Brasil tem mais idosos do que jovens no eleitorado de 2022
O Brasil está passando pela transição demográfica e a tendência é que o número de jovens continue diminuindo e o número de idosos permaneça em crescimento
Por José Eustáquio Diniz Alves
EcoDebate – O eleitorado brasileiro, seguindo uma tendência que ocorre para toda a população nacional, tem mais idosos e menos jovens a cada eleição. No mês de janeiro de 2022 havia apenas 731 mil jovens de 16 e 17 anos cadastrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e 18,4 milhões de jovens de 18 a 24 anos.
Mas depois de intensa campanha para o alistamento eleitoral os números subiram em maio de 2022 e chegaram a 2,53 milhões de adolescentes de 16 e 17 anos e 19,7 milhões de jovens de 18 a 24 anos até o final do prazo para o cadastramento. Desta forma, o número de jovens de 16 a 24 anos passaram de 19,1 milhões em janeiro para 22,2 milhões em maio de 2022.
Mesmo assim, o número de jovens aptos para votar em 2022 representa o menor valor desde a primeira eleição presidencial do século XXI. O gráfico abaixo mostra que, em 2002, havia 24,4 milhões de jovens de 16 a 24 anos cadastrados no TSE e este número caiu para 22,2 milhões em 2022, enquanto o número de idosos de 60 anos e mais passou de 15,2 milhões em 2002 para 30,6 milhões em 2022. Portanto, o número de idosos ultrapassou o número de jovens em 2014 e a diferença entre os dois grupos é cada vez mais favorável aos idosos.
O gráfico abaixo mostra a percentagem de jovens e idosos no total do eleitorado. Observa-se que houve uma inversão no período. Em 2002 os jovens representavam 21,2% do eleitorado e os idosos somente 13,2%. Em 2014 houve a inversão (16,8% dos idosos contra 16,3% dos jovens). Em 2022, os jovens caíram para 14,5% e os idosos subiram para 19,9% do eleitorado total.
Nos 20 anos em questão, os eleitores de 25 a 59 anos representam cerca de 2/3 do eleitorado e a soma do eleitorado jovem e idoso perfazia em torno de 1/3 do eleitorado, mas com um peso cada vez maior dos idosos e um peso cada vez menor dos jovens.
Como o Brasil está passando pela transição demográfica (passagem de altas a baixas taxas de natalidade e mortalidade), a tendência é que o número de jovens continue diminuindo e o número de idosos permaneça em crescimento.
O gráfico abaixo, com base nos dados da Divisão de População da ONU, mostra que, entre 1950 e 1985 havia 3 vezes mais jovens (16-24 anos) do que idosos (60 anos e +) no Brasil. Em 2020 houve empate entre os dois grupos.
No final do século XXI, o peso dos idosos deve passar para cerca de 40% da população e o peso dos jovens de 16 a 24 anos deve ficar em torno de 8%. Portanto, vai haver cerca de 5 vezes mais idosos do que jovens de 16 a 24 anos na última década do século XXI.
Será que o envelhecimento populacional fará o eleitorado ficar mais conservador?
Essa é uma pergunta difícil de responder, pois os humores do eleitorado variam com o tempo. Mas, de fato, a literatura mostra que o eleitorado idoso tende a ser um pouco mais conservador do que os jovens eleitores. Todavia, isto varia entre os países e sofre mutações ao longo da história.
A título de ilustração e considerando as tendências da opinião pública nas eleições presidenciais de 2022, podemos verificar as tendências de voto entre os diferentes grupos etários. A tabela abaixo, com dados da última pesquisa Datafolha para o 1º turno das eleições presidenciais, mostra que, entre o eleitorado total, o candidato Lula tem 48% de votos e Bolsonaro 27%. Entre os jovens de 16 a 24 anos a diferença é bem maior com 58% contra 21%. Já no eleitorado idoso a diferença é menor, onde Lula aparece com 47% e Bolsonaro 30%.
Desta forma, tanto o eleitorado jovem quanto o eleitorado idoso tende a votar majoritariamente no candidato de esquerda em 2022. A diferença é que os jovens apresentam maior proporção de voto em Lula do que os idosos. Mesmo assim, segundo a pesquisa Datafolha, no cenário atual, Lula ganharia no 1º turno em todas as faixas etárias e não haveria diferença substancial para população de 60 anos e mais.
Existem muitos países com estrutura etária mais envelhecida do que o Brasil e que apresentam um eleitorado mais progressista e mais liberal nos costumes (como os países nórdicos, por exemplo). Por conseguinte, existe um amplo leque de possibilidades entre o posicionamento político e o envelhecimento populacional. A literatura demográfica mostra que não existe determinismo entre as gerações e a análise política não pode ser contaminada pelo etarismo.