Complexo da mina de carvão Zollverein: a transformação de um fechamento de mina em um grande conjunto arquitetônico
A Zeche Zollverein foi a maior mina de carvão do mundo, sendo considerada um símbolo do desenvolvimento industrial não só de Essen e seu arredores, mas da própria Alemanha.
Esta mina de carvão permaneceu em funcionamento por 135 anos, tendo sido desativada em 1986. A torre do shaft (poço), uma das mais importantes do complexo, foi construída em 1932 e influenciou, durante várias décadas, a construção de outros centros industriais europeus.
Em 1990 o local foi transformado em um monumento arquitetônico industrial e passou a contar com um centro de arte, museus, lojas e restaurantes. Em 2001 a antiga mina de carvão foi declarada pela Unesco como Patrimônio Mundial da Humanidade, e, atualmente, estima-se que, a Zeche Zollverein receba 1,5 milhão de visitantes anualmente.
Visitamos a antiga mina Zeche Zollverein e trazemos neste artigo um pouco de sua história, que é um grande case de Fechamento de Mina e de utilização de espaços industriais, ora subutilizados, para o bem estar comum.
O Vale do Ruhr na revolução industrial e a criação do complexo de Zollverein
A Revolução Industrial na Alemanha iniciou-se mais tarde do que na Grã-Betanha e na França; sua decolagem ocorreu entre 1830 e 1865.
Durante o século XIX, a Revolução Industrial transformou as várias localidades da região do Vale do Ruhr, que até então eram apenas pequenos povoados. O carvão, o ferro e aço, locomotivas e estradas de ferro, a indústria química e de energia constituíam o pilar econômico da indústria minero-metalúrgica do Ruhr.
A mina de carvão Zeche Zollverein foi uma das maiores e mais modernas instalações de extração de carvão mineral do mundo e é um símbolo do desenvolvimento da indústria na Europa. Hoje, o lugar é o principal centro cultural na Região do Ruhr e abriga também um museu que mantém viva a história da mineração e do desenvolvimento da arquitetura industrial. No complexo encontram-se também exposições de paleontologia e ciência natural, mineralogia, guerras, história do Vale do Ruhr e muitas outras atrações.
A produção de carvão do Vale do Ruhr e da Mina de Zollverein
Nenhuma outra região da Alemanha foi palco de uma industrialização tão forte quanto o Vale do Ruhr. Em algumas décadas, uma paisagem de pântanos metamorfoseou-se num gigantesco espaço de produção industrial, onde foram extraídos sete bilhões de toneladas de carvão, até à crise do setor mineiro.
A região passou por duas guerras mundiais, um milagre econômico e a Guerra Fria, sendo fonte de matéria prima para a produção de aço para automóveis e para a indústria bélica. Com a presença de milhares de trabalhadores, desenvolveram-se assim cidades de imigrantes e cidades operárias ao redor das zonas industriais. Em 1956, quase meio milhão de pessoas trabalhavam na indústria da mineração no Vale do Ruhr.
Devido à competição de petróleo e gás no mercado de energia, a mineração de carvão no Vale do Ruhr teve grande retração a partir do início dos anos 1960. Somente em 1964, 13 minas foram fechadas em Essen, o número de mineiros diminuiu de 54.413 (1958) para 9.771 (1978).
A mina de Zollverein operou até o ano de 1986, produzindo cerca de 240 milhões de toneladas de carvão mineral. Para alcançar esta marca notável, a lavra era realizada pelo método Longwall e chegou a ser operada por mais de 8 mil mineiros dia e noite em condições extremas.
O fechamento da mina de Zeche Zollverein
O Fechamento da Mina de Zollverein envolveu um grande esforço de descomissionamento de máquinas e equipamentos. Um dos principais desafios do fechamento de mina envolveu o plano de drenagem da área e a ampliação das estações de bombeamento.
Em Zollverein, a utilização futura do espaço foi amplamente discutida com a sociedade, que decidiu por tombar e conservar o local com o intuito de manter as instalações que documentam o processo de produção, como os mineiros trabalhavam e viviam.
O tombamento e a construção do conjunto arquitetônico pós-industrial
A fundação Stiftung Zollverein, criada em 1998, passou a buscar a conservação e uma nova finalidade para o monumento industrial. Para receber visitantes, foi necessário garantir a segurança do local, um trabalho difícil, tendo em vista a vasta área do complexo (equivalente a 100 campos de futebol). Para isso, arquitetos de renome ficaram responsáveis pelo processo de restauração.
Inscrito na lista de Patrimônio Mundial da UNESCO desde 2001, o lugar é o principal centro cultural na Região do Ruhr e também um museu que mantém viva a história da mineração e do desenvolvimento da arquitetura industrial.
Composta harmonicamente segundo os princípios de simetria e geometria, com fachadas de tijolos vermelhos em estruturas de aço ao estilo de Fachwerk, a construção tem um alto nível estético.
No roteiro do monumento Zollverein, a modernidade dos anos de 1920 e 1930, o desenvolvimento da indústria pesada e o processamento do carvão podem ser observados em máquinas e esteiras transportadoras gigantescas, fileiras intermináveis de fornos e seis impressionantes chaminés.
Na entrada, uma maquete do complexo mineiro é completamente dedicada ao público de deficientes visuais, com explicações em braile. Logo a frente, o visitante é levado por uma longa escada rolante no Museu do Ruhr. A escada rolante corre ao longo do eixo diagonal fora da estrutura e transporta os visitantes até o andar superior do fascinante museu regional.
Ao longo do percurso com fotos e filmes de época, o museu apresenta quem eram os mineiros, quais eram as suas roupas, ferramentas e como era trabalhar horas seguidas sem ver a luz do sol.
Entre as ferramentas expostas, há um martelete, utilizado para quebrar as paredes de carvão mineral, e que pesava cerca de 15 quilos. Há ainda outras tantas que chamam atenção por seu tamanho.
Além dos artefatos industriais da mina também é possível apreciar mostras de geologia, paleontologia, mineralogia e arqueologia.
Além disso, o Museu Red Dot Design, instalado na mina, tem a maior coleção de design contemporâneo no mundo e tornou-se também parte do patrimônio mundial. Todos os anos, o renomado prêmio Red Dot Award é concedido aqui para destaques na área do design.
Durante o inverno, a Zeche Zollverein oferece um rinque de patinação para todas as idades e níveis de experiência. No rinque, é possível patinar por 150 metros entre as grandes torres e os gigantescos tubos vermelho-ferrugem, parte da estrutura de processamento do carvão.
Além da brilhante arquitetura modernista o complexo industrial de Zollverein também é um espaço para sediar grandes festas. Nos últimos anos, o espaço foi palco de uma cultura alternativa ao receber diversos nomes da musica eletrônica, revigorando uma energia anteriormente adormecida dentro e fora dos corredores de concreto do espaço.
O Mischanlage de Kokerei Zollverein, que é um espaço interno do complexo e o antigo ponto de processamento de carvão, é um dos espaços mais exclusivos do local. Com vários andares de átrios de concreto e longos corredores escuros, ele pode ser iluminado criando diversos ambientes.
Durante a operação da mina, foi um centro de vida profissional para a comunidade mineira. Hoje, além de festas ocasionais, o espaço organiza uma exposição anual sobre o patrimônio mineiro da região chamada “A Era do Carvão”.
Apesar das atrações, a preservação e a proteção continuam sendo a prioridade dentro do complexo cultural. Nos eventos, os organizadores devem arcar com medidas caras de segurança, decoração e limitações espaciais, além de protocolos organizacionais demorados.
É nesse clima nostálgico, que mistura a melancolia do negro tom do carvão e da escuridão do subterrâneo, que a Alemanha reacende as luzes da história reconhecendo a importância da região para seu desenvolvimento e pilar econômico de uma era a qual o legado compõe sinergicamente a mistura de passado e agora.