CDA: “Se eu não subir aos céus nas asas da poesia, subirei nas asas da música (e não é a mesma coisa?)”

No destaque, Heitor VillaLobos (1887-1959), o mais importante e reconhecido maestro brasileiro, parceiro de Drummond em Canção de Itabira.

| Fernando Py: Poema-em-prosa (Revista Mineira, BH, fevereiro 1923)

Repr.: Diário de Minas, BH, 15-5-1923; Para Todos, Rio, 13-9-1924 |

Música

Carlos Drummond
Os olhos azuis cristalinos do poeta Drummond em preto e branco (Fotos: Reprodução/acervo Cristina Silveira)

A noite desce. Um piano toca. Há uma luz feita de sombra. O piano toca mais. É uma vaga ciranda, melodia vaga de antigamente.

Assim, debruçado sobre a mesa vazia, eu te vejo descer, ó noite! sobre os meus pensamentos e os meus trabalhos; e sinto nas coisas uma bondade humilde, feita de perdão e esquecimento. A noite desce, o piano continua.

Floresce em minha alma uma religiosa beatitude. Magia do piano em que uns dedos simples acordam músicas de outro tempo! Magia e doçura de cerrar os olhos, sentindo a tarde morrer!

E eu te perdoo, ó vida! Os maus e os feios instantes que me ofereceste; e eu te abençoo, ó noite! Que me trazes a divina tranquilidade em tuas palavras de sombra.

Acendem a lâmpada. Cala-se o piano. Em frente à mesa vazia, eu e o silêncio continuamos abraçados…

[Para Todos (Rio), 13/9/1924. Hemeroteca BN-Rio]

 

 

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1 Comentário

  1. poxa, Cristina Silveira, tudo isso é demais, no melhor dos sentidos, pruma tarde, quase noite, de uma sexta de outubro.

    e estamos no mês das revoluções.

    Fernando Brant compôs com Milton Nascimento:
    “vou fazer meu outubro de homem {de humano, digo eu} / matar com amor essa dor(…)”, do primeiro disco de Milton de 1967.

    atenção todos, todo mundo mergulhando na vida.

    temos ” uma porção de coisas grandes pra conquistar / e eu não posso ficar aí parado ” {né, Raul}

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