Confira lista de vexames do presidente Bolsonaro nos Estados Unidos

Rafael Jasovich* 

* Sem máscara, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desembarca na cidade de Nova York, nos Estados Unidos, para falar em nome do Brasil na abertura da 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira.

* Para não ser hostilizado por manifestantes, reunidos em frente ao hotel onde ocupa uma suíte cuja diária vai de 6 mil a 10 mil reais, ele entra pela porta dos fundos.

* Por não ter sido vacinado contra a Covid-19, é visto poucas horas depois comendo um pedaço de pizza na calçada de uma rua próxima ao hotel. (foto em destaque, reprodução do Instagram).

Segunda-feira, 20/9, de manhã

* Bolsonaro reúne-se com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, na residência oficial do cônsul-geral do Reino Unido. Ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que o acompanha, o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria do Governo, havia recomendado: “Ponha o pau na mesa”.

Quis dizer: aperte Boris para que seu governo forneça mais vacinas ao Brasil. Não se sabe se Queiroga atendeu ao conselho. Sabe-se que o primeiro-ministro perguntou a Bolsonaro se ele havia sido vacinado. Bolsonaro respondeu: “Ainda não”. Em seguida, comentou: “Eu já tive Covid. Sou um homem que vivo no meio do povo”.

Boris já teve Covid, quase morreu, vacinou-se duas vezes e também vive no meio do povo. Aos jornalistas que presenciaram a cena, e indiretamente a Bolsonaro, Boris prescreve: “Vacinem-se, vacinem-se. A AstraZeneca é uma vacina excelente”. A AstraZeneca foi desenvolvida pela Universidade de Oxford.

* O prefeito de Nova York, Bill De Blasio, do Partido Democrata, divulga nota em que afirma:

“Precisamos mandar uma mensagem a todos os líderes mundiais, especialmente a Bolsonaro, do Brasil, de que se você pretende vir aqui, você precisa ser vacinado. E se você não quer ser vacinado, nem venha, porque todos devem estar seguros juntos. Isso significa que todo mundo deve estar vacinado”.

Segunda-feira, à tarde

* Como não pode frequentar locais fechados porque não usa máscara nem foi vacinado, Bolsonaro e sua comitiva almoçam isolados em um puxadinho ao ar livre especialmente montado para eles em uma churrascaria que serve carnes do Brasil.

* Um diplomata que integra a comitiva de Bolsonaro testa positivo para a Covid-19. Seu nome não foi revelado. Está isolado em um quarto de hotel até que seja submetido a outro teste. Pessoas que tiveram contato com ele estão sendo rastreadas. São cerca de 30, entre brasileiros e estrangeiros.

* O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o Zero Três, é vaiado quando fazia compras na Apple Store da 5ª Avenida, uma das lojas mais famosas do mundo.

Segunda-feira, à noite

* Um caminhão com três telões circula pelas ruas exibindo mensagens como “Bolsonaro is burning the Amazon” (Bolsonaro está queimando a Amazônia), “Jail Bolsonaro” (Prendam Bolsonaro), “Amazon or Bolsonaro” (Amazônia ou Bolsonaro) e “Bolsonaro, climate criminal” (Bolsonaro, criminoso climático).

* Manifestantes gritam insultos contra Bolsonaro à chegada dele para um jantar oficial na residência do embaixador do Brasil junto à ONU. Bolsonaro sorri e faz um gesto de “abafa” com a mão, como se pedisse que baixassem o tom. Usando um tambor, o grupo grita: “Bolsonaro, pode esperar, há sua hora vai chegar, genocida”.

* À saída do jantar, de dentro de uma Van, ao passar por manifestantes, o ministro da Saúde levanta do assento e faz o gesto obsceno de mostrar o dedo médio. Usa máscara.

* Dali a instantes, no hotel, Bolsonaro posta no Facebook o vídeo que gravou à saída do jantar onde diz: “Meia dúzia de acéfalos protestam contra Jair Bolsonaro para delírio de parte da imprensa brasileira”. E mais: “Esse bando nem sabe o que está falando ali. Devia estar num país socialista, não aqui nos EUA”.

* Perto da meia-noite, o caminhão com três telões está há pouca distância do hotel de onde Bolsonaro, insone, dispara instruções para seus devotos no Brasil.

Vergonhoso

No discurso de abertura da 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Bolsonaro mais uma vez mente e agride governadores e a imprensa nesta terça-feira.

Não apareceu na abertura o Jair Bolsonaro “Peace and Love” que parte da imprensa brasileira passou a divulgar nos últimos como como esperado, muito pelo contrário.

Num discurso de 12 minutos, o presidente brasileiro disparou mentiras em série, a exemplo do que fez no encontro da Organização das Nações Unidas no ano passado.

Em menos de um minuto, contou duas mentiras. Sem a aguardada moderação, a imprensa foi a primeira vítima: Bolsonaro disse que mostraria um país diferente do que é retratado pela mídia.

Depois, declarou que o Brasil não havia tido um caso de corrupção nos últimos dois anos. Na seqüência, o alerta de fake news não parou de piscar.

Mais um vexame internacional!

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional. 

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