pode continuar.

“É preciso exigir das empresas e do Estado políticas rígidas de fiscalização e prevenção, garantindo que vidas humanas e ecossistemas não sejam sacrificados em nome do lucro”, cobra o Instituto Guaicuy, que assessora as comunidades atingidas na luta por reparações individuais e coletivas.

Memorial em homenagem às vítimas na ALMG com trecho do poema Lira Itabirana, de Carlos Drummond de Andrade (Foto: Guilherme Dardanhan/ALMG)

Homenagem na Assembleia

Em ato que vai acontecer neste sábado, às 12h28, hora exata do homicídio coletivo causando pelo colapso da barragem, a  Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) presta homenagem às vítimas.

Neste horário, em sinal de luto pelas 272 pessoas mortas pela lama de rejeitos da barragem, as bandeiras de Minas Gerais e de Belo Horizonte serão arriadas a meio mastro.

Por iniciativa da Assembleia, a data de 25 de janeiro foi instituída como o Dia de Luto em Memória das Vítimas do Rompimento da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, ocorrido em 2019, em Brumadinho”, conforme a Lei 23.590, de 2020.

A lei prevê que as bandeiras das repartições públicas do Estado permanecerão hasteadas a meio mastro, sendo realizado um minuto de silêncio nos eventos oficiais. Ainda na ALMG, em 2020, foi inaugurado pelo parlamento mineiro o memorial em homenagem às vítimas, também no Espaço Democrático José Aparecido de Oliveira, que deve receber coroa de flores no ato deste sábado (25).

Como forma de honrar os mortos pelo rompimento da barragem, o memorial traz os nomes das vítimas e um trecho do poema Lira Itabirana, de Carlos Drummond de Andrade, publicado originalmente no jornal O Cometa Itabirano, no qual o poeta indaga: “O rio? É doce. A Vale? Amarga. Quantas toneladas exportamos de ferro? Quantas lágrimas disfarçamos sem berro?”.

 

Posts Similares

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *