Com as pessoas nas ruas no Dia dos Namorados, aumenta o risco de disseminação do vírus em Itabira
Uma “tempestade perfeita” se formou em Itabira nesta sexta-feira (12), com a conjugação de vários fatores – e que podem agravar uma situação de aparente tranquilidade, sem casos graves de pacientes com o novo coronavírus no município.
Enquanto a mineradora Vale é interditada pela Justiça do Trabalho, até que adote as medidas relacionadas pelos auditores-fiscais da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Minas Gerais, uma multidão saiu às ruas, como se observou em todos os centros comerciais da cidade, neste Dia dos Namorados ensolarado.
O que se viu foi a repetição do ocorrido na véspera dos Dias das Mães. Portanto, previsível de se repetir. Mas que agora acontece com outras situações que, conjugadas, tiveram como consequência o grande número de carros e gente pelas ruas e avenidas, transitando por toda a cidade.
Uma típica situação propícia à disseminação da pandemia, mesmo que as pessoas usem máscaras e mantenham o distanciamento recomentado. E que poderia ter sido evitada.
Mas o prefeito Ronaldo Magalhães (PTB) confia tanto na infraestrutura de saúde instalada no município, para atender aos que forem acometidos pela doença da Covid-19, que ele até estendeu o horário de funcionamento do comércio desde quarta-feira.
“É para o povo ter mais tempo de ir às compras sem se aglomerar nas lojas”, disse ele na coletiva de imprensa de terça-feira (9).
Previsibilidade
Ronaldo Magalhães e as autoridades de saúde sabiam que iria ocorrer aglomerações nesta sexta-feira. Ou pelo menos deveriam saber como consequência do feriado prolongado na Prefeitura, que o prefeito decretou, com 4 mil servidores em recesso, cansados de ficar em casa.
E ainda, com mais de 8 mil empregados e terceirizados da Vale de braços cruzados com a interdição das minas. O resultado não poderia ser diferente, com as recorrentes cenas de gente em filas na porta de casas lotéricas e nas lojas da cidade.
Some-se ainda o pagamento de mais uma parcela do voucher do governo federal aos desempregados para aumentar ainda mais o número de pessoas nas ruas. Foram por necessidade, para receberem o que é de direito, mas também para comprar um celular novo e mesmo um presentinho para a troca entre casais de namorados.
Discurso e prática nem sempre estão na mesma práxis
Rosana Linhares, secretária municipal de Saúde, disse na mesma coletiva de imprensa, na Prefeitura, que a rede hospitalar da cidade tem baixa ocupação, com apenas um paciente sendo atendido em uma das três Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) – e outro na enfermaria, mas sem casos graves.
Mas é fato que já se tem 528 pacientes testados positivos na cidade, fora as sub-notificações e os casos ainda não identificados por falta de testagem em massa. Mas é nada que se preocupe, pelo menos por enquanto, asseguram as autoridades.
“Não temos sinal de alerta”, garantiu a secretária de Saúde. Afinal, “96% desses pacientes são assintomáticos e o restante está com sintomas leves e moderados”, disse ela. “Se isolar os pacientes assintomáticos, como tem sido feito na Vale, isso contribui para controlar a disseminação do vírus no município”, acredita Rosana Linhares.
“É um padrão que não devemos abrir mão. É a única forma de se ter o controle e impedir a propagação”, acentuou. Mas como saber se a pessoa está com o vírus, se nem todo mundo é testado?
Risco iminente
Quem está com o vírus e não apresenta sintomas pode seguir disseminando sem saber que tem a doença. Como fazer o isolamento, se não se sabe quem e quantos são, onde estão e com quem se relacionam?
Diferentemente do que festejou o tresloucado presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com base na precipitada declaração da infectologista Maria Van Kerkhove, responsável técnica pelo combate à covid-19 da Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda que em menor proporção, os assintomáticos também podem transmitir o vírus.
Depois de fazer o estrago com a sua declaração precipitada, a infectologista da OMS voltou atrás: “Sabemos que pessoas que não têm sintomas podem transmitir o vírus”, reiterou a infectologista, em entrevista no dia seguinte.
Portanto, mesmo que a probabilidade de transmissão seja menor, os assintomáticos também podem infectar quem está por perto, com risco de transmissão até maior. Afinal, a maioria não está ficando em casa, enquanto os pacientes sintomáticos cumprem a quarentena em isolamento domiciliar.
“Somos conservadores. Na dúvida, mesmo que os assintomáticos transmitam a doença menos que os sintomáticos, se testam positivo, têm que cumprir a quarentena com isolamento domiciliar”, reforçou a secretária municipal de Saúde.
Retrocesso
“O vírus propaga muito facilmente, tem alta transmissibilidade. Se deixar, ele irá se multiplicar e vai acabar com a saúde da população e com a economia local”, advertiu a secretária municipal de Saúde.
A advertência, entretanto, não surtiu efeito, mesmo com o risco de retrocesso com as medidas restritivas. “Betim virou o maior carnaval e o prefeito de lá teve que voltar atrás”, exemplificou.
“Se houver alteração (no quadro de disseminação do vírus na cidade), o que pode ocorrer com as pessoas se aglomerando nas ruas, vamos ter mudanças na flexibilização, com mais restrições”, avisou.
“A curva (da pandemia) foi alongada na cidade com a participação da população ao aceitar as medidas restritivas de março. Esperamos não ter de voltar atrás”, disse a secretária, preocupada com a interiorização da doença e com o fato de o Brasil se tornar o epicentro da pandemia no mundo.
Para ela, a responsabilidade é de todos, do comerciante e do comerciário, mas também da população que passou a acreditar no uso da máscara como meio 100% seguro de não contaminação, juntamente com as medidas de profilaxia. Não é bem assim e todo cuidado é pouco.
Portanto, a responsabilidade é mesmo individual em prol de sua saúde e da coletividade, como frisou a secretária. Mas é mais do prefeito que flexibilizou as medidas restritivas e estendeu o horário comercial na véspera do Dia dos Namorados. E sem que a fiscalização da Prefeitura evitasse as aglomerações na cidade.
Passei bem rápido pela Av. João Pinheiro e vi como estava lotada de pessoas fazendo compra e esperando ônibus. Nem parecia que estamos em plena pandemia!