Crime de feminicídio na Serra dos Alves é lembrado no lançamento dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher

O assassinato da adolescente N.M.S, 14 anos, no dia 12 de novembro, na Serra dos Alves, distrito de Senhora do Carmo, foi lembrado pelo professor João Lucas da Silva, da Unifei, que residiu no povoado por algum tempo, por ocasião do lançamento, na segunda-feira (25) , no fórum Desembargador Drummond, da campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher.  Leia também aqui.

João Lucas, professor da Unifei, lembrou que o feminicídio é reflexo de uma estrutura social que naturaliza a violência contra as mulheres e criminaliza as vítimas (Fotos: Carlos Cruz)

“Ouvimos aqui números que tendem a mostrar mudanças de comportamento em Itabira, mas ocorreu o feminicídio de uma adolescente na Serra dos Alves, que foi brutalmente assassinada, um reflexo de nossa estrutura social que naturaliza a violência contra as mulheres e criminaliza as vítimas”, fez questão de registrar o professor da Unifei.

João Lucas leu um poema, de sua autoria, que homenageia a vítima – e é também um protesto veemente contra o feminicídio e a ausência do Estado, que tem a obrigação constitucional de garantir a segurança e a vida dos cidadãos.

“Por que não cuidamos melhor de você? (…) Lentamente, minha visão vai se tornando mais nítida. Com a nitidez, vou vendo que esse sentimento deve ser transformado em força para lutar, para que novas Nats não tenham o mesmo destino. (…) Adeus Nat… que doloroso adeus. Que inesperado adeus. À Deusa, pedimos que lhe abençoe. À Mãe Terra pedimos que lhe receba em seu ventre (…).”

Apoio psicológico e social

A coordenadora da Comissão de Enfrentamento da Violência contra a Mulher, Margarida Guerra, reconheceu que tem faltado políticas públicas no povoado. Como exemplo dessa ausência, ela citou o programa Conexão Jovem, voltado para crianças e adolescentes, para que possam entender melhor o local onde vivem como forma de prevenção e conscientização das vicissitudes da vida em sociedade, muitas vezes violenta contra a infância e a adolescência, como também em relação à mulher.

Margarida da Guerra disse que está sendo preparado um plano de ação de apoio à comunidade de Serra dos Alves

“Estamos elaborando um plano de ação de fortalecimento das pessoas na comunidade e os cuidados que devemos ter com elas”, disse a coordenadora, mas sem detalhar como será essa política pública. Apenas adiantou que está sendo programada para a comunidade a realização de sessões de terapia comunitária.

Já a secretária de Ação Social, Marli de Oliveira Martins Rosa, disse que apenas a mãe da adolescente tinha acompanhamento médico, por meio do PSF de Senhora do Carmo, que fica a 15 quilômetros do povoado.

“Infelizmente não chegamos antes (de ocorrer o feminicídio) por vários fatores, principalmente por que a comunidade de Serra dos Alves não nos relatou qualquer situação que colocasse em risco a vida da menor”, assim ela tentou justificar a ausência do Estado no povoado, no caso das políticas públicas que deveriam ser implantadas pela Prefeitura – e também pela rede de proteção à mulher.

“Que esse trágico acontecimento sirva de reflexão para que outras mulheres não se tornem novas vítimas”, afirmou. “Temos que cuidar das pessoas do povoado, da família dessa menina. Para isso estamos preparando um plano de ação focado na prevenção e na promoção humana”, disse ela, salientando que a violência doméstica e a exploração sexual infantil são silenciosas – e ocorre muitas vezes dentro de casa, entre familiares.

O que não se pode aceitar é o Estado, no caso a Prefeitura, se eximir de suas responsabilidades indiretas que tem nesse caso de infanticídio no povoado de Serra dos Alves. Jogar a culpa no silêncio dos familiares e dos moradores não é a melhor forma de justificar essa omissão que se revelou trágica.

É preciso aprofundar a análise do ocorrido, mudando esse cenário de ausência de políticas públicas de proteção e assistência aos moradores em todo o município, incluindo os pequenos povoados – e não só na cidade.

 

 

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1 Comentário

  1. e talvez seja, necessário voltar no passado histórico do território, tempo não tão distante, para cicatrizar a dor do abandono e da discriminação social. e música, muita música pra fazer a cabeça erguer.

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