Assista em vídeos inéditos (e assustadores) como são as detonações de rochas de minério nas minas de Itabira
Carlos Cruz
Se os estrondos decorrentes das detonações de rochas, em áreas de mineração da Vale, na encosta do que restou da Serra do Esmeril toda carcomida pela extração do minério de ferro que ainda resta em Itabira, já assustam o itabirano – e ainda mais quando são seguidas de fortes vibrações nas residências, a visão do que acontece com esse procedimento nas minas é ainda mais impactante, como o leitor deste site pode conferir nos vídeos que chegaram à nossa redação e que postamos aqui na Vila de Utopia.
Os desmontes no Chapéu Chinês, filmados na mina Periquito parecem tsunamis que arrebentam e seguem descendo mina abaixo carregado de poeira e de rochas fragmentadas, um estrondo medonho de dar medo mesmo. É assustador ver como isso ocorre em sequência, para tudo vir abaixo em poucos segundos.
Rachaduras
A mineradora Vale diz ter tudo sob controle. Afirma que as detonações são necessárias e imprescindíveis à atividade extrativista de minério de ferro, sempre que não é possível fazer o desmonte mecânico, por meio de enormes equipamentos que rompem os matacos de hematita (agora, predominantemente de itabiritos compactos), fragmentando-os.
Mas é fato, e não ficção, que pela proximidade com a cidade, por mais que a empresa diz manter o controle dos níveis de ruídos, vibrações e poeira, os impactos decorrentes do desmonte de rochas sempre assustam, causam incômodos e prejuízos na cidade.
Moradores de bairros mais próximos sofrem não só pelo susto, com o qual ninguém se acostuma, mas também pelos abalos que provocam trincas em paredes e nas estruturas das residências.
A empresa contesta. Sustenta que na maioria dos casos as trincas são decorrentes da má qualidade construtiva das residências – e que, por isso, nada indeniza por considerar que os abalos são insignificantes, simples “sensação de tremor provocada pelas ondas geradas no desmonte”.
Para diminuir ainda mais o impacto de vizinhança, diz empregar carga menor de explosivos nas frentes de lavras mais próximas da cidade. “Enquanto emprega uma carga de 500 quilos de explosivos na mina Conceição, nas Minas do Meio essa carga é de no máximo 75 quilos.”
E que, com precisão, por meio de um aparelho chamado Quarryman, determina a marcação e a inclinação dos furos na rocha, fazendo uma leitura precisa da frente de lavra para indicar a linha que os furos devem seguir. “O procedimento é fundamental para não ocorrer lançamento de material e também para amenizar as vibrações”, assegura a mineradora.
Saiba mais para cobrar muito mais
O uso de explosivo em mineração observa a norma 9.653/86, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Por ela, a velocidade resultante da vibração não pode superar 15 milímetros por segundo (mm/s), enquanto o nível de ruído não pode passar de 134 decibéis.
A Vale diz que todas as suas detonações estão dentro dessa norma. E que, na maioria dos casos, as vibrações não ultrapassam 6 mm/s e o nível do ruído fica abaixo da norma, de acordo com dados monitorados pela própria mineradora.
Ainda segundo a Vale, o monitoramento das detonações (ruídos e vibrações) já é realizado nos bairros Vila Paciência, Vila Amélia e Areão (Funcesi), que são os mais próximos das minas, como são também os bairros Conceição e tantos outros que ficam abaixo da mina homônima.
Diferentemente do que ocorre com o monitoramento da qualidade do ar, que por força de condicionante da Licença de Operação Corretiva (LOC), vencida desde 2016, os dados obtidos da poluição atmosférica são obrigatoriamente divulgados, agora pelo Portal Itabira Ar, da Prefeitura, isso já não acontece com os resultados obtidos com as detonações.
Licença ambiental
Para a próxima renovação da licença ambiental do complexo minerador de Itabira, paralisada nos escaninhos da burocracia conivente da Superintendência de Projetos Prioritários (Suppri), da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), que se espera seja precedida de uma audiência pública em Itabira, é preciso incluir como condicionante a divulgação em tempo real dos dados do monitoramento do desmonte de rochas.
Sem essa divulgação, como ocorria antes de 1986, ano em que a empresa se viu obrigada, por decisão judicial em ação civil pública, a tornar público o resultado do monitoramento da qualidade do ar, não se fica sabendo se de fato os parâmetros das detonações não estão sendo extrapolados.
Naquele ano, o índice máximo de 240 microgramas por metro cúbico de Partículas Totais em Suspensão (PTS) foi ultrapassado 22 vezes, o que pela recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), não deve ser ultrapassado mais de uma vez no ano.
Mesmo que tenha sido uma situação extrema, que não se repetiu, recorde-se que em passado não tão distante, caiu uma “chuva” de pedras de minério de ferro sobre residências na Vila Paciência, causando muitos estragos e colocando a vida dos moradores em risco, depois de uma detonação que fugiu do controle na mina Chacrinha.
De posse dos dados do monitoramento das detonações, recomenda-se também aos moradores impactados que recorram ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Curadoria do Meio Ambiente, para que seja aberto procedimento legal para investigar, enfim, os impactos das detonações nas residências que apresentam rachaduras – e que são muitas em diversos imóveis.
São, portanto, danos coletivos e difusos, que precisam ser apurados pelo MPMG para que os moradores possam ser ressarcidos pelos prejuízos e assegurados os seus direitos individuais e comunitários.
Restritivos
Assim como ocorre também com a qualidade do ar, que tem parâmetros mais restritivos – e que a Vale quer que o Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema) os flexibilize, é recomendável ao município editar norma mais restritiva para os parâmetros de ruídos e vibrações decorrentes das detonações nas minas.
Para isso, deve-se levar em conta a maior proximidade das minas da cidade, além de outras características locais, não observadas pelas normas da ABNT, que são gerais, servindo apenas como parâmetros para a legislação municipal que pode ser mais restritiva.
É a empresa do crime, do roubo. Cadeia para a Eduardo Bartolomeo.