Arborização urbana: como as árvores transformam cidades em ambientes sustentáveis e resilientes
Foto: Reprodução/ Rede Social
Belo Horizonte chama a atenção por ter 75,3% das vias públicas arborizadas. Aliás, a capital conta com 76 parques distribuídos pelos bairros, além do Jardim Zoológico e do Jardim Botânico. Isso enquanto Itabira, a cidade mais impactada pela poeira da mineração, é uma das menos arborizadas do país, segundo o IBGE, com apenas 25,2% de suas vias públicas arborizadas
Do combate às ilhas de calor à melhoria da saúde pública, entenda por que investir em áreas verdes é essencial para o futuro das cidades
Estudos revelam que ampliar a cobertura vegetal urbana pode salvar milhões de vidas e reduzir drasticamente os efeitos das mudanças climáticas. Saiba os benefícios e os desafios da arborização nas metrópoles
Arborização urbana é pilar para cidades sustentáveis e resilientes
EcoDebate – A urbanização acelerada e muitas vezes desordenada tem gerado uma série de problemas ambientais, como o aumento das temperaturas nas cidades – o fenômeno das ilhas de calor urbanas – e a degradação ambiental geral.
Diante deste cenário, a arborização urbana emerge como uma das soluções mais eficazes e acessíveis para mitigar esses impactos, promovendo o conforto térmico, combatendo as mudanças climáticas e melhorando significativamente a saúde e a qualidade de vida dos cidadãos.
As inúmeras vantagens da arborização urbana
As árvores nas cidades oferecem uma vasta gama de benefícios que as tornam aliadas indispensáveis no planejamento urbano e climático:
- Conforto Térmico e Combate às Ilhas de Calor: A presença de árvores pode reduzir a temperatura ambiente urbana de 2°C a 8°C, e em algumas cidades, até 12°C em comparação com áreas sem vegetação. Isso ocorre principalmente por dois mecanismos: a sombra proporcionada pelas copas das árvores, que diminui a radiação solar direta, e o processo de evapotranspiração, que resfria o ar ao redor pela liberação de água das folhas para a atmosfera. Curiosamente, estudos mostram que a eficiência de resfriamento das árvores urbanas é ainda maior em dias de verão mais quentes. Áreas arborizadas também tornam espaços públicos mais agradáveis, incentivando o lazer ao ar livre.
- Combate às Mudanças Climáticas: As árvores desempenham um papel crucial na captura de dióxido de carbono (CO₂), um dos principais gases de efeito estufa. Uma árvore adulta pode absorver, em média, 22 kg de CO₂ por ano. Além disso, elas melhoram a qualidade do ar ao absorver outros poluentes atmosféricos, como óxidos de nitrogênio, amônia e dióxido de enxofre, e produzem oxigênio, essencial para a vida.
- Melhoria da Saúde Pública: A arborização urbana está associada a menor estresse, melhor qualidade do ar e redução de doenças respiratórias. Um estudo de modelagem de 20 anos revelou que aumentar em 30% a cobertura vegetal nas cidades poderia evitar mais de um terço de todas as mortes relacionadas ao calor, representando até 1,16 milhão de vidas salvas globalmente entre 2000 e 2019. As áreas verdes também podem influenciar positivamente a saúde mental, a interação social e a atividade física.
- Controle de Enchentes: Solos permeáveis e a vegetação absorvem a água da chuva, contribuindo para a redução de inundações em áreas urbanas.
- Aumento da Biodiversidade: A criação de corredores verdes e o plantio de árvores permitem a circulação de espécies e oferecem habitat para pássaros e outros animais, fortalecendo os ecossistemas urbanos.
- Outros Benefícios: As árvores também ajudam a reduzir o ruído urbano e proporcionam espaços de convívio e lazer para a população.
Desafios na implementação da arborização urbana
Apesar dos benefícios evidentes, a implementação e manutenção eficaz da arborização urbana enfrentam diversos desafios. Entre eles, destacam-se:
- Falta de Planejamento e Investimento: Muitas cidades carecem de um planejamento adequado e de recursos financeiros robustos para a arborização. Iniciativas fragmentadas e a falta de coordenação entre governos, setor privado e comunidades são obstáculos significativos.
- Manejo Inadequado: O plantio de árvores sem considerar a espécie, o local adequado e as condições do solo, bem como a manutenção negligenciada (incluindo podas erradas ou insuficientes e sufocamento do colo da árvore), resultam em árvores doentes, mal desenvolvidas ou até mesmo em problemas como raízes que danificam calçadas e infraestrutura de água e esgoto.
- Conflitos Urbanos: A arborização urbana frequentemente lida com obstáculos como a fiação aérea, calçadas estreitas e espaços de plantio inadequados. A proximidade de grandes edificações pode gerar corredores de vento que aumentam o risco de quedas de árvores em tempestades.
- Resistência Comunitária e Desigualdade: Há resistência de alguns setores da sociedade e de munícipes que se preocupam com a sujeira das folhas, danos à calçada ou obstrução de fachadas comerciais. Além disso, áreas mais pobres frequentemente possuem menos espaços verdes, agravando as injustiças ambientais.
- Ponto de Virada Climático: Embora as árvores geralmente aumentem sua eficiência de resfriamento com o aumento das temperaturas, existe um “ponto de virada” ou limiar de calor extremo, após o qual as árvores podem fechar seus estômatos para conservar água, diminuindo sua capacidade de resfriamento.
A arborização urbana como prioridade no planejamento
Diante dos desafios e da crise climática, o reflorestamento urbano não pode ser considerado um luxo, mas sim uma necessidade urgente. É fundamental que a arborização seja integrada ao planejamento urbano e climático, com um olhar diferenciado por parte do poder público.
Para que as cidades se tornem mais resilientes e habitáveis, são necessárias as seguintes ações:
- Políticas Públicas Integradas: É essencial criar e implementar políticas públicas que incentivem o plantio e a manutenção de árvores, priorizando a natureza como infraestrutura essencial. Isso inclui investir em espécies nativas, mais adaptadas ao clima local.
- Planejamento Estratégico e Manejo Cuidadoso: As árvores precisam ser escolhidas, plantadas e mantidas de forma estratégica para maximizar seu impacto. Isso envolve o uso de técnicas adequadas de plantio (espaço correto, profundidade, estaqueamento), manutenção regular (podas adequadas, irrigação em períodos de seca) e, possivelmente, o uso de tecnologias como a endoterapia vegetal para prevenção de doenças e pragas.
- Investimento e Parcerias: É necessário financiamento robusto para a infraestrutura verde. Parcerias público-privadas e o uso de tecnologias para monitoramento de áreas verdes podem ser grandes oportunidades.
- Educação Ambiental e Participação Comunitária: Campanhas de conscientização e educação ambiental nas escolas são cruciais para engajar a população e incentivar a participação em programas de plantio e manutenção de árvores. A comunidade precisa reconhecer os benefícios e se envolver no processo.
- Visão de Longo Prazo: Os gestores públicos devem enxergar as árvores não como problemas pontuais em tempestades, mas como pilares para a garantia de ar limpo, frescor e boas sombras, especialmente em dias de elevadas temperaturas.
- “A natureza deve ser parte do DNA das cidades, não apenas um complemento”.
Investir em arborização urbana é, portanto, investir em um futuro mais sustentável, saudável e confortável para todos. É uma estratégia de adaptação vital para que nossas cidades sejam mais resilientes diante das mudanças climáticas.
Fontes:
Arborização urbana como solução para ilhas de calor, enchentes e saúde pública
Áreas verdes nas cidades salvam vidas e reduzem o calor extremo
Arborização urbana e o efeito de resfriamento nas ilhas de calor
Arborização urbana precisa de investimento e manejo
Arborização Urbana: Conforto térmico e ação climática
Árvores urbanas são aliadas no enfrentamento das mudanças climáticas