Ato público em Itabira contra a anistia de golpistas e da PEC da Blindagem marca retorno do PT às ruas da cidade ao lado do PSOL e PSB
Os manifestantes itabiranos também exibiram uma faixa pedindo o fim da escala de trabalho 6×1, um modelo que compromete o direito ao descanso, à convivência familiar e ao ócio criativo, que são fundamentais para a dignidade do trabalhador
Fotos: Carlos Cruz
Após décadas de afastamento das bases populares e dos movimentos sociais, o diretório municipal do Partido dos Trabalhadores (PT) em Itabira voltou às ruas neste domingo (21), em um ato público contra a chamada PEC da Impunidade, oficialmente chamada de PEC da Blindagem – e contra a anistia aos envolvidos nos atos golpistas que culminaram no dia 8 de janeiro de 2023.
Desde a derrota do ex-prefeito Jackson Tavares nas eleições de 2000, o único petista a comandar o Executivo municipal por quatro anos, o partido vinha perdendo protagonismo político local.
O ato deste domingo, realizado em conjunto com o PSOL e o PSB, marca uma reaproximação do PT com a militância de esquerda na cidade.
No país, as principais capitais brasileiras foram palco de manifestações populares contra a PEC da Blindagem – e também contrários à anistia dos golpistas já condenados pelo Superior Tribunal Federal (STF).
A proposta da PEC já foi aprovada pela Câmara dos Deputados na última semana – e o projeto da anistia teve aprovado o regime de urgência para a sua tramitação na Câmara dos Deputados.
A PEC da Bandidagem estabelece que parlamentares só poderão ser processados criminalmente com autorização prévia do Congresso, o que, segundo especialistas e movimentos sociais, representa um grave retrocesso na responsabilização por crimes cometidos por deputados e senadores.

Declarações e contradições do PT
A recém-empossada presidente do PT em Itabira, Janete Antônia, classificou a PEC da Blindagem como uma “afronta ao povo brasileiro”. “Se aprovada também no Senado, a bandidagem no Congresso vai permanecer impune. Podem matar e roubar impunemente”, afirmou.
No entanto, a dirigente não mencionou que, apesar da posição oficial contrária do partido, 10 deputados do PT votaram a favor da proposta no segundo turno da votação na Câmara dos Deputados, enquanto 50 petistas votaram contrários. A decisão gerou constrangimento dentro da legenda e acendeu alertas no governo Lula, que tentou demover os parlamentares favoráveis à medida.
Segundo reportagens, o Planalto tentou convencer os deputados a mudarem de posição, mas não obteve êxito com todos. A justificativa, segundo alguns desses parlamentares, foi “proteger pautas do governo e evitar retaliações políticas”. A argumentação foi duramente criticada por setores da esquerda e por juristas.
A emenda, que dificulta a responsabilização criminal de parlamentares, foi aprovada por 344 votos a 133 – e agora segue para o Senado.
Baixa adesão e histórico de ausências
A militante do PSOL, Lia Andrade, saudou o retorno do PT às ruas de Itabira durante o ato desse domingo, mas lamentou a tímida participação popular. “A luta nas redes sociais é legítima, mas precisamos ocupar as ruas. A ausência dos que militam apenas online enfraquece nossa mobilização”, afirmou.
A baixa adesão a manifestações de pauta nacional não é novidade na cidade. Em 1984, durante a campanha pelas Diretas Já, a presença popular também ficou aquém do esperado. Essa baixa adesão se repetiu em 6 de maio de 1997, no ato “Reage Vale, Reage Itabira — Vender a Vale é vender o Brasil”, contra a privatização da então Companhia Vale do Rio Doce.
Nesse ato, mesmo com a presença de figuras ilustres como os ex-governadores Aureliano Chaves e Itamar Franco, que também presidiu o país, e com ampla convocação do Sindicato Metabase, os trabalhadores da Vale não compareceram em peso.
Nesse domingo, a ausência se repetiu. Os principais sindicatos da cidade (Metabase e o dos servidores municipais) não apoiaram a mobilização – e tampouco enviaram representantes ao ato, que teve como pautas, além do repúdio à PEC da Impunidade, a defesa do fim da escala de trabalho 6×1.
Nesse caso, a reivindicação se justifica para que o trabalhador tenha mais tempo para o convívio familiar, o descanso digno e o direito ao ócio criativo, que são fundamentais para a saúde física e mental do trabalhador.
Outra manifestação no ato público foi o pedido de imediata inclusão, na pauta do Congresso Nacional, do projeto de lei que propõe a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais, medida que busca aliviar o peso tributário sobre a classe trabalhadora e corrigir distorções históricas na tabela de tributação.
Críticas e provocações

A manifestação da esquerda em Itabira provocou reações do mnais contundente influenciador itabirano digital oposicionista Frank Solico, figura conhecida na política loca. Ele gravou uma postagem criticando o evento por não incluir ataques à gestão municipal. “Vocês são vendidos ao apoiarem o prefeito Marco Antônio Lage”, disparou, sendo prontamente rechaçado pelos manifestantes, que responderam com vaias e palavras de ordem.
Um grupo de vendedores ambulantes também se manifestou contra o ato, defendendo a anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Receberam uma sonora vaia dos manifestantes – e boquifecharam-se.
Milhares vão às ruas contra a PEC da Blindagem em atos por todo o Brasil

Em uma expressiva mobilização nacional, convocada por redes sociais e articulada por frentes como Povo Sem Medo e Brasil Popular, os atos contrários à PEC da Blindagem e à anistia de golpistas ocorreram simultaneamente nas 27 capitais do país.
Em São Paulo, cerca de 42 mil pessoas se reuniram em frente ao MASP, na Avenida Paulista, estendendo uma bandeira gigante do Brasil com os dizeres “Sem Anistia”. Foi uma resposta à bandeira dos EUA exibida por “patriotas” bolsonaristas no mesmo local no último 7 de setembro.
Em Brasília, os manifestantes se concentraram no Museu Nacional da República e marcharam até o Congresso Nacional. Cartazes chamavam a proposta de “PEC da Bandidagem” e denunciavam a tentativa de anistiar os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Showmício em Copacabana

No Rio de Janeiro, o protesto ganhou contornos de espetáculo. Na orla de Copacabana, artistas consagrados da música brasileira se apresentaram em um trio elétrico, transformando o ato em um showmício.
Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Djavan, entre outros artistas nacionais, dividiram o palco em uma performance que emocionou os presentes. Maria Gadú abriu o evento com a canção “Como Nossos Pais”, de Belchior e eternizada também pela voz de Elis Regina.
Outros nomes como Paulinho da Viola, Marina Sena, Ivan Lins, Lenine e Pretinho da Serrinha também marcaram presença.
Em outras capitais também ocorreram manifestações de artistas nacionais. Em Salvador, Daniela Mercury e o ator Wagner Moura discursaram e se apresentaram em frente ao Cristo da Barra. Em Belo Horizonte, Fernanda Takai participou do ato na Praça Raul Soares. Em Maceió, a cantora Simone também se juntou aos manifestantes na orla da Pajuçara.

Repercussão política
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Otto Alencar (PSD-BA), declarou que pretende “sepultar de vez esse assunto” na próxima reunião do colegiado, sinalizando resistência à proposta da PEC da Impunidade na Casa Alta. Também no Senado deve ser barrada a anistia ampla e irrestrita aos bolsonaristas, caso seja aprovada na Câmara dos Deputados.
Os atos públicos desse domingo evidenciaram uma crescente mobilização da sociedade civil contra iniciativas que, segundo os manifestantes, ameaçam a democracia e a transparência institucional. A pressão agora se volta ao Senado, onde a PEC ainda será analisada.