Compacto, mas com boas atrações, Festival de Inverno começa hoje em Itabira

Nem de longe o 44º Festival de Inverno de Itabira lembra os primeiros festivais nas décadas de 1970 e 80. Mas, com uma programação enxuta, e ainda preso às grandes atrações nostálgicas, quando deveria estar repleto de boas novidades culturais que não passam pelo endosso da indústria cultural, ainda assim se mantém na tradição de trazer boas novidades e oficinas.

Equipe Mineira de Ginástica Rítmica. No destaque, Boca Livre, com show no sábado, no Pico do Amor (Fotos: Divulgação)

Nos primórdios dos festivais, assim como hoje também, ma por outros motivos, programação demorava para ser fechada. Era grande a expectativa para saber quais artistas da música e do teatro, principalmente, viriam a Itabira.

Os mais afoitos pressionavam a chefe do Departamento de Cultura da Prefeitura, e grande responsável pela existência do festival, Myriam de Souza Brandão, que sorria e dizia:

“Calma, deixem os outros festivais (principalmente o de Ouro Preto) fechar a programação primeiro. Depois escolhemos os melhores que já virão para Minas Gerais e incluímos na nossa programação. Sai mais barato.”

E assim a sábia Myriam Brandão fazia. E ocorria, muitas vezes, de a grande atração do Festival de Ouro Preto primeiro se apresentar em Itabira, para só depois seguir para a terra de Tiradentes, Aleijadinho e da Sinhá Olympia, ou para Diamantina ou São João Del Rey.

O Fantástico Circo de Papel, no Centro Cultural

Naqueles anos ainda de chumbo, mas efervescentes culturalmente, as apresentações em Itabira ocorriam no teatrinho do Colégio Nossa Senhora das Dores, que precisa urgentemente retornar como palco histórico do circuito cultural itabirano, ainda tão carente de espaços culturais.

Verdade que a cidade ganhou, no início da década de 1980, o palco do teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA). Com certeza, figura entre os melhores do interior do país. Mas precisa urgentemente de uma boa reforma – bom seria se conseguisse tirar aquela pintura horrorosa nos tijolinhos nas fachadas externas, mas se sabe que isso é difícil, uma cafonice inventada por gente brega que passou por lá e não deixou boas lembranças.

O festival deste ano, claro, podia ser melhor, mesmo com recursos escassos. Nos primórdios, a grana era mais curta ainda. É verdade que os shows não eram tão caros como são hoje. Além disso, nesse modelo de festival não deveria ter shows caros, que nem sempre, ou ainda, na maioria das vezes, são sinônimos de espetáculos de qualidade. Mas enfim, há boas atrações que não deixam desfigurar o festival.

Abertura

Cia Mimulus de Dança, nesta sexta-feira, no Cento Cultural

A abertura oficial do 44º Festival será neste sábado ( 21), mas começa mesmo nesta sexta-feira (20), tendo como ponto alto a bela apresentação da Cia. Mimulus de Dança, no palco do teatro da FCCDA, com o espetáculo Pretérito Imperfeito.

Imperdível para quem curte ver os movimentos artísticos que o corpo é capaz de expressar. Ingressos já podem ser trocados por livro infantil ou infantojuvenil até 18h no Centro Cultural. A classificação é livre.

Também imperdível é a exposição Testemunha da Experiência Humana, que promete lançar um olhar sobre a vida e obra do poeta e cronista itabirano Carlos Drummond de Andrade, uma parceria da Fundação Banco do Brasil, Petrobrás e Associação de Amigos da Casa Rui Barbosa. Não é a primeira vez que a Fundação Banco do Brasil traz o filho mais ilustre de Itabira à sua terra natal.

Exposição Menino Antigo não está no festival: veio e deveria ter ficado em Itabira, em 1990, porém, se perdeu. Mas tem a exposição Testemunha da Experiência Humana, sobre a vida e obra do poeta itabirano (Acervo: O Cometa)

Em setembro de 1990, trouxe a exposição Menino Antigo, com fotos e poemas inéditos do vate itabirano. Depois de percorrer várias cidades brasileiras, aqui ficou – e deveria ser para sempre – doada que foi à FCCDA. Mas, infelizmente, desapareceu misteriosamente, ninguém sabe, ninguém viu onde foi parar.

QuartetoMusik, domingo, na igrejinha do Rosário

páginas de O Cometa, o resgate de um dos poemas expostos – e que vai bem nesses tempos obscuros de muita sisudez e caretice: “Sobre o quadro Gentil Homem Bêbado, de Carré: De Baudelaire o conselho: É preciso estar sempre bêbado/Além do imaginário e do real/é preciso estar sempre sóbrio/para pintar a bebedeira.” A exposição, não essa que se perdeu, mas a atual, pode ser visitada de segunda a sexta-feira, de 8h às 18h, na galeria da FCCDA.

No bairro Pedreira do Instituto, às 17h, também nesta sexta-feira, haverá mostra de cinema. E no parque da Água Santa, ao lado da rodoviária, às 18h, tem campeonato de quadrilha.

Embalos de sábado à noite

Júlio Ramirez e Grupo Latinamérica, sábado, na concha acústica, no Pico do Amor

Já no sábado, bem a noitinha, será a vez de os saudosistas reverem e ouvirem na concha acústica os solfejos melódicos e descompromissados da banda Boca Livre, com o espetáculo Viola de Bem-Querer. Como brinde especial, o público terá como companheira a lua quarto crescente para iluminar parte desse fabuloso palco no Pico do Amor.

Ainda na concha acústica, com início a partir de 19h, haverá shows diversos e ginástica rítmica, que é para esquentar o esqueleto nesse inverno que não está assim tão rigoroso como se prenunciava. Mas dias mais frios ainda virão, pode aguardar.

Exposição Raízes Afro-Mineiras–Tambores no Mundo e o Congado de Itabira (Foto: Stael Azevedo)

Prometido para ter início às 20h30, é também imperdível o espetáculo com o violonista espanhol Júlio Ramirez, que já tocou com Paco de Lucia (1947/2014), ícone da música flamenca. Ramirez apresenta um repertório com flamenco, bolero, salsa e outros ritmos, acompanhado do grupo Latinamérica.

Mas antes vale conferir a exposição Raízes Afro-Mineiras – Tambores no Mundo e o Congado de Itabira, com belas e representativas fotos de grupos folclóricos e parafolclóricos dessas paragens matodentrenses, clicados pelas lentes de Stael Azevedo, Mônica Jorge e Simão Kursseldorf . A mostra de fotografias fica em exposição até 31 de agosto, aberta de terça a sexta-feira, de 8h às 18h, e nos domingos, de 10h30 às 16h30.

Domingo no teatro, no Pico do Amor e na igrejinha do Rosário

Junhinho Ibituruna

No Memorial Carlos Drummond de Andrade, no domingo (22), as atividades começam às 9h, com contação de história (Floresta Encantada) e grande agito cultural com a Ocupação Altamente, com o percussionista e mutiartista Juninho Ibituruna.

Na parte da tarde haverá vivência musical, performances circenses, jogos de improvisação e muitas brincadeiras para crianças, jovens e adultos.

Floresta Encantada, contação de história com Silvana Marcelina e com o multiartista itabirano Millor Ferreira

Com duas sessões, no teatro da FCCDA, às 15h e às 17, a agenda do festival recebe o espetáculo infantil O Fantástico Circo de Papel. Para assistir a apresentação é necessário trocar os ingressos no Centro Cultural por um livro infantil ou infantojuvenil. A classificação é livre.

E para encerrar o fim de semana cultural, a igreja do Rosário recebe a última atração do domingo, às 18h, com o ótimo Quarteto Musik, acompanhado pelo cravista Antônio Carlos Magalhães, a soprano Liliane Maciel e a mezzo-soprano Jennifer Imanish, apresentando a célebre peça do barroco italiano Stabat Mater”, de Pergolesi.

O festival prossegue durante toda a semana.

Para conferir a agenda de cursos e oficinas, clique aqui.

Veja aqui a programação completa.

Mais informações podem também ser obtidas também pelo telefone (31) 3835-2152.

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