Brasil está fora do Mapa da Fome, diz a ONU, mas desigualdades sociais ainda persistem em meio a desafios econômicos

Foto: Divulgação/
Ascom/Gov/Br

Por Valdecir Diniz Oliveira*

O anúncio da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), retirando o Brasil do Mapa da Fome em 2025, marca um momento simbólico e relevante para o país.

A decisão foi baseada em dados que mostram menos de 2,5% da população brasileira em situação de subnutrição entre 2022 e 2024. Embora o índice represente uma melhora significativa, ele não encerra o problema da insegurança alimentar, que ainda afeta milhões de brasileiros em diferentes graus.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva celebrou o feito como uma conquista social, destacando os esforços de seu governo para reconstruir políticas públicas voltadas à segurança alimentar e à inclusão social.

A retomada de programas como o Bolsa Família, o fortalecimento da agricultura familiar e a ampliação da alimentação escolar foram peças-chave nesse processo. Além disso, a valorização do salário mínimo e o estímulo à formalização do trabalho contribuíram para melhorar o acesso à renda e ao consumo básico.

Avanços econômicos em meio a restrições políticas

Apesar dos avanços, o cenário econômico brasileiro continua marcado por desafios estruturais. A taxa de desemprego caiu para 6,2% em maio de 2025, o menor nível desde 2012, e o número de trabalhadores com carteira assinada atingiu um recorde de 39,8 milhões. Esses dados indicam uma recuperação do mercado de trabalho, mas não necessariamente uma melhora na qualidade dos empregos ou na distribuição de renda.

A economia brasileira tem mostrado resiliência, com crescimento estimado de 2,18% para 2025 segundo o Boletim Focus do Banco Central. O Fundo Monetário Internacional projeta expansão de 2,3%, sustentada por setores como agropecuária e indústria extrativa.

No entanto, o crescimento ainda é insuficiente para promover uma transformação estrutural. A concentração de renda continua elevada, e o sistema tributário permanece regressivo, penalizando os mais pobres com impostos sobre consumo e serviços.

Redistribuição de renda e mercado interno: os próximos passos

A proposta de reforma do Imposto de Renda enviada ao Congresso em 2025 busca corrigir parte dessas distorções. Ela prevê isenção para rendas até R$ 5.000 e alíquotas mais altas para os super-ricos, além da criação de um imposto mínimo sobre grandes fortunas.

Estudos do Ministério da Fazenda indicam que a reforma pode reduzir o índice de Gini e tornar o sistema mais progressivo, mas sua aprovação enfrenta resistência política e interesses econômicos consolidados.

A ampliação do mercado interno, essencial para sustentar o crescimento econômico e reduzir a dependência de exportações, também esbarra em limitações. O consumo das famílias, embora tenha crescido no início do ano, mostra sinais de desaceleração, afetado por juros altos e endividamento.

A taxa Selic, mantida em 14,75% ao ano, encarece o crédito e limita investimentos produtivos. A inflação, embora controlada, ainda pressiona os preços de alimentos e serviços básicos.

Em meio a esse cenário, a saída do Brasil do Mapa da Fome é uma conquista relevante, mas não definitiva. Ela demonstra que políticas públicas bem desenhadas podem produzir resultados concretos mesmo em ambientes adversos.

Ao mesmo tempo, evidencia que o país precisa avançar em reformas estruturais para garantir justiça social, ampliar o mercado interno e consolidar um modelo de desenvolvimento mais inclusivo e sustentável, com justa distribuição de renda e oportunidades para todos os brasileiros.

*Valdecir Diniz Oliveira é cientista político, jornalista e historiador

 

 

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