Banda Euterpe Itabirana completa 160 anos tocando os seus dobrados com muitas histórias e partituras

Encontro de bandas marcou o início das celebrações do aniversário da corporação musical itabirana

Foto: Lu Diniz

Para dar continuidade às celebrações pelos 160 anos da banda Euterpe Itabirana, no dia 22 de novembro, data historicamente escolhida como seu aniversário em homenagem à Santa Cecília, padroeira dos músicos, será aberta para visitação uma exposição inédita contando a história da corporação musical.

Nesse dia, a Casa da Banda, na rua Doutor Guerra, vai receber visitantes com uma mostra histórica com exposição de instrumentos históricos, fotos, partituras e documentos que compõem o acervo da Mostra Banda Euterpe 160 Anos – Acordes Históricos.

O projeto vai contar também com o lançamento de livro com o mesmo título, reunindo depoimentos de antigos membros, fotografias, além de textos especialmente produzidos para celebrar os 160 anos dessa memorável corporação musical itabirana.

Celebrações já estão em curso

As celebrações pelos 160 anos da Euterpe Itabirana tiveram início com a realização do Encontro de Bandas, no adro da Catedral, no dia 8 de outubro, abrindo a festividade pelos 175 anos de emancipação política de Itabira.

Nesse grande encontro, reuniram-se 10 bandas de diferentes cidades de Minas Gerais para tocarem os seus dobrados em homenagem à corporação musical itabirana.

“Temos um balanço positivo e surpreendente desse começo de trabalho. As corporações musicais convidadas ficaram felizes com a organização e com o apoio que tivemos da Prefeitura e dos cidadãos de Itabira. Foi um grande momento de confraternização com as bandas celebrando a nossa história e cultura”, agradeceu o presidente da Euterpe, Joaquim Teodorino Olímpio.

Um dos pontos altos da celebração foi a realização do chamado “bandão”, quando as dez bandas executram juntas o Hino Nacional e o Hino de Itabira, reforçando a união que a tradição musical mineira carrega em sua história. Na sequência, cada corporação musical executou três músicas no palco instalado especialmente para o evento.

“As bandas de música estão diretamente ligadas à história de Itabira e à formação cultural de nossa gente. Ao completar 160 anos, a Euterpe carrega consigo gerações e gerações de itabiranos que passaram pela banda, ou que tiveram algum familiar na banda ou que foram impactados diretamente por ela”, acentuou.

“Promover encontros como o do último dia 8 é, ao mesmo tempo, valorizar e revigorar esse legado. Foi um grande presente para Itabira em seu aniversário”, reconheceu o prefeito Marco Antônio Lage, que homenageou a Sociedade Euterpe com a entrega de uma placa.

Uma das primeiras formações da banda Euterpe Itabirana (Acervo: Euterpe)

Acordes de uma história 

A cidade de Itabira (MG), possui um patrimônio que conecta a música mineira à memorável luta pela igualdade racial, reconhecida na trajetória da Banda Euterpe Itabirana. O grupo construiu um repertório de hinos, músicas clássicas, sonatas e adaptações de canções da MPB que há 160 anos emociona seus ouvintes.

Joaquim Olímpio, presidente da Banda Euterpe, reforça a importância do grupo para Minas Gerais. “A Euterpe contribuiu enormemente para o desenvolvimento da música mineira e para a cultura de nossa cidade. Há mais de um século estamos tocando nos mais diversos eventos sociais, como encontros cívicos, festas religiosas, comemorações de aniversário e cortejos fúnebres de figuras ilustres”, acentuou.

“Nosso grupo encanta corações não apenas de Itabira, mas de toda Minas, pois fazemos questão de levar nossa arte para outras cidades”, orgulha-se o presidente.

A Euterpe foi uma das primeiras sociedades musicais a integrar civis em sua formação (Foto: Acervo da banda Euterpe)

Nome da banda é uma homenagem à deusa grega Euterpe, “a doadora dos prazeres”

No ano de 1863, Emílio Soares Gouveia Horta Junior reuniu pela primeira vez a Sociedade Musical Euterpe Itabirana, que no futuro viria a ser chamada popularmente de Banda Euterpe Itabirana.

Erudito e influente, professor de português, francês, latim e matemática, Emílio Soares possuía relações com o imperador Dom. Pedro II, o que lhe deu a oportunidade de se tornar chefe da guarda municipal de Itabira.

No controle da guarda, que tradicionalmente possuía o costume de ter grupos musicais para prestar homenagens às figuras públicas, Emílio Soares deu início às atividades da banda, tornando-se uma das primeiras sociedades musicais a integrar civis em sua formação.

Por mais de um século o grupo foi formado apenas por homens negros, ex-escravizados ou nascidos livres, que sedimentaram a tradição das bandas por meio da relação com as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário. Já nessa época, a banda já se apresentava nos festejos religiosos.

Com o passar dos anos, o grupo musical ganhou fama pela grandiosidade e talento de seus músicos, inclusive com registros em diversas crônicas e poesias de Carlos Drummond de Andrade.

Homenagem

O nome da banda é uma homenagem à deusa grega Euterpe, “a doadora dos prazeres”, uma das nove filhas de Zeus e Mnemósine, considerada a musa da poesia lírica e da música.

Tocar na Banda Euterpe Itabirana se tornou uma honra e herança de inúmeras famílias da cidade, que de geração em geração renovam o corpo de músicos do grupo. A banda conta com músicos veteranos que dedicaram anos de suas vidas à Sociedade, além dos novos integrantes que trilham os passos ancestrais de suas famílias.

“A entrada de novos membros tem muita influência de algum familiar que um dia também já esteve conosco, que por sua vez foi influenciado por outro familiar um dia e assim vai sendo passada a tradição. Temos um histórico de gerações completas que fazem parte da Euterpe”, acentua o presidente Joaquim Olímpio.

Com sede na rua Doutor Guerra, 49, também conhecida como rua da Casa da Banda, a sociedade musical é um Patrimônio Imaterial de Itabira e faz parte da história da cidade, mantendo-se viva uma trajetória que reúne 160 anos de tradição.

Uma disputa que inspirou Carlos Drummond de Andrade

Sede da Banda Euterpe em 1950 (Foto: Acervo Banda Euterpe Itabirana0

A história que se conta a seguir foi recuperada durante as pesquisas do processo de tombamento da Banda Euterpe como Patrimônio Imaterial de Itabira. Em meados das primeiras décadas do século XX, as bandas locais tinham o costume de competir entre si.

Foi o que ocorreu quando Emílio Soares e seus companheiros começaram a competir com a banda Henrique Dias, fundada pela família Noronha sob forte influência militar.

A banda Henrique Dias era aclamada pelo povo itabirano e sempre foi convidada para tocar em enterros e festividades. Porém, com o falecimento de uma grande personalidade da cidade, que tinha laços de amizade com Emílio Soares, o padre monsenhor Felicíssimo, em nome da família do falecido, convidou a banda Euterpe para se apresentar no enterro.

Entretanto, o repertório da Euterpe ainda era jovem e limitado, o que representou uma dificuldade adicional para que fosse realizada a homenagem ao falecido, cuja família pediu a execução da música “Libera-me”. Como a música solitada não fazia parte de seu repertório, Emílio Soares engoliu o orgulho, pedindo emprestada a partitura à banda Henrique Dia. Foi negada, mesmo com a intervenção de monsenhor Felicíssimo.

Emílio Soares agiu rápido. Com empenho, passou horas à noite na sede da Euterpe compondo a partitura. Por volta de 23h, conta a história, foi tocada a clarineta de emergência que convocava a guarda municipal, membros da banda, para comparecer ao local. Era a convocação para o ensaio da peça “Liberai-me”, cuja transcrição para a partitura havia sico feita às pressas e a tempo para a sua execução no velório, atendendo pedido da família do ilustre falecido.

No dia seguinte, a a peça “Libera-me” foi apresentada no velório, tendo sido muito aclamada. Esse acontecimento foi registrado no poema Criação, de Carlos Drummond de Andrade: “Lá vai seguido a Banda Euterpe que toca exausta, com sentimento, luto orgulhoso, o Líbera-Mé. Favo da noite, glória de Emílio, dádiva ao morto, que o céu inspira, por Monsenhor (…)”.

A íntegra do poema Criação pode ser lido aqui.

Serviço

Tema: 160º aniversário da Banda Euterpe. História e tradição mineira.

Projeto: Banda Euterpe Itabirana 160 Anos.

Exposição: abertura no dia 22 de novembro

Local: Casa da Banda, rua Doutor Guerra, 49 – Itabira – MG

 

Posts Similares

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *