Bolsonaro nomeia Edson da Costa Bortoni, que é “terrivelmente evangélico”, para reitor da Unifei

O presidente Jair M. Bolsonaro (sem partido) nomeou para a reitoria da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), que tem campus avançado em Itabira, o professor Edson da Costa Bortoni, conforme foi publicado nesta sexta-feira (10) no Diário Oficial da União. Ele irá exercer o cargo por um mandato de quatro anos.

Bortoni, dizem estudantes universitários ouvidos pela reportagem na condição do anonimato, é perfeitamente afinado com o presidente da República – e “é terrivelmente evangélico”, como tem sido a preferência do primeiro mandatário do país para preenchimento de cargos de confiança na esfera federal.

Print do whatsapp, realizado por estudantes, com mensagens atribuída ao professor Edson Bortoni, contra os seus concorrentes (Fonte: Tribuna Universitária)

O reitor nomeado foi o segundo colocado entre os três candidatos que disputaram a reitoria. Durante a campanha, o novo reitor teria esquecido aberto a página de seu whatsapp com a montagem de um dossiê contra os seus concorrentes, que “seriam esquerdistas.” Estudantes fizeram print da página e divulgaram na rede social.

Dizem ainda que a sua candidatura teve apoio da bancada evangélica na Câmara dos Deputados e também da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).

Na consulta realizada entre a comunidade universitária, em 9 de setembro, o primeiro colocado foi o professor Marcel Fernando da Costa Parentoni, atual vice-reitor. Em terceiro lugar ficou o professor José Arnaldo Barra Montevechi.

Polêmicas

Depois que vazou o suposto dossiê, o novo reitor negou peremptoriamente que tenha sido o autor do documento encaminhado à presidência da República. Entretanto, em entrevista ao site Tribuna Universitária , o professor Edson Bortoni confirmou a existência do dossiê.

Disse ainda que teria deixado aberto o seu whatsapp durante uma aula e que, acidentalmente, compartilhou a tela com a postagem na área pública de um aplicativo de videoconferência. Foi quando os estudantes fizeram o print do tal dossiê.

“O professor não negou que haja um dossiê, porém negou que seja seu autor e também que tenha mandado fazê-lo. Alegou que recebeu o documento de outra pessoa e que não tinha conhecimento do seu conteúdo até abri-lo”, registra a reportagem.

Em nota divulgada na Unifei, o reitor nomeado por Bolsonaro confirmou que, durante o “intervalo da minha aula através do Google Meet nesta manhã (podem perguntar aos alunos presentes), abri um documento que recebi no WhatsApp, no qual constava um texto e fotos dos outros candidatos à Reitoria da UNIFEI. O uso desses recursos não faz parte de meus princípios.”

Ainda segundo ele, a “tela estava compartilhada, fizeram um “screen-shot” desautorizado e maldoso, e foi o que bastou para que um post se alastrasse feito rastilho de pólvora, ‘como se eu fosse autor do documento’ e ‘alegando que eu estaria preparando um dossiê”. Não tive chance de me defender…”, afirmou o novo reitor Edson da Costa Bortoni. 

Dagoberto ironiza dossiê que o rotula como perigoso esquerdista

Dagoberto com a ex-presidente Dilma Rousseff em 2013: “a prova de que ele seria um perigoso esquerdista.”

Em resposta ao dossiê, o atual reitor Dagoberto Alves de Almeida, cujo mandato encerra agora em dezembro, e que teve sua foto ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff divulgada no documento atribuído ao reitor escolhido por Bolsonaro, apresenta, no site da Unifei, resposta ironizando toda a situação.

Intitulada “Contribuições para o “Dociê”, o atual reitor trata o documento como “uma peça tosca, incorreta e maledicente não apenas com relação à atual administração, mas também permeada de preconceitos”.

Ele disse que a sua foto com a ex-presidente foi tirada em 2013, quando esteve em Brasília representando a Unifei por ocasião da entrega do Prêmio Jovem Cientista, cujo “1º lugar foi obtido pelo nosso aluno Gustavo Meirelles Lima na categoria Mestrado e Doutorado”.

Disse ainda o reitor Dagoberto que, “da mesma forma, seguindo essa mesma linha de raciocínio, sugiro que seja acrescentado ao dossiê a foto na qual tivemos a honra de receber na Unifei, em 2019, o senhor Vice-Presidente da República, Hamilton Mourão, ocasião em que foi calorosamente recebido por muitos de nossos alunos.”

Macarthismo

Dagoberto com o vice-presidente Hamilton Mourão: a prova de que ele não seria um perigoso esquerdista

Segundo Dagoberto Almeida, ao publicar no dossiê a foto de 2013, o objetivo teria sido desgastá-lo junto à presidência como um “militante radical de esquerda, assim como todos os que com ele trabalham e que, por decorrência, são todos opositores da linha ideológica do presente governo”.

Para a sua sucessão, Dagoberto apoiou a candidatura de Marcel Fernando da Costa Parentoni, que ficou em primeira colocação na consulta pública perante a comunidade acadêmica da Unifei.

Dagoberto classificou o ato como sendo de “um acachapante mau-caratismo”. Disse também que “quem rotula a mim e aqueles que fazem parte desta administração como sendo desta ou daquela linha extremista, de esquerda ou de direita, segue a lógica da separação, da divisão e da desavença”, atitude que seria “de quem procura a polarização do extremismo ideológico, que tanto prejudica nossas instituições e nosso povo”.

Para o reitor, essa conduta seria decorrente de “atuação de apoiadores de campanha que se intitulam como guardiães da moral alheia”. E finaliza, com ironia: “A propósito, já ia me esquecendo de uma última contribuição: dossiê não se escreve com c.”

 

4 Comentários

  1. Terrivelmente evangélico? BO por preconceito sendo feito em 3, 2,1 …. inimaginem uma matéria assim: “presidente nomeia fulano terrivelmente homossexual” …. ou outra assim “ presidente nomeia fulano terrivelmente espírita” ou “ terrivelmente umbandista”….

    HIPOCRISIA, DESRESPEITO E CRISTOFOBIA a gente vê por aqui!!!!

  2. A expressão “terrivelmente evangélico” foi empregada pelo presidente Bolsonaro, quando disse que iria nomear um ministro “terrivelmente evangélico” para o STF, ou estou enganada?

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