Aprovada pelo Comphai, dois anos depois capela de São José, na Serra dos Alves, é restaurada
Fotos: Ascom/PMI
Sob a benção de São José, a Prefeitura de Itabira restaurou e reabriu a histórica capelinha do povoado da Serra dos Alves para a comunidade local e visitantes devotos, no sábado (9).
A restauração da capela de São José foi aprovada pelo Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Artístico de Itabira (Comphai) ainda na administração passada – e inserida no Programa de Revitalização do Patrimônio Cultural do Município.
Era para ter sido restaurada juntamente com a “urbanização” do povoado, que pertence ao distrito de Senhora do Carmo, em 2020. Mas isso não foi possível com a deflagração da pandemia de Covid-19.
Acertadamente, e como não poderia deixar de ser, a administração de Marco Antônio Lage (PSB) executou a restauração, conforme estava planejado pelo Comphai. O restauro incluiu o altar, teto, janelas e portas.
O investimento na restauração foi de R$ 284.015,50, proveniente do ICMS Cultural. Além do restauro do interior, a ermida ganhou também nova pintura.
Próxima restauração
Dos imóveis históricos tombados pelo município só falta agora restaurar o casarão do antigo hospital Nossa Senhora das Dores, na travessa Major Paulo, no centro histórico de Itabira.
“Vamos restaurar e abrir espaços para novos museus, incluindo o Sacro. Penso que poderíamos dedicar um espaço para contar a história do Monsenhor Felicíssimo”, é o que conta Marco Antônio Lage à reportagem deste site.
Monsenhor José Felicíssimo do Nascimento (1806-1884) nasceu em Ouro Preto, mas foi em Itabira que ele fez história – e que merece ser recontada.
Entre os seus grandes feitos aqui na Cidadezinha Qualquer consta a grande campanha que culminou na fundação da Irmandade Nossa Senhora das Dores, mantenedora do hospital.
Saiba mais sobre o monsenhor Felicíssimo aqui:
Itabira do Matto Dentro: o Hospital N. S. das Dores, o monsenhor Felicíssimo e a Maçonaria
Memória
Serra dos Alves – Caminhos do Mato Dentro
Este texto foi publicado originalmente na edição de julho de 1998 do jornal O Cometa Itabirano
Solange Duarte Alvarenga*
A cerca de 47 quilômetros de Itabira, o povoado prima pela tranquilidade: casas com pomares, todas voltadas para a igrejinha. Próximo, cachoeiras. A Prefeitura faz levantamento do acervo cultural, histórico e artístico do lugar
Para quem quer conhecer Minas do século passado, rural e com características bem fortes, não é preciso viajar muito. Aqui bem pertinho, a 47 quilômetros de Itabira e a 15 quilômetros da sede do distrito de Senhora do Carmo, fica Serra dos Alves.
É uma viagem incrível, numa poeirenta estrada de terra, mas por onde se vai bem e devagar, o que ajuda a apreciar melhor a paisagem. O visual é belíssimo. Montanhas e vales a se perderem pelo mato adentro.
Até o Carmo pode-se dizer que a estrada é boa, mas vai se estreitando até a Serra dos Alves. Mas não é para desanimar, pois é cheia de pedregulhos brancos que refletem a luz do sol e impedem os carros de atolarem em tempo de chuva.
No caminho, belíssimas e centenárias fazendas, construídas em madeira, adobe e pau-a-pique. Sobrevivem da pecuária e da agricultura de subsistência e quase todas têm alambiques, onde produzem cachaça da boa, vendida na própria região.
Pouco antes de chegar no povoado, à esquerda, está a maravilhosa cachoeira Boa Vista. Sua água é limpa e cristalina, com quedas fortes e poços profundos. Após um pequeno bosque, como uma surpresa, surge o povoado Serra dos Alves, onde o destaque é a capela de São José, com características coloniais do século passado.
Dentro da igrejinha, uma incrível descoberta: o retábulo (altar) em madeira é muito bonito, com imagens de marca regional, de inegável valor histórico. As peças são em madeira, barro e papel maché, muito parecidas com as do santeiro itabirano Alfredo Duval.
No seio da capela há uma inscrição da fundição do sino de São Paulo, datada de 1727, contendo o nome do padre Santos Saez Acha, pároco que foi responsável pela capela de 1923 a 1940.
Um grande adro, todo gramado e um cruzeiro ficam à frente da igreja. Ao redor estão as casinhas simples e modestas, no mesmo estilo e alinhamento – todas voltadas para a igreja como se fossem uma plateia.
Em todas as casas há pomar, com pés de laranja, mexericas, jabuticabas, mangas e pitangas – uma delícia. Nas cozinhas predominam fogões a lenha e fornos de barro nos terreiros.
Mecenas religiosos
Segundo a moradora d. Nalí, a primeira família a se instalar no povoado foi a dos Alves, daí o nome da localidade. Ela ressalta que em 1860 o padre Júlio Engrácia ia de Itabira ao povoado e celebrava missas na casa do sr. Genuíno Luiz da Silva. Algum tempo depois a comunidade improvisou uma capelinha de sapé para celebração de missas e cultos religiosos.
Em 1866, os fazendeiros Domingos Alves, Quintiliano, Antônio, Diogo Alves e Deolindo da Silva doaram um hectare de terra, onde foi construída a capela de São José, dando origem ao povoado. A capela, o adro e o cruzeiro foram construídos pelos próprios moradores.
Serra dos Alves conserva seus costumes e origem rural. Na economia de subsistência cultivam mandioca, banana, cana-de-açúcar, café, milho e feijão, com pequenas criações de porcos, galinhas e gado leiteiro. Fabricam rapadura, polvilho, farinhas de mandioca e de milho e pinga.
As festas tradicionais são as religiosas em homenagem a São José, Nossa Senhora da Conceição, Espírito Santo e Nossa Senhora do Rosário. Nessas festas a produção local é vendida, com bastante saída: biscoito de polvilho, brevidade, doce de cidra, bolo de fubá, canudos, xaropes, pastéis, doce de leite – além das importadas cerveja e refrigerante, com churrasco e queijo.
As marujadas são sempre destaques, com suas danças e batuques. As primeiras bandas de Marujos da região surgiram em Serra dos Alves – e só depois vieram para Itabira, conforme d. Nalí faz questão de registrar.
História que gera arte
O povoado de Serra dos Alves surgiu por volta de 1850, quando os bandeirantes começaram a explorar cristais e ouro.
Entretanto, os resultados da exploração ordenada pelo governo português na Serra dos Alves, a exemplo de Itabira, Serro e Conceição do Mato Dentro, não eram tão significativos em comparação com a exploração aurífera de Mariana e Ouro Preto. Em consequência, os moradores de Serra dos Alves buscaram alternativas em atividades rurais.
O distrito de Nossa Senhora do Carmo, ao qual pertence o povoado, foi elevado à paróquia em 1870.
Na ocasião, sua população, incluindo as localidades de Aliança (hoje Ipoema), Macuco, Turvo, Serra dos Alves, Boa Vista e Gordura, excedia a 3.800 moradores, enquanto Itabira não abrigava mais de 1.000 almas.
No início deste século o número de habitantes subiu para 6.000, sendo que 70% moravam na zona rural.
A partir da década de 40, com a criação da Companhia Vale do Rio Doce, ocorreu um forte fluxo migratório, quando boa parte da população mudou para a cidade.
Inventário
Uma equipe de funcionários do Museu e da Prefeitura de Itabira está fazendo o inventário de bens móveis e imóveis de todo o município. Através de parceria com a Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais, Ministério do Trabalho e Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), serão qualificados o pessoal técnico especializado e os agentes culturais para atuarem na promoção, produção, revitalização, preservação e difusão das mais diversas manifestações culturais e expressões de arte em todo o Estado.
A proposta é localizar e identificar, através de pesquisa de campo, bens e valores locais. Ao terminar esse inventário, o que for de real valor histórico e artístico será tombado, e se for o caso, restaurado e protegido.
Preservando o seu acervo cultural, Itabira vai se credenciando a receber cada vez mais ICMS, de acordo com a Lei Robin Hood.
Só de repasses pela preservação de seu patrimônio arquitetônico, Itabira recebeu R$ 142.979,30 a mais de ICMS no exercício passado, sendo que neste ano, de janeiro a abril, pelo mesmo critério, foram repassados R$ 41.698,00. (valores de 1998).
É assim que a preservação de valores históricos, artísticos e culturais, como os existentes na Serra dos Alves, ajuda a crescer as receitas das prefeituras.