Com as pessoas nas ruas, 12 mil podem ser infectadas em Itabira com centenas de mortes, prevê Secretaria Municipal de Saúde

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) começa a ser disseminada com velocidade por todo o país a partir desta semana, segundo projeção do Ministério da Saúde. E deve atingir o seu pico, que vem a ser o ponto máximo, entre o final deste mês até o fim de maio, só arrefecendo a partir de agosto e setembro.

A previsão é de crescimento exponencial do número de infectados e mortos pela doença, principalmente nos grandes centros urbanos, nas regiões mais pobres por onde se tem muita gente aglomerada nas favelas e palafitas.

Mas como a realidade tem demonstrado, isso não significa que cidades menores não sofrerão as consequências, caso flexibilizem o isolamento social, com a reabertura do comércio nesse crucial período de avanço da doença nas regiões Sul e Sudeste, principalmente agora com a chegada do frio.

Agravamento

Poeira no frio é mais um ingrediente que irá agravar a saúde da população de Itabira neste tempo de pandemia (Fotos: Carlos Cruz)

Itabira, por motivos diversos, como a presença de uma grande empresa que atrai muita gente de fora em circulação pela cidade, está na rota da covid-19.

Some-se a isso o risco de ter que conviver com possíveis surtos simultâneos de dengue e influenza (gripe), principalmente com a chegada do frio. Leia aqui.

Além disso, a poluição do ar que aumenta com a estiagem é outra condição desfavorável, pelo enfraquecimento do sistema imunológico, com as doenças respiratórias que são agravadas com as partículas de minério suspensas na atmosfera.

Segundo alerta a organização não governamental Aliança Europeia de Saúde Pública, cidade com alto índice de poluição do ar corre risco de ter uma maior taxa de mortalidade pelas comorbidades associadas.

“A poluição atmosférica provoca hipertensão, diabetes e doenças respiratórias, condições que os médicos começam a relacionar com taxas de mortalidade mais elevadas por Covid-19.”

A organização recorre a um estudo de 2003 sobre vítimas do coronavírus Sars, (síndrome respiratória aguda grave), para concluir que “os pacientes em regiões em níveis de poluição do ar moderados tinham 84% mais possibilidades de morrer do que aqueles em regiões com pouca poluição do ar”.

É mais um motivo para se cobrar da mineradora Vale o aporte de recursos financeiros para ampliar a infraestrutura de atendimento nos hospitais Carlos Chagas (HMCC) e Nossa Senhora das Dores (HNSD).

Simulação macabra

Portanto, não é hora de relaxar no isolamento social. Caso ocorra o relaxamento, numa simulação realizada pela Secretaria Municipal de Saúde, com as pessoas permanecendo na rua como se nada estivesse acontecendo, a projeção é de Itabira, com 120 mil habitantes, registrar um trágico número de mais de 300 óbitos com a pandemia.

Isso no pior cenário, no caso de 12 mil pessoas serem contaminadas em Itabira. E dessas, 600 (5%) desenvolverem um quadro mais grave da doença em curto espaço de tempo, demandando atendimento nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs).

Entretanto, essa tragédia anunciada pode ser evitada com o isolamento social. Só com as pessoas ficando em casa será possível impedir a infecção de muita gente ao mesmo tempo, o que, caso ocorra, levará ao colapso o sistema municipal de saúde.

Mas essa projeção (leia quadro) é conservadora, por vários aspectos. Primeiro, por levar em conta que apenas 12 mil (10%) dos moradores de Itabira serão contaminados pelo vírus, sendo que o Ministério de Saúde prevê, já para este ano,  a contaminação de mais de 70% dos brasileiros pelo vírus, sendo que a maioria será assintomática.

Foi o que levou o tresloucado presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmar, nesse domingo (19), que é preferível que o vírus se espalhe logo para imunizar o maior número de pessoas, o que permitiria o retorno das atividades econômicas.

O presidente ignora, mais uma vez, o temor das autoridades de saúde com o grande número de mortes de pessoas sem atendimento. É o que já começa a ocorrer com o colapso do sistema de saúde nos grandes centros, como em São Paulo.

Atendimento

Para complicar ainda mais esse possível quadro no pior cenário, as projeções podem ser conservadoras se considerar ainda que o atendimento na rede pública local não é exclusivo da população itabirana. O SUS é universal e não pede comprovante de residência na hora do atendimento.

Como Itabira já é polo microrregional em saúde, referência para mais de 220 mil pessoas, só aí amplia o número de pessoas que podem ser infectadas em situação mais grave – e que serão transferidas para tratamento nos hospitais Nossa Senhora das Dores (HNSD) e Carlos Chagas (HMCC).

Isso por ser, entre os três polos da Diretoria Regional de Saúde (DRS), o município com rede hospitalar mais bem aparelhada. Daí que pacientes das micros regiões de Guanhães e João Monlevade devem ser transferidos para tratamento intensivo na rede hospitalar de Itabira.

Nesse caso, como polo macrorregional, Itabira passa a atender uma população de cerca de 500 mil habitantes. Como o seu complexo hospitalar só dispõe de 40 leitos de UTIs e 60 respiradores mecânicos, sendo que quatro estão em manutenção, a situação pode ficar bastante crítica, no caso de um grande número de pessoas se contaminar ao mesmo tempo.

“Se as pessoas permanecerem em casa, em isolamento social, a nossa infraestrutura será suficiente. Mas se isso não ocorrer, nosso sistema não dará conta de atender a todos que irão precisar de assistência. E muitos podem morrer por falta de atendimento”, alertou a secretária municipal de Saúde, Rosana Linhares, em recente pronunciamento pela internet, ao pedir para que todos fiquem em casa, só saindo às ruas em caso de absoluta e inadiável necessidade.

 

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