Campanha eleitoral na feira livre e o pastel frito com garapa
Foto: Carlos Cruz
Rafael Jasovich
Fazendo campanha para uma candidata a deputada federal fomos a uma feira livre conversar com os eleitores.
Feira livre já sugere um local multitudinário e frequentada por todas as classes sociais sem distinção de credo, cor, gênero e idade.
Mas eu pensava e lembrava de outros tempos e como gostava do pastel e do caldo de cana.
A ciência conseguiu com suas pesquisas proibir a fritura. Ou quase.
Descobriu que o colesterol mata e, mais que depressa, todos os jornais, revistas e TVs despejaram sobre nós toneladas de advertências.
Quem lê sabe. Quem sabe tem culpa e assim estragaram mais um dos meus prazeres – o pastel da feira, sempre tão bem acompanhado pelo caldo de cana – esse também, coitado, proibido.
Açúcar, gordura, glúten, ovo, farinha branca, óleo de soja, leite. A lista de proibições não para de crescer e de aborrecer aqueles que, como eu, adoram comer livremente tudo que é gostoso, como o pastel da feira: recheado, fumegante, que queima a boca dos afoitos.
Esses pastéis feitos com paciência oriental fritam em tachos de óleo usado e reusado.
O pastel grande, dourado, que iluminava minhas manhãs de sábado, que tornava suportável as andanças pela feira, de barraca em barraca, carregando sacolas pesadas, ao lado de minha mãe. Já não tenho mais, só na lembrança em busca desse tempo perdido.
Há anos não provo esta iguaria. Eu, que a tudo obedeço em nome da saúde, deveria ser fiel ao meu desejo, saciar a minha vontade e mandar às favas a ciência e a sabedoria. Mas a idade e a saúde me fazem obedecer.