Chorographia mineira – Município e Comarca de Itabira
Mauro Andrade Moura
Revisão – 8ª parte
A Chorographia Mineira, da parte de Itabira, foi-nos legada pelo Monsenhor Júlio Engrácia nos idos de 1897 como correspondente do “Archivo Mineiro”.
SISTEMA OROGRÁFICO
Sequência
“O Distrito é em geral montanhoso, sendo limitado por todos os pontos de seu horizonte por contínuas cordilheiras elevadíssimas, sobrepujando todas o – Morro Escuro – um dos pontos mais elevados das bacias do Tanque e Piracicaba, talvez superior aos picos de Itabira (Cauê) e Itabiruçu.”
Estamos situados no meio da Serra do Espinhaço, que inicia-se em Ouro Branco – MG e segue até o Recôncavo Baiana – BA, sendo a maior cordilheira em extensão no território brasileiro.
Morro Escuro está dentro do município de Santa Maria de Itabira, antigo distrito do município de Itabira e emancipado em 31 de dezembro de 1943.
ETINOGRAFIA
“Pela grande cultura que sustentou desde o começo, com braço escravo, a raça preta e mestiça predomina, fazendo 2/3 da população, que é de 5.500 almas. As famílias existentes são ainda descendente as dos primeiros troncos com poucos adventícios. Não há estrangeiros.”
Em 1897, conforme descrito acima, Itabira tinha uma população de 5.500 pessoas e hoje multiplica-se por vinte e a negros e mestiços continuam perfazendo os 2/3 da população, com alguns estrangeiros e muitíssimos migrantes de outras paragens do Brasil, tudo isto por influência e necessidade da mineração de extração do ferro.
Como Itabira tem em seu princípio a extração do ouro como principal atividade econômica, disso decorreu o fato de se ter no negro a sua principal força de trabalho braçal, nos primórdios, mão de obra escrava.
CULTURA
“A cultura grande dedica-se quase exclusivamente ao plantio do café, ficando a lavoura média e pequena de cereais, cana, etc., juntamente com o café em menor escala; é, por conseguinte o distrito do Município que mais exporta café, e os cereais, chegando apenas, para o consumo, sendo às vezes importados. Não é a razão deste proceder mau cálculo ou incúria, mas sendo as fazendas quase todas pequenas e já possuindo poucas matas, e algumas não as tendo mais, são forçadas a economizarem e deixarem descansar, para futuros recursos. As terras, não obstante frias e fracas nas circunvizinhanças das cordilheiras, tornam-se fertilíssimas ao avizinharem-se do Tanque: são um pouco arenosas, mas a crosta de massapé é basta e promete longevidade produtora.”
Passado pouco mais de uma centena de anos, a cultura agrícola na região de Itabira foi praticamente extinta por vários fatores e em sequência cronológica.
O Brasil venceu a Guerra do Paraguai, destroçou aquele país vizinho dizimando sua população masculina e saiu desta guerra totalmente sem fundos. E passou a vender títulos da dívida pública a fim de ter alguma condição de retomada da economia pós guerra.
Depois em 1888, com o advento da “Lei Áurea”, ocorreu a libertação devida e tardia dos escravos. Porém, com isto, veio a quebra de muitos fazendeiros que tinham suas fazendas produzindo a partir desta mão de obra escrava.
Já em 1889, com a insatisfação generalizada da elite brasileira anti-monarquista e principalmente pela alforria dos escravos, com a desmobilização econômica, quebraram-se o Brasil e os fazendeiros.
Note-se que a república foi implantada no Brasil por meio de uma ditadura feroz, que impactou sobremaneira e mais ainda a combalida economia que era e sempre foi voltada à simples exportação de commodities, ou seja, produtos básicos.
Mais algumas décadas e chegamos a 1914, quando foi deflagrada a primeira guerra mundial e toda a Europa entra no confronto. Como o Brasil era exportador de insumos básicos, com conflito, perdeu esse grande mercado. Foi outra grande perda para a economia nacional.
Em 1929 o Brasil viveu os reflexos do grande débâcle da economia mundial, quando a especulação financeira se sobrepôs à produção de bens e insumos, Foi nessa conjuntura que o nosso mercado mundial de exportação de café simplesmente esvaiu-se em meio a toda tormenta financeira.
Já não havia mais mercado para o café e o produto básico de exportação brasileiro. Nessa época, o Brasil produzia quase todo grão consumido no mundo.
A crise refletiu profundamente em todas fazendas de café de Itabira e região, que sucumbiram-se. E com a falência generalizada, sucumbiram-se também os registros históricos desta época, ficando o período renegado ao esquecimento. Chega-se ao cúmulo de alguns dizerem que em Itabira nem havia fazendas de café, o que é uma inverdade histórica.
O café foi trazido para Itabira pelo comendador Francisco de Paula Andrade, fazendeiro rico, que foi imediatamente seguido por outras pessoas, principalmente pelos sobrinhos.
Desses sobrinhos podemos citar o Tem Cel. Carlos Casemiro da Cunha Andrade, filho do Comendador Casemiro Carlos da Cunha Andrade, irmão mais velho do Comendador Francisco.
Enquanto o pai e o avô cuidavam das minas de ouro, a saber a Camarinha e Campestre/Cauê, Carlos Casemiro cuidava das fazendas de café da família, isso enquanto apoiava a irmã mais velha Maria Casemira de Andrade Lage na sua Fábrica de Tecidos da Pedreira.
Em procura do dinamismo do transporte do café até o porto do Rio de Janeiro, Carlos Casemiro empreendeu as melhorias e alargamento da estrada de Capoeirana, obviamente com apoio dos próprios primos e primos da sua esposa. É o traçado que conhecemos até hoje e subdividido a partir da Capoeirana onde é mantido o leito original e mais à direita o novo traçado asfaltado.
Enfim, chega-se ao maior confronto mundial, o advento do nefasto nazismo na Alemanha e o início da Grande Guerra em 1938, findando-se só em 1945.
O Brasil já não tinha mais o café a exportar. Praticamente toda a plantação nacional foi comprada pelo governo Vargas e as sacas queimadas no porto de Santos, no intuito do realinhamento do mercado mundial.
Tinha o Brasil, essencialmente Itabira, a maior reserva de minério de ferro conhecida e todos os exércitos dos aliados contra o nazi-fascismo ávidos pelo aço necessário para a fabricação de tanques e navios de guerra.
Extingue-se a Itabira Iron Ore S.A., despreza-se o direito dos sócios locais, cria-se a CVRD.
Pronto! As fazendas itabiranas que já quase nada produziam, perde quase toda mão de obra para a nova empresa, que, naquele tempo extraia o minério de ferro no muque, tudo na unha, um pesado trabalho braçal.
Sem mão de obra para tocar a lavoura, as fazendas passaram a valer quase nada. A maioria foi vendida pelo preço do mato que ainda restava – e que se transformou em carvão para abastecer os altos fornos das siderúrgicas da região.
Hoje temos essas fazendas mal produzindo leite e gado de corte, com a maioria dos fazendeiros descapitalizados, sem conseguir mecanizar a produção e até pela topografia irregular, no meio da serra.
É assim que se tem um gado de corte com pouca eficiência na produção, capineiras praticamente não existem. Até recentemente, aqui se observou uma grande criação de cavalos campolinas e mangas-largas. Hoje nem isso existe mais.
E o povo da roça tem deixado de lado seus pangarés para “viajar” em motos, automóveis e medianas caminhonetes. Ensaia-se, até pelo esforço em diversificar a economia, uma incipiente retomada de produção rural, mas tudo ainda muito pouco significativo se comparado com a produção do passado pré-mineração.
“E agora José, Minas já não há mais!“
Observação: -A Fazenda da Florença, que faz divisa com o Morro Escuro, fica em Santa Maria de Itabira e foi das maiores produtoras de café na região em finais do século XIX e princípio do século XX.
E em Itabira, a Fazenda do Capão, onde hoje estão instalados a Unifei e o parque de exposições, foi a maior produtora de café da região.
segue..
E agora José? A festa acabou?
E o Morro Redondo? Li uma nota, que não explica, sobre o Morro Redondo em Itabira da Matta Dentro
Essa nota a respeito do Morro Redondo deve ser porque ele fica no distrito de Ipoema e, consequentemente, no município de Itabira.
Disseram-me que um rapaz plantou uma pequena roça de café ali nas redondezas do Morro Redondo.
Oi Mauro bom dia, não sabia q Itabira tinha sido antes da mineração uma importante região produtora de café, uma região muito rica em todos os sentidos, além de uma cidade linda, uma região muito próspera e abençoada.
Abraço, Weslei.
Bom dia, Weslei.
Mais valia se a cidade continuasse a ser cafeeira e com as tecelagens, nossa vida seria mais saudável.
Foi feito todo um esforço que perdeu-se com as sucessivas crises e alterações econômicas nacional e mundial.
Grato pela leitura,
Mauro
E também produtora de algodão. E mais… pesquisaram um certa fibra vegetal utilizada pelos indígenas que diminuíram o custo do produto. A lendária Itabira que virou montanha pulverizada e um POVO subalterno à CVRD/Vale. Triste fim….
Correto, Cristina.
A safra do algodão é em outra época da do café.
Daí conciliavam a produção para atender o mercado de exportação do café e o algodão para as tecelagens de Itabira.