Câmara promove, nesta terça-feira, audiência pública para ouvir a população sobre os impactos da poeira da mineração em Itabira

Foto: Carlos Cruz

Após ouvir a professora Ana Carolina Vasques, da Unifei, doutora em Ciências Atmosféricas, que ocupou a tribuna na sessão ordinária do dia 24 de outubro, apresentar um quadro preocupante sobre as doenças respiratórias, por iniciativa do vereador Weverton “Vetão” Andrade (PSB) a Câmara Municipal promove nesta terça-feira (21), às 19h, a primeira Audiência Pública sobre o pó preto carregado de partículas de minério que recorrentemente polui o ar da cidade de Itabira.

Com o tema Impactos da poluição atmosférica em Itabira, na audiência os vereadores esperam ouvir relatos dos moradores, por exemplo, se em suas casas têm familiares que sofrem com doenças respiratórias (asma, rinite, sinusite, faringite) e se são agravadas no período de maior poluição do ar por partículas de minério em suspensão, provenientes das minas da mineradora Vale.

Espera-se também ouvir os representantes da Vale, que terão a oportunidade de apresentar o que já está sendo feito para diminuir a poeira – e quais são as novas tecnologias que devem ser empregadas no próximo período de estiagem para mitigar a poluição do ar, assim como os seus impactos na saúde da população.

Contaminantes

Embora tenha vereador que ache que a poluição do ar em Itabira não é responsabilidade quase exclusiva do principal agente poluidor, que são as minas da Vale, estudo científico realizado em 2016 por pesquisadores da Unifei para avaliar a composição do material particulado que polui a cidade Itabira, constatou a presença preponderante de ferro, mas também de outros metais pesados.

E o mais grave, esses particulados são dispersos no ar de Itabira com concentrações maiores que as encontradas em grandes capitais como São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Curitiba, informou a professora da Unifei na reunião ordinária da Câmara Municipal.

Como exemplo desses metais, Ana Carolina citou a presença de titânio, crómio, vanádios, chumbo. “Fizemos esse levantamento para avaliar quais são os impactos à saúde”, disse a professora, explicando que o objetivo foi saber como isso reflete na qualidade de vida do itabirano exposto a esses poluentes.

“A pergunta que nos norteou nesse estudo foi verificar quantas internações por doenças respiratórias e cardiovasculares são associadas à exposição das pessoas ao material particulado fino de 2,5 µg/m³, utilizando-se a mesma metodologia da Organização Mundial de Saúde.”

O resultado é preocupante e está a exigir políticas públicas urgentes – e não provas científicas de que a poeira que encobre a cidade vem mesmo das minas e pilhas descobertas da mineradora Vale.

Leia mais sobre os impactos do pó preto carregado de partículas de minério aqui:

Poeira da Vale agrava doenças respiratórias e cardiovasculares em Itabira, causa mortes prematuras e onera o sistema de saúde, afirma pesquisadora da Unifei

Representatividade

Com a audiência pública, além de ouvir a população itabirana e especialistas no tema, a expectativa é também para que a mineradora Vale, por meio de seus representantes, apresente o que tem feito para diminuir a poeira.

“Queremos ouvir todos os lados para depois apresentar propostas de políticas públicas que possam melhorar a qualidade do ar que respiramos em Itabira”, explica o vereador Vetão, para quem a audiência pública é uma oportunidade para a população se manifestar e também cobrar medidas mais eficazes no combate à poeira.

“Teremos a participação de representantes da Vale, da Prefeitura, do Ministério Público, especialistas e da população para que possamos fazer um amplo debate sobre como podemos melhorar a qualidade atmosférica em nossa cidade, com propostas que possam ser implementadas no curto, médio e longo prazo”, disse ele.

Hortos florestais

Entre as medidas, além daquelas que são obrigações de fazer da mineradora Vale, da qual se espera venha a apresentar novidades tecnológicas que possam ser implementadas desde já, é preciso que a Prefeitura de Itabira também faça a sua parte.

Para isso, deve monitorar e vistoriar os veículos automotivos visando diminuir a emissão de gases nocivos ao meio ambiente e à saúde da população, como também arborizando a cidade, formando hortos florestais, ocupando áreas verdes em diferentes pontos da cidade.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Itabira dispõe de apenas 25,2% de suas vias públicas arborizadas. Com isso, a cidade quase não tem sombra e a população sofre com o sol escaldante, principalmente agora com as ondas de calor – e com a poeira que poderia ser em parte retida nas copas se mais árvores existissem.

Em decorrência, Itabira ocupa a 4.980º posição entre os 5.570 municípios brasileiros no ranking dos mais arborizados. Ou seja, somente 581 municípios brasileiros contam com menos árvores no perímetro urbano que Itabira, a cidade que um dia já foi do Mato Dentro.

Confira aqui https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/itabira/panorama).

No estado de Minas Gerais, Itabira está na 752ª posição nesse mesmo ranking de cidades verdes, entre as 853 cidades mineiras. Isso significa que apenas 101 cidades mineiras são menos arborizadas que a terra de Drummond.

E na microrregião, a cidade é a 15ª mais arborizada entre os 18 municípios vizinhos – somente três tem menos árvores por habitante no perímetro urbano que Itabira.

Para agravar a situação, no governo passado a Prefeitura “desafetou” áreas verdes na avenida Mauro Ribeiro, área nobre da cidade – e também no bairro Novo Amazonas, ao invés de formar hortos florestais.

Essas áreas foram vendidas em leilão para particulares. Segundo justificativa da administração anterior, o objetivo foi obter recursos para abrir a avenida Machado de Assis e executar terraplanagem para construção de apartamentos populares.

“Esperamos que a população itabirana compareça na audiência pública trazendo a sua contribuição e para que possa debater com especialistas, autoridades e representantes da Vale medidas que melhorem a qualidade do ar e, consequentemente, da vida de todos que aqui vivem e trabalham”, convida o vereador Vetão.

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