Ciro Gomes diz que estará no segundo turno contra Lula, mas ele pode ser “cristianizado”

Rafael Jasovich*

O ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), também conhecido como o “príncipe de Sobral”, é um fenômeno natural como a pororoca, o eclipse ou o acasalamento do Saci Pererê com a mula sem cabeça.

Em entrevista ao Globo, Ciro julga ter acertado ao rumar a Paris no segundo turno de 2018. Disse que repetiria a dose “com muito mais convicção”.

“Em 2018, fiz com grande angústia. Aquela eleição já estava perdida. Mesmo somando meus votos com os do Haddad, não alcançaríamos Bolsonaro. Lula mentiu para o povo dizendo que era candidato quando todos sabiam que não seria. Manipulou até 22 dias antes da eleição, deixando parte da população excitada”, afirma.

Ele ainda fez a piada: “Como brasileiros não podem viajar para a França pela pandemia, nesse caso vou para Tonga da Mironga do Kabuleté”.

Ciro tem certeza de que estará no segundo turno contra Lula.

O pleito de 2022, segundo Ciro, será “mais reflexivo do que passional. O predominante em 2018 foi o antipetismo irracional”.

Em nome dessa “racionalidade”, ele chuta o pau da barraca: “o lulopetismo e o bolsonarismo não prestam”, o “nível de paixão” é um problema.

Segundo ele, o petista “não tem nenhum tipo de escrúpulo ou limite”, “virou uma pessoa que, o que diz de manhã, já não serve de tarde”, “está tomado de ódio”, só tem “vontade de se vingar”, é “cínico” etc.

De acordo com Ciro, Lula também comanda “um gabinete do ódio” na “blogosfera”, em que “Lula dá a ordem, eles fazem”.

Ciro Gomes tem um problema: a realidade não concorda com ele.

Aparece com 6% na última pesquisa DataPoder, empatado com Huck. No mesmo levantamento, sua nêmeses aparece com 34%, à frente de Bolsonaro, com 31%.

Parlamentares do PDT se aproximam de Lula, o que pode levar Ciro à “cristianização” em seu partido.

O termo “cristianização” surgiu quando o ex-prefeito de Belo Horizonte Cristiano Machado (1883/1953) saiu candidato à presidência em 1950 pelo PSD. Mas foi abandonado pela cúpula de seu partido, que apoiou a candidatura de Getúlio Vargas (PTB), que venceu a eleição.

No PSDB, FHC já declarou voto no ex-presidente algumas vezes num embate possível com Jair Bolsonaro. Jamais no “príncipe de Sobral”.

Ou seja, Ciro está falando sozinho, basicamente, e com seus amigos imaginários – uma suposta turma boa, os tais cidadãos de bem do Ciro.

Os votos dos eleitores do PT ele não quer. Os da direita ele continuará não tendo.

Um dia o Brasil entenderá esse “gênio da política” e o conduzirá ao posto merecido de Guia Genial dos Povos, Majestade Imperial, nosso Heliogábalo, líder do reich tupiniquim de 1000 anos.

Ciro fala para ele mesmo.

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional

 

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