Boas razões para acreditar que Lula é reeleito em 2026
Segundo o instituto DataFolha, Lula tem vantagem em todos os cenários
Foto: Ricardo Stuckert
O presidente e o desafio de reconstruir o Brasil com desenvolvimento e justiça social em meio às resistências conservadoras
Por Valdecir Diniz Oliveira*
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está diante de um momento histórico, em que a reconstrução do Brasil exige não apenas coragem política, mas também uma visão estratégica que alinhe desenvolvimento econômico, inclusão social e enfrentamento às contradições estruturais do capitalismo brasileiro.
Após enfrentar um desgaste significativo causado por fake news envolvendo mudanças no Pix para coibir lavagem de dinheiro e outros ilícitos, Lula começa a recuperar sua popularidade.
Pesquisa Datafolha divulgada nesse sábado (5) mostra que o presidente venceria todos os nomes apoiados por Jair Bolsonaro (PL) se as eleições de 2026 fossem hoje. Mesmo em um cenário hipotético em que Bolsonaro recuperasse seus direitos políticos, Lula ainda sairia vitorioso, com 36% das intenções de voto contra 30% do ex-presidente.
O levantamento, que ouviu 3.054 pessoas em 172 municípios entre os dias 1º e 3 de abril, aponta que Lula lidera em todos os cenários testados, consolidando sua posição como favorito para a reeleição. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Reforma tributária como pilar da reconstrução
Nesse cenário de mudanças, a reforma tributária proposta pelo governo é um marco essencial para que ocorra avanço socioeconômico, que beneficie a maioria do povo brasileiro.
Ao buscar uma redistribuição mais justa da carga tributária, o governo propõe isentar do Imposto de Renda aqueles que recebem até R$ 5 mil mensais, enquanto implementa a tributação de dividendos e grandes fortunas, algo inédito no Brasil, mas comum em países com economias mais avançadas.
Essa mudança visa corrigir décadas de desigualdades no sistema fiscal, onde a maior parte da carga tributária recai sobre o consumo e penaliza as classes trabalhadoras e de baixa renda.
A proposta também inclui a simplificação do complexo sistema tributário brasileiro, que é frequentemente apontado como um dos grandes entraves para o desenvolvimento econômico.
A unificação de tributos como PIS e Cofins em um IVA (Imposto sobre Valor Adicionado) nacional é um passo na direção de aumentar a eficiência e a transparência tributária, beneficiando empresas e consumidores.
Além disso, a reforma alinha-se a práticas globais que visam promover equidade e estimular o crescimento econômico sustentável. Países como França e Alemanha, por exemplo, utilizam a tributação progressiva e impostos sobre riqueza para investir em infraestrutura, saúde e educação, reduzindo as desigualdades sociais.
O governo brasileiro espera seguir essa trajetória ao direcionar recursos para programas sociais, modernização da infraestrutura e estímulo à industrialização.
Contudo, os desafios políticos permanecem significativos. A resistência de setores conservadores, somada ao fisiologismo do Congresso Nacional, tem dificultado a aprovação de propostas mais ambiciosas.
Ainda assim, o governo segue empenhado em mobilizar apoio para essa transformação estrutural, essencial para reduzir desigualdades históricas e impulsionar o desenvolvimento do país.
Segurança alimentar e modelos globais
O fortalecimento do Bolsa Família e a expansão de programas de segurança alimentar são políticas públicas que não apenas combatem a fome, mas também promovem inclusão social e dinamizam a economia.
Esses programas têm como inspiração iniciativas globais, como o Oportunidades do México, que condiciona benefícios à frequência escolar e vacinação, e o Progresa da Colômbia, que aposta na formação humana como base do desenvolvimento sustentável.
Essas políticas demonstram que redistribuição de renda é fundamental para enfrentar desigualdades e construir uma sociedade mais equitativa. No entanto, a resistência a esses avanços se intensifica em um cenário onde setores conservadores têm forte influência, como se observa.
Resistências conservadoras: setores ruralista, evangélico e da bala
No Brasil, o conservadorismo é representado por forças políticas como as bancadas ruralista, evangélica e da bala. A bancada ruralista resiste a pautas ambientais e à proteção de terras indígenas, priorizando interesses do agronegócio.
Já a bancada evangélica impõe barreiras a discussões sobre direitos LGBTQIA+ e outras questões sociais, enquanto a bancada da bala defende políticas de segurança que promovem armamento em detrimento de abordagens preventivas e mudanças urgentes e necessárias no próprio aparato policial.
Esses grupos conservadores exercem forte influência no Congresso, retardando reformas estruturais e bloqueando avanços em pautas progressistas.
Como disse Antônio Gramsci (1891-1937), filósofo marxista italiano, esses setores conservadores atuam como uma “vanguarda do atraso,” resistindo às transformações que poderiam modernizar o país social e culturalmente.
Com o conceito de “vanguarda do atraso”, Gramsci dizia que, ao resistir ao progresso e às mudanças sociais, forças conservadoras agiam para perpetuarem estruturas e mentalidades arcaicas que atrasam o desenvolvimento social e cultural de uma sociedade.
Essas forças conservadoras não se limitam à passividade. Elas frequentemente se organizam de forma ativa e violenta para preservar o status quo e combater movimentos progressistas que visam modernizar ou transformar a sociedade, inclusive com tentativas de golpe de Estado.
Isso cria um paradoxo que o Brasil vive intensamente, com a polarização que divide o país: enquanto se posicionam como defensores da estabilidade e tradição, acabam liderando processos que impedem ou retardam avanços necessários. Nessa conjuntura, o confronto é inevitável com as forças progressistas.
Ainda de acordo com Gramsci, com a ideia de hegemonia, central em sua teoria, explica-se como determinados grupos mantêm o poder ao controlar as ideias e valores predominantes na sociedade.
Assim, a “vanguarda do atraso” seria composta por grupos que utilizam seu poder ideológico e político para resistir às transformações que poderiam beneficiar coletivamente a sociedade, preferindo manter privilégios específicos.
Pois essa ideia se aplica perfeitamente ao que vivemos hoje no Brasil. Os desafios políticos são muitos com a resistência de setores conservadores, somada ao fisiologismo do Congresso Nacional, o que tem dificultado a aprovação de propostas progressistas mais ambiciosas.
Ainda assim, o governo segue empenhado em mobilizar apoio para essa transformação estrutural, essencial para reduzir desigualdades históricas e impulsionar o desenvolvimento do país.
Contradições econômicas e desafios históricos
Uma das maiores contradições estruturais do Brasil é sua dependência da exportação de commodities, enquanto importa bens de capital de alto valor agregado.
A Lei Kandir, que isenta exportações de produtos primários do ICMS, penaliza municípios mineradores como Itabira que, até a década de 1980, foi o principal produtor de minério de ferro do país, exportado em sua quase totalidade sem agregar maior valor ao município e mesmo para o país.
A Associação dos Municípios Mineradores (AMIG) tem lutado pela revogação dessa lei, o que poderia aumentar a arrecadação local e apoiar investimentos regionais. Mas essa questão ainda não recebeu atenção especial do governo no bojo da reforma tributária, infelizmente.
Com o aumento das importações de bens de capital (maquinários agrícolas, industriais) o déficit na balança de pagamentos, que alcançou US$ 64,9 bilhões em 2024, ressalta a urgência de diversificar a base produtiva nacional e estimular a industrialização.
O governo Lula busca superar essas limitações com incentivos à inovação e políticas industriais modernas, como o fortalecimento do BNDES e parcerias público-privadas voltadas à tecnologia.
Perspectivas para 2026
Apesar dos obstáculos, pesquisas recentes, como as do Datafolha, apontam Lula como favorito em qualquer cenário, inclusive contra Bolsonaro, caso este disputasse, hipótese inteiramente descartável, uma vez que o ex-presidente foi declarado inelegível por oito anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em junho de 2023.
A mudança de humor e a crescente percepção da realidade tal como ela é, sem fakes news, por amplos setores da sociedade brasileira refletem uma renovada confiança na capacidade de reconstrução do país.
A combinação de políticas públicas que priorizam redistribuição de renda, reforma tributária e estímulo à inovação tecnológica coloca o governo em uma posição estratégica para consolidar avanços até 2026.
No entanto, a mobilização da sociedade será crucial para superar as forças conservadoras e garantir um futuro mais inclusivo e sustentável.
Como na emblemática Canção pela Unidade de Latinoamérica, composta por Chico Buarque e Pablo Milanés, em que se canta que “a história é um carro alegre, cheio de um povo contente, que atropela indiferente todo aquele que a negue”, a metáfora reflete o dinamismo e a inevitabilidade das transformações históricas.
Nesse contexto, Lula parece determinado a não ser apenas um espectador dessa história, mas seu protagonista, liderando as reformas necessárias e urgentes que o país tanto demanda. Que seja reeleito em 2026.
*Valdecir Diniz Oliveira é cientista político, jornalista e historiador