Carlinhos “Sacolão”, presidente da Câmara, questiona monopólio do transporte coletivo em Itabira

Fotos: Carlos Cruz

Audiência pública vai debater demissão de cobradores, os impactos sociais da medida e a qualidade do serviço operado pela empresa Vita

Na reunião da Câmara Municipal de Itabira, nesta terça-feira (25), o presidente Carlos Henrique “Sacolão” Silva Filho (Solidariedade) questionou o monopólio do transporte coletivo na cidade, mantido desde 1968 pela empresa Cisne, hoje denominada Vita. A concessionária atua há mais de 57 anos na cidade sem concorrência.

Conforme destacou o vereador, ao receber recursos públicos por meio de subsídios às passagens, a empresa deve assumir também responsabilidades sociais.

“Não podemos aceitar que uma empresa que recebe aporte de R$ 50 milhões da Prefeitura para reduzir tarifas ignore o impacto de suas decisões sobre centenas de famílias”, afirmou, em referência à anunciada demissão de cobradores — tema que será discutido em audiência pública marcada para o dia 9 de dezembro, na Câmara Municipal.

“O transporte coletivo não é apenas negócio, é direito da população”, acrescentou o presidente da Câmara, ao cobrar da empresa maior compromisso com os usuários, tanto na qualidade do serviço prestado quanto na segurança de quem depende desse sistema municipal.

Carlinhos “Sacolão” ressaltou ainda que a Câmara tem o dever de dar voz à população. Disse ainda que não se trata de ser contra a empresa, mas de exigir que ela cumpra sua função social. “Esta Casa fez sua parte, aprovou recursos e garantiu subsídios. Agora é hora de cobrar da empresa responsabilidade e compromisso com Itabira, com os empregados e com os seus usuários”, reforçou.

Carlinhos “Sacolão” critica o monopólio da Vita no transporte coletivo de Itabira e cobra melhorias
Audiência pública vai debater demissão de cobradores

O ponto central da discussão foi a decisão da empresa de demitir cobradores de ônibus, substituindo-os por sistemas digitais de bilhetagem. Para os vereadores, a medida ameaça postos de trabalho e compromete a qualidade do serviço.

Carlinhos “Sacolão” destacou que o cobrador exerce papel humano essencial. “Ele não é apenas quem dá o troco. É quem acolhe o usuário, quem ajuda o cadeirante a embarcar, quem garante acessibilidade. A tecnologia é bem-vinda, mas não pode vir acompanhada da exclusão social.”

Para aprofundar o debate e mobilizar os usuários em torno da pauta, o vereador Reinaldo Soares de Lacerda (PSDB), presidente da Comissão de Transportes, apresentou requerimento para a realização de uma audiência pública no dia 9 de dezembro, às 19h, no plenário da Câmara.

O encontro deverá reunir representantes da empresa Vita, da Prefeitura, por meio da Transita, do Ministério Público e da sociedade civil.

Segundo Lacerda, o objetivo é discutir de forma técnica e transparente a situação do transporte coletivo na cidade, buscando soluções que conciliem modernização, sustentabilidade financeira e preservação de empregos.

Ele lembrou que a Câmara e a Prefeitura já fizeram sua parte ao aprovar e liberar recursos subsidiados ao usuário, repassados mensalmente à concessionária. “Agora é hora de cobrar da empresa responsabilidade social”, reforçou o parlamentar.

Reinaldo Lacerda convoca audiência pública para discutir a demissão de cobradores e a qualidade do transporte coletivo em Itabira
Preocupações sociais e os limites do Legislativo

Em seu pronunciamento, o vereador Rodrigo “Diguerê” Assis Silva (MDB) afirmou ser favorável à permanência dos cobradores, mas fez um alerta sobre os limites de atuação do Legislativo.

Segundo ele, o subsídio aprovado pela Câmara trata da chamada “tarifa técnica” – e não das funcionalidades internas da empresa, que pertencem à “seara privada” do grupo empresarial.

Destacou ainda que a tarifa técnica é definida pelo Conselho Municipal de Transporte e que o subsídio cobre parte desse custo, não os gastos operacionais diretos da concessionária.

Por isso, embora reconheça a importância social dos postos de trabalho e a preocupação com as famílias envolvidas, lembrou que o alcance da Câmara para determinar a manutenção de empregos é limitado.

O vereador Bernardo de Souza Rosa (PSB) também enfatizou o impacto social das demissões. “Estamos falando de pais e mães de família que dependem desse trabalho. A tecnologia é bem-vinda, mas não pode ser usada como justificativa para descartar pessoas”, disse.

Ele acrescentou: “É muito triste ver trabalhadores chegarem ao fim do ano sem saber se terão emprego no próximo. A empresa recebeu milhões em subsídios e precisa devolver isso em forma de qualidade e respeito. O transporte coletivo é serviço essencial e não pode ser tratado apenas como negócio.”

Já o vereador e sindicalista Ronaldo “Capoeira” Meireles de Sena (PRD) reconheceu que as novas tecnologias são inevitáveis, daí defendeu que a transição seja feita com responsabilidade.

“Não temos como impedir o avanço tecnológico, mas precisamos garantir que ele não destrua empregos sem oferecer alternativas. É preciso pensar em capacitação e em políticas de inclusão”, recomendou.

Outros vereadores também se manifestaram, reforçando que a audiência pública será oportunidade para a comunidade participar e cobrar soluções para a manutenção dos empregos. Houve consenso de que a empresa deve prestar contas à sociedade e de que a Câmara precisa se manter vigilante diante dessa situação.

Os parlamentares lembraram ainda que o transporte coletivo impacta diretamente o cotidiano de milhares de itabiranos, sendo indispensável preservar a dignidade dos trabalhadores e a qualidade do serviço.

Expectativa para o debate

A audiência pública marcada para o dia 9 de dezembro será um momento especial para discutir o futuro do transporte coletivo em Itabira. Mais do que um fórum de debate, será uma oportunidade de confrontar a empresa concessionária com as demandas da população e de exigir respostas claras sobre os rumos dessa concessão municipal.

A expectativa é que o encontro produza encaminhamentos objetivos para a garantia da manutenção dos empregos, ainda que em novas funções ou postos de trabalho, com medidas que assegurem a modernização tecnológica sem exclusão social.

Também deverá ser pauta da audiência a cobrança por transparência na aplicação dos recursos públicos, já que milhões de reais em subsídios foram repassados para sustentar o serviço.

Com a presença de representantes da empresa Vita, da Prefeitura/Transita, do Ministério Público e da sociedade civil, a audiência para ser sucesso precisa mobilizar a sociedade, sobretudo, os usuários.

Afinal, como salientaram os vereadores, o transporte coletivo não pode ser tratado apenas como negócio, mas como um direito essencial que impacta diariamente a vida de milhares de itabiranos.

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