Conheça De Morais, o garrucheiro autor de Oh! Minas Gerais

De Morais e Doquinha, as duas figuras da Tamoio numa pose artistica. Ele toca e ela canta e assim formam uma dupla interessante.

Fotos: Biblioteca Recanto Caipira
Pesquisa: Cristina Silveira

Uma dupla caipira diferente! De Morais e Doquinha, as duas figuras da Tamoio – correndo mundo para conquistar ouvintes – o antigo companheiro de Xerém

Por Wilson Brown

A trajetória dos artistas de rádio nem sempre é idêntica. Há variações dignas de nota, como a que ocorreu com esse conhecido caipira De Morais, artista exclusivo da Rádio Tamoio, e que no momento vem fazendo o quadro Rancho dos Violeiros, com Doquinha (Hermelinda  Afonso dos Santos), também especialista no gênero. Ambos se destacam, aliás, ao lado de Zé do Norte e outros.

Como dizíamos, deu-se fato diverso com De Morais, na sua escalada para a fama. Aos 16 anos trabalhou como laminador na Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira em Sabará (MG) e apresentou-se cantando e tocando violão no Clube Cravo Vermelho, instituição recreativa para os funcionários da siderúrgica. Integrou também o regional do clube e foi seu diretor musical.

Por onde muitos acabam, foi que ele começou: em 1938 na Rádio Mineira de Belo Horizonte, esse consagrado cantor e compositor sertanejo era nada menos que o diretor artístico. A vida, porém, não deixa explicações para muitas coisas…

Um ano depois, tentado pelas glórias de vir atuar no rádio metropolitano, transferiu-se, como artista, para o Rio, onde se iniciou no cast da Tupi, animando Noite na Roça, com Antenógenes Silva, um dos seus constantes parceiros musicais.

Da PRG-3 passou-se para a Mayrink Veiga dos áureos tempos, em 1943, constituindo a dupla Xerém e De Morais. Após o grande sucesso ali conquistado, o artista atuou, a convite, em diversas apresentações da Hora do Brasil, em que cantava composições originais e modinhas do nosso folclore.

Na PRA-9, permaneceu até 1947, quando passou a ter como patner Doquinha, sua atual companheira, com quem realizou excursões pelo país, e gravações recentes na Odeon. Alcançaram De Morais e Duquinha os melhores êxitos nas visitas realizadas às cidades principais do Norte de Minas, Espirito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.

A correspondência da dupla sertaneja é das mais volumosas e procede de todo o país. Lemos diversas cartas dirigidas ao casal de artistas, e pudemos notar que os seus admiradores do interior formam uma legião entusiasta desse gênero tão pouco cultivado nos grandes centros: o tema regional, o motivo caboclo, autenticamente nacional, profundamente ligado à índole de nosso povo. São cartas animadoras as que lhe chegam de Pernambuco, Minas, Goiás, Bahia, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e outros estados brasileiros.

De Morais e Doquinha, entretanto, pouco tempo ocupam na Hora Sertaneja. Apenas um quarto de hora desse programa. Em face do grande número de missivas que recebem, é de ver-se que sua popularidade é grande, e o agrado, geral. Precisam de maior período para satisfazer por completo o público ouvinte.

Se não fora o sucesso da sua audição de todo dia, bastaria dizer-se que De Morais é autor de inúmeros grandes êxitos musicais, com a marchinha que ficou famosa, Olha a Cobra Fumando, feita em homenagem aos pracinhas brasileiros, durante a última guerra.

Recentemente, compôs: Linda Curitibana, Não Posso Esquecer, Chega de Tanto Sofrer, Adeus Mãezinha e João Tropeiro, todas gravadas por ele, com Antenógenes Silva, e Doquinha. Alcides Gerardi conta em seu repertório com uma composição de autoria de De Morais, que alcançou repercussão: Deusa da Beleza.

De Morais nasceu na velha cidade de Santa Maria de Itabira do Mato Dentro, palco de um dos melhores romances do escritor Cornélio Penna, em Minas Gerais. Conta 38 anos de idade, e já homenageou sua terra, adaptando versos a celebre canção napolitana,  Vieni Sul Mar.

Tem planos como todo artista que se preza: pretende excursionar pelo Brasil adentro, visitando os mais distantes rincões, juntamente com a sua companheira, atendendo assim aos muitos pedidos que lhe chegam dos fãs do interior, e que o ouvem religiosamente todos os dias.

[Revista do Rádio, 29/8/1950. Pesquisa BN-Rio]

De Moraes, autor do “hino” Minas Gerais

Discurso do deputado Paulo Delgado na Câmara dos Deputados. Brasília, 27 de novembro de 2002.

O cantor, violonista e compositor José Duduca de Moraes, o De Moraes (nascido em 19/03/1912, em Santa Maria de Itabira, MG), morreu na noite de segunda-feira, 25 de novembro de 2002, em Juiz de Fora. De Moraes havia completado 90 anos, em 19 de março de 2002, superando desafios. O compositor estava internado na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora e morreu de fibrilação ventricular devido a insuficiência coronariana (falência cardiorrespiratória). O corpo do compositor foi velado na Câmara Municipal de Juiz de Fora.

Sua maior criação, o hino popular dos mineiros “Oh! Minas Gerais” (letra: De Moraes com arranjo de Manezinho Araújo e De Moraes) completou 60 anos de gravação, em 9 de março de 2002, e o compositor foi homenageado por João Gilberto numa emocionada interpretação durante show no Minascentro, em Belo Horizonte. O hino completou 60 anos de lançamento em maio.

De Moraes enfrentava problemas de saúde, contando com o apoio da mulher Norberta Nobre de Moraes e de amigos. Redescoberto em Juiz de Fora (MG) pobre e doente, em dezembro de 1997, pelo jornalista e pesquisador Jorge Sanglard, que ajudou a resgatar parte de sua obra em CD, De Moraes permanecia um exemplo do descaso nacional com os expoentes da velha guarda da era do rádio. De Moraes ganhou um alento com o esforço que vinha sendo feito em Minas para valorizar sua obra musical e para o resgate de sua cidadania cultural, mas continuava sofrendo com o crônico problema dos direitos autorais.

A edição do CD “De Moraes”, pela Allca Music, e produzido por Cléber Camargo Rodrigues, recuperando 14 faixas originais do repertório do autor mineiro e de seus parceiros, a partir de antigos discos de 78 rpm lançou um feixe de luz sobre o compositor e abriu perspectivas para uma série de homenagens, contribuindo para o reconhecimento de sua importância.

Fruto de intensa pesquisa e da determinação em resgatar sua obra, as composições do CD foram transferidas para a linguagem digital preservando a qualidade original e revelam um autor que marcou sua época, apesar de ter caído no esquecimento, a partir de meados dos anos 60, e de sequer ser citado devidamente nas principais enciclopédias de música brasileira no mercado. De Moraes passou a integrar o “Dicionário Albin de MPB”, sob coordenação do jornalista e pesquisador Ricardo Cravo Albin, num verbete elaborado pelo jornalista e pesquisador Jorge Sanglard.

Criador da letra de uma das composições mais executadas no Estado, e sucesso em todo o Brasil, nos últimos 60 anos, o “hino” popular dos mineiros, Minas Gerais, De Moraes estava aposentado, não andava sem a ajuda da mulher, Norberta Nobre de Moraes, com quem estava casado há 40 anos, e ainda reunia forças para denunciar a situação de pobreza a que estão submetidos muitos compositores brasileiros, vítimas da ciranda dos direitos autorais.

Em Juiz de Fora, o reconhecimento da importância da obra de De Moraes ajudou a chamar a atenção para a situação vivida pelo compositor. A Câmara Municipal por solicitação do vereador Flávio Cheker, concedeu o título de cidadão honorário e a Prefeitura homenageou De Moraes, em 31 de maio de 1998, data do aniversário da cidade, com a Comenda Henrique Halfeld.

O resgate de parte da obra musical de De Moraes em CD revela o apoio à luta do compositor e de sua companheira por uma sobrevivência com respeito e dignidade. O governador Itamar Franco, no final de 1999, entregou em nome de Minas Gerais uma placa a De Moraes, onde reconheceu a importância da obra do compositor: “Jamais esqueceremos que você nos ensinou o grande hino de amor a Minas Gerais. Por ocasião do lançamento do seu CD, receba as homenagens cordiais do povo mineiro”, enfatizava a placa.

O CD foi editado com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura de Minas, da Prefeitura de Juiz de Fora, através da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage – Funalfa, da Prefeitura de Itabira, através da Fundação Carlos Drummond de Andrade,  da Prefeitura de Santa Maria de Itabira e da Comig.

Um dos recordistas de vendagem da Odeon, entre 1941 e 1956, De Moraes foi autor de cerca de 200 composições, com destaque nacional, principalmente, para Minas Gerais, Linda Curitibana, Mulher que não me dá sossego e Saudades eu tenho (sua primeira gravação na Odeon, em 1941, tendo como acompanhantes o parceiro Antenógenes Silva, o “Mago do Acordeon” (nascido em Uberaba em 30/10/1906 e falecido no Rio de Janeiro em 9/3/2001) e a cantora mineira Dulce Fagundes (que também foi reencontrada em Belo Horizonte). Com a música Adeus, Porteira Velha, de Antenógenes Silva, De Moraes alcançou o sucesso, cantando com Nair Rodrigues (que vive no Rio de Janeiro), em gravação da Odeon (12.007a).

Um dos primeiros compositores a atuar, após a fundação da União Brasileira de Compositores (UBC), na defesa dos direitos autorais, deu início à sua trajetória artística, em 1935, na rádio mineira PRC-7 (hoje desativada) e destacou-se na Rádio Tamoio, no Rio de Janeiro, no início dos anos 40, onde atuou por mais de seis anos no programa “Hora Sertaneja”, no quadro “Rancho dos Violeiros”.

Expoente da “velha guarda” do rádio brasileiro, De Moraes formou com Xerém (Pedro de Alcântara Filho, nascido em Baturité, Ceará, em 5 de agosto de 1911, e falecido no Rio de Janeiro em 1982), uma das mais importantes duplas regionais do país, entre 1943 e 1950. Com a cantora Doquinha (Hermelinda Afonso dos Santos, nascida em Capivari, Estado do Rio, e que começou a atuar no Rádio em 1947) formou, a partir de 1950 e até 1962, outra importante dupla regional.

Logo que chegou ao Rio de Janeiro, vindo de Belo Horizonte, o cantor, violonista e compositor demonstrava saudade dos tempos vividos em Minas e, por sugestão do parceiro pernambucano Manezinho Araújo (Manoel Pereira de Araújo, 27/09/1910 – 23/05/1993), que se encantara por Belo Horizonte durante suas visitas, De Moraes escreveu a letra da composição Minas Gerais.

Inspirado pela beleza e pelo sucesso da valsa Vieni sul Mar (Venha Para o Mar), lançou mão da melodia para articular sua homenagem a Minas Gerais. Assim, com letra de De Moraes e um novo arranjo, assinado por De Moraes e Manezinho Araújo, a canção Minas Gerais foi gravada pela dupla com a participação de Antenógenes Silva e seu conjunto, como o lado B do disco de 78 rpm, número 12.143, matriz número 6919, na Odeon, em 9 de março de 1942. O lançamento aconteceu em maio de 1942. No lado A, outro sucesso reunindo De Moraes e Manezinho Araújo, Gavião do Mar.

O compositor ainda guardava cópia da partitura original de Minas Gerais, com o número de catálogo 129, registrada pela Editora Musical Brasileira, em 1942, na Escola Nacional de Música da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. O registro integra o livro “Discografia Brasileira” (78 rpm), volume 2, edição Funarte, de 1982, trazendo gravações entre 1902 e 1964, de autoria de Alcino Santos, Gracio Barbalho, Jairo Severiano e M. A. de Azevedo. E ainda foi possível recuperar entre os pouquíssimos discos que De Moraes preservou um 78 rpm com a gravação original destas duas canções, que integram o CD que resgata parte de sua obra.

Manuseando um antigo álbum de recortes, De Moraes recordava a época de ouro do rádio e fazia questão de ressaltar a amizade com Francisco Alves (19/08/1898 – 27/09/1952), o saudoso Chico Viola. Foi por sugestão de Francisco Alves que a dupla De Moraes e Doquinha surgiu, após um encontro na saída do Jockey Club Brasileiro.

Entre inúmeras matérias de jornais e revistas, o compositor ainda guarda um álbum de figurinhas intitulado “Figuras do Rádio”, da Editora Minerva, e os selos de seus três primeiros discos de 78 rotações, gravados pela Odeon. Além de Minas Gerais e Gavião do Mar, De Moraes registrou as toadas sertanejas Vida de Roceiro (12008A) e Adeus Mariquita (12008B) e a valsa Casamento de Joaninha (12068A) e o samba Levanta Balbina! (12068B).

Depois de entrar em contato com De Moraes e Norberta e de vasculhar todos os vestígios da trajetória do compositor mineiro, recorrendo à ajuda de pesquisadores de todo o país, Jorge Sanglard deixou evidente a importância de De Moraes como um dos expoentes da era do rádio.

A partir destes contatos, foi possível conseguir resgatar a gravação original de Minas Gerais, de 9 de março 1942, com De Moraes, Manezinho Araújo e Antenógenes Silva, assim como a gravação realizada no início da década de 1910 por Eduardo das Neves, saudando o encouraçado Minas Gerais, e uma importante parte dos registros de De Moraes documentados em 1987, pelo pesquisador musical Alfredo Valadares, para o Museu da Imagem e do Som de Sete Lagoas (MG).

O pesquisador Alfredo Valadares, diretor do Museu da Imagem e do Som de Sete Lagoas (MG), que realizou um amplo levantamento da obra de De Moraes, enfatiza a necessidade do reconhecimento do valor musical do compositor mineiro. Há mais de uma década sem notícias de De Moraes, Alfredo Valadares tomou conhecimento do agravamento de seu estado de saúde e de seu protesto em relação às quantias irrisórias recebidas trimestralmente, como pagamento por direitos autorais de execução pública, a partir das denúncias veiculadas pela imprensa.

O pesquisador ressalta que o resgate de De Moraes, como um dos importantes compositores nascidos em Minas, é um compromisso de dignidade que o Estado deve assumir. Ao lamentar a precariedade das condições de saúde e de sobrevivência de De Moraes nos último anos, Alfredo Valadares não deixa por menos: “É como o país trata seus valores musicais mais expressivos, já pensou como estão os que não conseguiram se projetar como o De Moraes?”.

A verdadeira história do “hino” popular mineiro, a valsa Minas Gerais, com letra de De Moraes, foi revelada pela primeira vez, por Alfredo Valadares, em agosto de 1987, em reportagem do “O Ateneu”, de Sete Lagoas. Segundo o pesquisador, supostamente de origem italiana, a canção seria escocesa. Há mais de um século, os escoceses conhecem uma música intitulada Two Lovely Black Eyes (Dois Adoráveis Olhos Negros), muito cantada e executada pelas bandas de música das ilhas britânicas, num ritmo que lembra os dobrados brasileiros.

Mesmo não sendo conhecido o nome de seu autor, sabe-se que foi levada à Itália e o compositor Vergine, segundo algumas fontes, fez uma adaptação da canção para o ritmo de valsa e com uma letra em italiano. Assim, Vieni sul Mar (Venha Para o Mar) passou a ser cantada pelos maiores tenores da Itália e conquistou as paradas de sucessos em diversos países, entre os quais o Brasil.

O pesquisador Jairo Severiano levanta ainda outra hipótese, lançando mão do livro “A History of Popular Music in America”, de Sigmund Spaeth, publicado pelo The Jazz Book Club by arrangement with Phoenix House, London, 1961, onde afirma que, em 1883, o irlandês William J. Scanlan lançou seu sucesso mais duradouro: “My Nellie’s Blue Eyes”.

Spaeth assegura que, lamentavelmente, é preciso dizer que seu coro de valsa era paralelo à canção folclórica veneziana “Vieni sul Mar”, que também aparece na canção inglesa “Two Lovely Black Eyes”.

Na verdade, enfatiza Sigmund Spaeth, esta melodia abre com uma das frases musicais mais comuns, imitada muitos anos depois por “Nobody But You”, tendo um de seus primeiros melhores exemplos em uma canção de ninar atribuída a Mozart. Essencialmente é o padrão da escala descendente tritônica de “Three Blind Mice”.

Jairo Severiano ressalta que esta mesma escala descendente é utilizada na frase inicial da marchinha “Balancê” com uma nota a mais intercalada (de autoria de João de Barro – Braguinha – e Alberto Ribeiro, gravada em disco Odeon em 19/11/1936 por Carmen Miranda e lançada em janeiro de 1937, no Carnaval. Em 1979,  Gal Costa gravou “Balancê” em LP Philips).

Entre 1909 e 1912, a valsa Vieni sul Mar já era bem difundida entre os brasileiros, quando o ator, compositor e cantor negro Eduardo das Neves (1874/1919), criou uma letra em português, usando a melodia trazida da Itália, para exaltar a chegada ao Rio de Janeiro, em 17 de abril de 1910, do imponente encouraçado de guerra inglês adquirido pela Marinha brasileira.

Batizado Minas Gerais, o encouraçado foi saudado por Eduardo das Neves, autêntico cronista dos fatos do Rio de Janeiro, segundo o pesquisador Almirante (Henrique Foreis Domingues, 19/02/1908 – 21/12/1980), com uma versão da valsa Vieni sul Mar, intitulada Minas Gerais. O gigante do mar, o Minas Gerais, inspirou a primeira versão brasileira para a música.

Alfredo Valadares assegura que, apenas em 1942, surgiu a primeira gravação de Minas Gerais com a letra homenageando o estado de Minas Gerais, de autoria de De Moraes: “Ó Minas Gerais / Ó Minas Gerais / Quem te conhece não esquece jamais / Ó Minas Gerais…”.

O registro de 1942, do copyright para todos os países do mundo, foi realizado pela Editora Musical Brasileira (número de catálogo 129), na Escola Nacional de Música da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. A partir daí, outras letras foram criadas, ora também saudando Minas ora fazendo referência a uma temática variada.

Ainda segundo o pesquisador de Sete Lagoas, em 1945, três anos após a gravação de De Moraes e Manezinho Araújo, o também mineiro Paulo Roberto (José Marques Gomes, 1903/1973), que era médico, poeta e radialista, criou outra letra, mais longa, exaltando Minas Gerais e lançando mão da valsa Vieni sul Mar (a gravação foi realizada pelo cantor Roberto Paiva, acompanhado pelo coro dos Apiacás, como lado B do disco 15.336, da Continental): “Oh! Minas Gerais / Oh! Minas Gerais / Quem já te viu não esquece jamais. Oh! Minas Gerais…”. Mas esta segunda letra para Minas Gerais não obteve o sucesso da composição de De Moraes, mais simples e direta. A letra de De Moraes para Vieni sul Mar acabou se transformando no autêntico hino popular mineiro.

O pesquisador musical mineiro José Silas Xavier afirma que o letrista Haroldo Barbosa fez uma outra versão para Vieni sul Mar, mas sem qualquer alusão aos versos de Eduardo das Neves, de De Moraes, ou de Paulo Roberto. Esta versão foi cantada, mas não registrada em disco, por Francisco Alves. Somente em 1987, uma gravação da Rádio Nacional, foi resgatada e editada pela Collector’s no LP Francisco Alves Inédito. E a cantora lírica mineira, Maria Lúcia Godoy, gravou uma versão de sua autoria.

Ironicamente, De Moraes foi reencontrado quando um funcionário da Rede Globo, em Juiz de Fora, comentou na redação, depois de ver pela TV um anúncio de final de ano do Governo de Minas, em dezembro de 1997, que o autor da canção utilizada no anúncio era vizinho de sua irmã, no bairro Santo Antônio, na periferia de Juiz de Fora, e estava abandonado, pobre e doente. A partir daí, Jorge Sanglard passou a pesquisar e a fazer um levantamento da vida e da obra do compositor.

O único bem adquirido pelo compositor com recursos vindos da música, em seus 90 anos de vida, é uma casa no bairro Santo Antônio. Mas, desde 1997, De Moraes e Norberta foram obrigados a alugar a casa e passaram a viver nos fundos, em alguns pequenos cômodos construídos precariamente. O aluguel e a aposentadoria são as únicas fontes de subsistência. Afinal, os direitos autorais, recebidos trimestralmente, não dão para quase nada, lamenta o compositor.

O produtor musical Cleber Camargo Rodrigues, da Allca Music, de Itabira, ajudou a articular, durante um ano e meio, o projeto de resgate da obra musical de De Moraes e o primeiro passo foi o CD “De Moraes”, com 14 composições do músico retiradas dos originais de 78 rpm.

O CD foi distribuído para pesquisadore e a imprensa nacional e a venda foi revertida para De Moraes e Norberta. Aos poucos, o sorriso voltava a brilhar no rosto do velho De Moraes e de sua companheira Norberta. Depois de tanto descaso e omissão, alguma coisa estava mudando na vida difícil e sofrida do compositor de Minas Gerais.

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