Barragem da Vale rompe em Brumadinho e cenário é de grande destruição com vítimas
Um grave acidente ocorreu nesta sexta-feira (25) no município de Brumadinho. Rompeu a barragem de rejeito da Mina Feijão, da mineradora Vale S.A. O acidente ocorreu na hora do almoço.
Relatos ainda não confirmados informam que a lama atingiu o restaurante da empresa, onde os seus empregados almoçavam. Em nota distribuída à imprensa, a Vale confirma que a lama atingiu a sua área administrativa no local. E também parte da comunidade da Vila Ferteco.
“Ainda não há confirmação se há feridos no local”, diz a nota da empresa. “A Vale acionou o Corpo de Bombeiros e ativou o seu Plano de Atendimento a Emergências para Barragens.”
Segundo o jornal Estado de Minas, há vítimas soterradas em meio ao rejeito. Moradores vizinhos relatam na rede social que o rompimento é de grande proporção. Segundo eles, trabalhadores estavam no restaurante quando a lama atingiu o local.
“Foi realmente muito feio e a lama está se movimentando no sentido na linha férrea, na direção do rio Paraopeba”, conta um morador.
“Não há acesso para carros”, diz outro morador, que segue orientações de um grupo de brigadistas, que está organizando uma forma de atuar para resgatar possíveis vítimas.
“Como estamos próximos, e tem muita gente mobilizada, acredito que vamos poder ajudar muito. Vamos organizar um grupo de jipeiros para quando pudermos atuar.”
Na mina de Feijão existem duas barragens. Uma maior com capacidade de armazenar 1 milhão de metros cúbicos de rejeito e outra menor, com capacidade de 200 mil metros cúbicos.
A barragem da mina de Feijão está situada na bacia do rio São Francisco, em um tributário do rio Paraupebas. Segundo o Ibama, também em nota distribuída à imprensa, a barragem que rompeu é a maior da mina Feijão. Mas é bem menor que a barragem de Fundão, que armazenava 50 milhões de metros cúbicos do mesmo material. Entretanto, o acidente pode ser mais grave que o de Mariana pelo grande número de vítimas.
Rompimento em Mariana deixa rastro de destruição no rio Doce
O rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, ocorrida em 5 de novembro de 2015, é considerado até então o maior desastre ambiental ocorrido no país.
Ainda não se sabe a dimensão do rompimento da barragem da mina Feijão, da Vale, que também é responsável junto com a BHP Billinton pela mina da Samarco, que operava a barragem de Fundão.
O acidente de Mariana deixou um rastro de destruição permanente e continuado, com o despejo de 50 milhões de toneladas de rejeito de minério de ferro – matou 19 pessoas no distrito de Bento Rodrigues e atingiu 40 cidades em Minas Gerais e no Espírito Santo.
Para o promotor Guilherme de Sá Meneguim, titular da 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de Mariana, o rompimento da barragem não foi um acidente, como procurou justificar a mineradora, mas sim um rompimento que ocorreu em consequência de uma série de negligências – e que resultaram em crime de violação de direitos humanos.
“Foi um crime com dolo eventual (ocorre quando o agente, mesmo sem desejar o resultado, assume o risco de cometer o crime). Muitos perderam a vida, outros tiveram o seu patrimônio destruído, comunidades foram dizimadas”, disse o promotor em palestra realizada na Câmara Municipal de Itabira, em 9 de novembro de 2017, promovida pelo coletivo 4ª Arte, programa de extensão universitária do campus local da Universidade Federal de Itajubá (Unifei).
De acordo com o promotor, trata-se também de um crime que poderia ter sido evitado não fosse a negligência. Segundo ele, o colapso da barragem não teria ocorrido sem a infiltração de água e a formação de uma camada pastosa na base da barragem de Fundão.
“Antes do rompimento foi cometida uma série de erros e irresponsabilidades na administração da barragem. Eles (os técnicos da Samarco) tinham conhecimento dessa situação e nada fizeram para evitar o colapso de sua estrutura. Com uma pressão muito grande vinda de baixo para cima, tudo se rompeu”, descreveu.
Alteamento de Itabiruçu preocupa moradores de Itabira
Em Itabira, é grande a preocupação dos moradores com o alteamento da barragem do Itabiruçu, também da Vale, para a cota de 850 metros em relação ao nível do mar.
A licença ambiental necessária para dar início às obras de alteamento da barragem foi aprovada no dia 30 de outubro do ano passado pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), depois de receber parecer favorável da Superintendência de Projetos Prioritários (Supri). A cota atual é de 836 metros.
A barragem serve para conter o rejeito gerado pelo complexo Conceição, que foi reformado e ampliado com adaptação da antiga planta de concentração, além de ter sido construída uma nova unidade para também processar o minério itabirito compacto.
Com o alteamento, a barragem do Itabiruçu torna-se a mais alta para essa finalidade no mundo e a segunda em volume de rejeito depositado. Só perde, nesse quesito, para a barragem do Pontal, também localizada em Itabira. Ambas servem também para armazenar água necessária para o empreendimento minerário.
O seu reservatório passará a contar com um volume final de 222,8 milhões de metros cúbicos – sendo que o atual dispõe de 130,9 milhões de metros cúbicos.
O alteamento será pelo método à jusante, considerado mais seguro. Constam ainda do projeto a instalação de drenagem profunda, alteamento do muro lateral direito da calha do vertedouro operacional, reconstrução da estrada de acesso principal e alteamento da torre do vertedouro operacional.
Reunião pública
Antes de ser aprovado o alteamento, por pressão da sociedade, foi realizada uma reunião pública em Itabira, no dia 28 de junho do ano passado.
Antes, para a realização dos sucessivos alteamentos da mesma barragem, a comunidade itabirana não foi consultada, nem sequer informada.
Isso teria ocorrido mesmo tendo a empresa apresentado nesses processos as necessárias anuências do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema) ao órgão licenciador. O Codema não cobrou a realização de audiência pública, omitindo-se sobre a questão.
Na reunião pública, moradores inscritos manifestaram preocupação com um possível rompimento da barragem, possibilidade descartada pelos técnicos da empresa. As duas barragens que romperam também eram consideradas inteiramente seguras pela mineradora.
De acordo com a Vale, a barragem do Itabiruçu é 100% segura. Eles “afastaram” o risco de rompimento em decorrência da “técnica de engenharia empregada, que segue “critérios mais avançados do mundo em segurança de barragem”.
Manifestantes lembraram que também a barragem de Fundão, em Mariana, era considerada segura pelos técnicos da empresa Samarco – e também pelos técnicos dos órgãos ambientais.
Carlos, a população de Itabira está se mobilizando?