Barragens: compromisso ambiental e social, o que fica da mineração?
Maria Alice de Oliveira Lage*
Como afirma o escritor Eduardo Galeano em seu livro As veias abertas da América Latina “temos guardado um silêncio bastante parecido com a estupidez”. Minas Gerais doou de suas entranhas a riqueza para gerar lucro para as empresas mineradoras e receitas para o país.
Seus minérios supriram não só o mercado interno, mas também, e principalmente, o mercado externo. Os terrenos são revolvidos, populações são levadas para outros locais, o ecossistema é destruído, as águas são poluídas e reduzidas, as nascentes agonizam e as cidades se veem cercadas de barragens, que ameaçam seus habitantes na chamada “rota da morte”.
Os moradores das cidades mineradoras convivem com a insegurança e a desinformação. Basta lembrar Mariana, Brumadinho e outras. Vidas ceifadas, corpos desaparecidos, moradias e pequenas propriedades rurais destruídas, a desvalorização das áreas, a dor, a saudade, a história de vida, tudo desaparece na “lama”. Como recuperar seus sonhos, seus ideais, seu habitat e suas relações sociais?
Na “rota da morte” os imóveis perdem seu valor e seus proprietários suas marcas identitárias, ou seja, o que o distingue e o aproxima da coletividade em que se insere. Quem irá ressarcir?
Itabira está “ilhada” por barragens construídas com utilização de técnicas modernas. Mas ainda assim, deixam dúvidas quanto a sua estabilidade. Medições podem acompanhar o comportamento dessas estruturas, mas a pressão sobre a crista e o volume de rejeito é grande.
Muitas vezes pode ocorrer uma “dinâmica microscópica”, invisível, por capilaridade, somado ao enorme gradiente de pressão com o comprometimento da estabilidade.
O alteamento de barragem requer estudos de viabilidade, análise dos terrenos, cálculos e, sobretudo, o respeito pelas propriedades e pelos bairros localizados a jusante do empreendimento.
Importante lembrar que a responsabilidade da Empresa com a população é permanente, visto que as áreas rurais e urbanas, as famílias, os idosos e os acamados não podem ficar à mercê da “sirene” e das “rotas de fuga”.
Hoje, Minas, assim como Itabira tem que discutir o Passivo Ambiental. O “Fechamento de Mina” exige investimento e as empresas não podem omitir a responsabilidade pelas marcas da mineração, não só na paisagem como na estrutura social.
Segundo Maria Dalce Ricas, superintendente executiva da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda), “a extração mineral tem de ter lastros sociais”. É o mínimo que se espera.
*Maria Alice de Oliveira Lage é geógrafa, ex-presidente do Codema (1985 a 1993)
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Salve Maria Alice, é bom aqui de longe ler você. E o Povo da cidade? É preciso que se faça uma análise sociológica e antropológica de como o Povo está comprometido com a Vale da Morte e ignora as possibilidades de uma economia mais limpa. O poeta Drummond escreveu no Cometa – uma frase mais ou assim – as vezes fico achando que Itabira vendeu alma a CVRD. É certo que a política do medo foi plantada e fortificada.
Enfim, cara professora é bom ler você defendendo mais uma vez a triste Itabira. Te saúdo e louvo.
Seria bom que todos lessem o meu livro – a Terceira Itabira e o de Zara – Da Paciência à Resistência – onde abordamos a relação da Vale com Itabira e os efeitos perversos da mineração na cidade. Eu já analisava a situação de Itabira – cercada por barragens e os perigos dessa situação. Leiam também o texto meu e de Zara apresentado no congresso da ANPPUR em Ouro Preto – Itabira – Vulnerabilidade Ambiental: impactos e riscos socioambientais advindos da mineração em área urbana
onde encontro seu artigo online?
Acesse aqui https://viladeutopia.com.br/barragens-com-compromisso-ambiental-e-social-o-que-fica-da-mineracao/
Professora Maria Alice com sua serenidade, imparcialidade, conhecimento e franqueza fez uma abordagem critica e apontou caminhos para encarar o serio problema do passivo ambiental da mineração em Itabira e toda Minas Gerais. Parabéns ao Vila de Utopia pela abertura do espaço e a Maria Alice pelas sábias palavras!