Bernardo Rosa foi a Serra dos Alves e viu esgoto correndo a céu aberto, ocupação desordenada do solo e ETA que não funciona

Esgoto escorre a céu aberto no povoado e mau-cheiro é percebido por quem passa perto

Fotos: Eduardo Cruz

Depois de discorrer sobre a função do parlamentar, que é legislar e sobretudo fiscalizar o poder executivo municipal, o vereador Bernardo Rosa (Avante), da base governista, na sessão dessa terça-feira (23) contou que visitou o povoado Serra dos Alves, bucólico vilarejo do distrito de Senhora do Carmo – e não gostou do que viu.

Bernardo Rosa foi a Serra dos Alves e pede urgentes providências (Foto: Carlos Cruz)

Ele observou, e disse estar preocupado com a ocupação desordenada do solo, com construções que não observam o Plano Diretor, inclusive com ocupações fora do perímetro urbano do povoado.

Tudo isso, além da falta de saneamento adequado, inclusive com esgoto correndo a céu aberto, conforme já reportou este site em uma série de reportagens.

“O que vi é muito preocupante. Vou levar todas essas essas questões ao prefeito”, disse o vereador. Ele espera que sejam tomadas medidas urgentes, sob pena de comprometer o futuro sustentável do povoado.

É que se o esgoto chegar ao rio Tanque, e aos seus afluentes, compromete-se a qualidade de vida dos moradores e o turismo ascendente que está tendo por lá.

Água de beber

Em seu breve relato, faltou ao vereador mencionar a já crônica deficiência no suprimento de água no povoado, principalmente quando ocorre maior fluxo de turistas, em uma região em que o “precioso líquido” jorra em abundância, ainda livre de poluição.

A Estação de Tratamento de Água (ETA), construída pela administração passada, virou “elefante branco”, sem entrar em operação por inviabilidade técnica, sem condições de captar água do rio e bombear até o povoado.

A alternativa apresentada pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), de abertura de poços profundos, não agrada aos moradores, que querem manter e melhorar o atual sistema de captação de nascentes.

Em reunião de moradores, promovida pelo Instituto Bromélia, em 25 de abril, a proposta do Saae foi rechaçada. A reunião contou com a participação de 24 moradores presenciais e mais 26 participantes virtuais, via internet.

Segundo registro em ata, a proposta de abertura de poços artesianos foi apresentada como única alternativa pelo Saae. Como justificativa, a autarquia repete o que foi dito pelos seus técnicos em reunião do Codema, em 10 de fevereiro.

“A comunidade do Palmital, que é maior que Serra dos Alves, é atendida por poços artesianos e lá não há falta de água como se observa em Serra dos Alves”, disse o diretor técnico do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Júlio Saldanha, defendendo a abertura de poços profundos.

É assim, ao apresentar essa única alternativa, que o Saae tem descartada a continuidade e a melhoria da captação das águas de nascentes que estão à montante do povoado.

A técnica em Meio Ambiente do Saae, Camila Ferreira, na mesma reunião do Codema, procurou explicar o motivo dessa opção não ser considerada viável pela autarquia.

“A água de insurgência, superficial, pode não ser suficiente para todo ano e a nascente pode secar. Se isso acontecer, a responsabilidade recai sobre o outorgado. Daí que a captação superficial não é a melhor saída para Serra dos Alves, por não garantir o fornecimento de uso contínuo”, ela defendeu na reunião do Codema. “A solução dos poços artesianos nos parece ser a mais indicada”, reforçou.

ETA construída pelo Saae na administração passada é descartada por inadequação pela atual gestão

Críticas

Os moradores criticam a autarquia por não ter participado da reunião comunitária e participativa realizada no povoado, para discutir as alternativas para a água, como também para o esgoto sanitário, que tem sido tratado por fossas sépticas – e que, em muitos casos, não têm sido suficientes para o correto controle dos efluentes.

“O Saae descartou essa possibilidade de participação na reunião através de ofício, disse que não poderia participar presencialmente e nem remotamente”, é o que foi registrado em ata da reunião. O ofício foi assinado pela presidente do Saae, Karina Rocha Lobo e pelo diretor técnico Operacional, Júlio Ismael Saldanha.

Na reunião, foi apresentado um documento registrado em Cartório, encaminhado pelo morador Agnal Oliveira, em que consta a autorização para a Prefeitura fazer a captação e a canalização da atual água de nascente que abastece o povoado. Segundo Agnal,essa nascente nunca secou.

O engenheiro sanitarista Paulo Therezo, que participou virtualmente da reunião, também considera que a captação de água de nascentes é a melhor alternativa para o abastecimento no povoado.

Mas ele diz que para isso é preciso melhorar a rede de abastecimento, que é cheia de “puxadinhos”, o que acarreta índices elevados de perdas.

Ele até concorda que a captação de água por meio de poço profundo, do aquífero abaixo do lençol freático, como são os poços existentes em Itabira, nas Três Fontes, não compromete as nascentes, diferentemente do que teme muitos moradores de Serra dos Alves. Mas ele vê essa opção como desnecessária – e cara.

Sem saneamento básico adequado, risco de poluir o rio Tanque e suas nascentes é grande

Debate e pesquisa

“Não pode ser esse pegar ou largar, como tem sido apresentado pelo Saae, com essa alternativa de poços artesianos”, disse ele, lembrando que o prefeito tem proposto a volta do orçamento participativo, e que isso deve ser praticado também pela autarquia municipal.

“O Saae alega que a nascente pode secar e faltar água no povoado. O poço profundo demanda energia para o bombeamento. E se faltar energia elétrica, como vai ser feito o abastecimento?”, ele questiona em entrevista a este portal de notícias.

“Edinho, morador que cuida da captação e de sua preservação, disse que só pela atual nascente que abastece o povoado é possível encher uma caixa d’água de 10 mil litros em uma hora. É muita água disponível de nascente, não tem porque abrir poço artesiano”, defende Paulo Therezo.

Daí que ele propõe que, antes de o Saae apresentar uma proposta fechada de abertura de poço tubular (ou profundo), que seja feito um diagnóstico de toda essa situação encontrada no povoado, o que inclui também a ineficiência do atual meio de tratamento de esgoto, o que visivelmente já está comprometendo a qualidade ambiental, com risco de poluição do rio Tanque e de seus afluentes.

Therezo sugere que esse diagnóstico seja feito por meio de parceria do Saae com a Unifei. “Lá eles têm especialistas que podem fazer um levantamento de toda essa situação e apontar quais são as soluções mais adequadas para o abastecimento de água no povoado, como também para o tratamento adequado do esgoto”, sugere.

Para saber mais, acesse:

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