Com o lançamento do livro “Quem são eles, os rios?”, Cláudio Guerra pede urgência na preservação das águas

Fotos: Carlos Cruz

No Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado nessa quinta-feira (5), o engenheiro, ambientalista e professor Cláudio Bueno Guerra lançou seu livro Quem são eles, os rios? no Centro Cultural de Itabira. O evento reforçou a importância dos rios como elementos históricos, econômicos e culturais, promovendo uma reflexão sobre a relação entre sociedade e recursos hídricos.

O autor enfatizou em sua apresentação o “rio de sua aldeia”, a antiga São José da Lagoa, hoje Nova Era, além de apresentar um panorama dos principais rios do Brasil e do mundo, discutindo suas funções e sua ligação com os respectivos territórios.

“Um rio não é apenas um traço azul no mapa. Ele é um ser vivo, dotado de força, beleza e magia,” afirmou Guerra. “Os rios possibilitam a integração social e cultural, ligando regiões, pessoas, atividades econômicas e manifestações culturais.”

Segundo ele, o professor e historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-82) já chamava a atenção, na década de 1940, sobre a relevância dos rios na ocupação do Brasil, apontando que eles desrespeitaram a linha oficial do Tratado de Tordesilhas e redefiniram a geografia nacional.

O livro também mergulha nos rios de Minas Gerais, com destaque para o São Francisco, o Doce, o Santo Antônio e o Piracicaba, esse último carregado de memórias afetivas do autor, pois é o rio que passa pela sua aldeia.

“A motivação deste livro é a preocupação com o futuro da água. Vivemos um cenário de mudanças climáticas, desmatamento e poluição, e precisamos reinventar nossa relação com os rios,” enfatizou Guerra.

Capa do livro com uma bela e significativa ilustração de São José da Lagoa, atual Nova Era (Foto: Idmar P. Costa/Divulgação)

Desafios da governança da água e as tragédias ambientais

Cláudio Guerra abordou também as tragédias ambientais que marcaram Minas Gerais e impactaram profundamente a população e o meio ambiente. O livro dedica um espaço significativo ao desastre-crime que devastou o rio Doce, após o rompimento da barragem da Samarco em Mariana, em 2015, e ao colapso da barragem de Brumadinho, em 2019.

“O desastre do rio Doce foi um crime, não um acidente. Foram milhões de toneladas de rejeitos tóxicos despejados no rio, impactando dezenas de municípios e o Oceano Atlântico. Uma década depois, ainda esperamos justiça,” pontuou Guerra.

O rio Doce, carregado de lama contendo partículas finas de minério de ferro, chega à Praia Barra Novo, no município de São Mateus (ES). Diagnóstico da FGV aponta que as ocupações ligadas à pesca do camarão na Praia do Suá, em Vitória (ES), sofreram uma queda de até 85% na renda após o desastre da Samarco em Mariana e a consequente proibição da atividade pesqueira. (Foto: Lalo de Almeida/FGV) 

O autor destacou que os rejeitos atingiram toda a extensão do rio Doce, chegando até o arquipélago de Abrolhos, no sul da Bahia, um dos santuários marinhos mais importantes do mundo.

“A lama carregada pelo rio Doce não parou no leito do rio. Avançou pelo mar, contaminou corais e prejudicou ecossistemas inteiros em Abrolhos. Esse impacto ainda não foi totalmente mensurado, mas sabemos que os danos são irreversíveis para muitas espécies e comunidades locais,” alertou Guerra.

“Brumadinho repetiu a tragédia e escancarou a irresponsabilidade das mineradoras. Enquanto vidas são perdidas e rios destruídos, seguimos esperando por mudanças que nunca chegam,” acrescentou.

Piracicaba: a identidade de Minas em risco

Glaucius Marques, professor da Unifei, disse ser inadmissível que, em pleno século XXI, tantas pessoas ainda não tenham acesso à água tratada, enquanto segue a exploração indiscriminada das bacias hidrográficas

Ao falar sobre o rio Piracicaba, Guerra ressaltou sua importância para a economia e a cultura de Minas Gerais, alertando para os impactos da mineração na região.

“O Piracicaba é um rio que precisa de atenção urgente. Sua bacia hidrográfica é fundamental para a economia local, mas sofre com a poluição e o descaso ambiental. Os Comitês de Bacia precisam ser fortalecidos para garantir sua preservação,” defendeu.

O professor Gláucio Marques, representante da Unifei presente no lançamento do livro de Cláudio Guerra, reforçou a urgência do debate sobre os rios. Segundo ele, a degradação hídrica impacta diretamente a sociedade e a preservação dos rios exige mudanças estruturais profundas.

“A questão da água não pode ser vista de forma isolada. Estamos lidando com um recurso essencial para a sobrevivência humana, a economia e o equilíbrio ambiental”, recomendou e lamentou:

“Infelizmente, temos presenciado um cenário alarmante com rios sendo explorados ao limite, sem planejamento adequado, sem controle eficiente e sem uma governança realmente comprometida com a sua preservação,” afirmou Marques.

O professor ressaltou que o Brasil, apesar de ser um país privilegiado em termos de recursos hídricos, ainda enfrenta graves problemas de acesso à água potável e saneamento básico, afetando principalmente comunidades vulneráveis.

“É inadmissível que, em pleno século XXI, tantas pessoas ainda não tenham acesso à água tratada, enquanto assistimos à exploração indiscriminada de nossas bacias hidrográficas. Precisamos pensar nos rios como patrimônio da humanidade e garantir que futuras gerações possam viver em um ambiente sustentável. E isso só será possível se tivermos políticas públicas eficazes e uma atuação participativa da sociedade,” enfatizou.

Ele também abordou a importância da pesquisa e do envolvimento acadêmico nesse processo, mencionando o papel da Unifei no desenvolvimento de estudos voltados para a gestão dos recursos hídricos.

“A universidade tem um compromisso com a formação de profissionais e pesquisadores que se dedicam a essa causa. Trabalhamos com educação ambiental, com inovação tecnológica e com projetos de governança da água. Mas o conhecimento precisa ultrapassar os muros da academia. Ele tem que alcançar as comunidades, influenciar políticas e gerar mudanças reais,” pontuou.

Por fim, Marques destacou que a preservação dos rios depende de ações objetivas, fiscalização rigorosa e um novo olhar sobre o uso da água no Brasil.

“Sem educação ambiental e governança eficaz, os rios seguirão sendo explorados até o colapso. Precisamos de políticas públicas que realmente protejam os recursos hídricos e garantam que a água continue sendo um bem acessível a todos,” enfatizou.

Elaine Mendes enfatizou a importância da celebração do Dia Mundial do Meio Ambiente, propondo unir esforços para assegurar às futuras gerações um ambiente saudável e equilibrado

Agradecimento e um chamado à ação

A secretária municipal de Meio Ambiente, Elaine Mendes, finalizou o evento reforçando que o compromisso com os rios deve ser coletivo e imediato.

“Preservar os rios é preservar nossa própria história e identidade. Precisamos unir esforços para garantir que as futuras gerações possam viver em um ambiente saudável e equilibrado,” afirmou a secretária. .

Com a publicação do livro Quem são eles, os rios?, Cláudio Guerra convida à reflexão e à ação, reforçando que o futuro da água depende do engajamento da sociedade e que a preservação é uma urgência que não pode ser ignorada.

Em Itabira, que essa iniciativa se realize desde já, com a recomposição das matas ciliares pelos fazendeiros e sitiantes – e incentivada pela Prefeitura –, nos afluentes dos rios Tanque e Rio de Peixe, assegurando a conservação dos recursos hídricos e a sustentabilidade ambiental para as futuras gerações.

Serviço

O livro Quem são eles, os rios? está disponível para venda em Itabira na livraria Clube da Leitura, localizada no hall da Fundação Carlos Drummond de Andrade.

 

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