Alunos estudam Geografia conhecendo a realidade do bairro Gabiroba

Partindo do princípio já consagrado de que, para conhecer o mundo, é preciso primeiro desvendar a aldeia onde se vive, alunos do 8º ano da escola estadual Marciana Magalhães, com idade entre 13 e 14 anos, produziram um documentário sobre a realidade do bairro Gabiroba, o primeiro de uma série que pretendem trabalhar até o fim do ano letivo.

Eles participam do projeto Conhecendo meu bairro, conhecendo minha história, proposto e desenvolvido pelo professor Júlio César “Mengueles” Batista Mattos.

Estudantes assistem documentário por eles produzidos sobre a realidade do bairro (Fotos: Divulgação)

“O objetivo é quebrar o desinteresse pela disciplina de Geografia, despertando a curiosidade pelo espaço geográfico e humano, conhecendo-o para entender melhor a realidade do país”, conta o professor Mengueles.

Ele tem utilizado com frequência a ferramenta do audiovisual para quebrar o “gelo” e despertar a atenção dos alunos para a matéria que está sendo estudada.

O resultado desse projeto é um documentário com duração de pouco mais de 19 minutos, com produção e entrevistas realizadas pelos próprios alunos – e que pode ser visto aqui  https://www.youtube.com/watch?v=R04jpZRkvTc&feature=youtu.be.

Realidade

Com mais de 30 mil moradores, o bairro Gabiroba é um dos maiores aglomerados habitacionais de Itabira. Com uma câmera de celular na mão, os alunos entrevistaram moradores mais antigos, e também jovens, procurando saber o que de melhor e de pior o bairro apresenta. O resultado não é diferente do que se observa na maioria dos bairros da cidade

Com as entrevistas, os alunos salientaram aspectos positivos, como a convivência social amiga e fraterna, a importância das escolas e das igrejas. E, também, os espaços de lazer que são poucos, como o ginásio poliesportivo, mas que reúnem principalmente os jovens em sadias competições.

Observaram, com o testemunho dos mais velhos, que o bairro cresceu desordenadamente, apresentando problemas estruturais que ao longo dos anos ainda não foram solucionados. “Quando chove, a parte baixa do bairro fica inundada e água invade as residências”, conta um morador.

Com o crescimento do bairro, aumentaram os casos de violência. “Não tem policiamento”, diz uma moradora, que lamenta também a falta de empregos.

Uma outra moradora critica o atendimento no posto de saúde, onde faltam medicamentos – e os profissionais de saúde não dispõem de espaços adequados para o atendimento humanizado.

“A gente fica muito tempo na espera para conseguir uma vaga para ser atendido. E se precisa de um medicamento, tem de ir ao centro buscar”, critica uma estudante.

Metodologia

O professor Júlio Mengueles observa que essa metodologia de aprendizagem contribui para desenvolver olhar crítico e também o interesse pela matéria. “Não dá para ficar só na conversa, isso não desperta o interesse do aluno”, disse ele. Esse desinteresse, entretanto, deixa de existir quando o aluno se torna protagonista da aprendizagem.

Com recursos audiovisuais o ensino de geografia se torna mais interessante e interativo 

“Ao conhecer o bairro onde o aluno vive, torna-se mais fácil a compreensão do mundo e o desenvolvimento de uma visão mais crítica, de pertencimento e apropriação dessa mesma realidade.”

Foi o que ele propôs e obteve igual sucesso com os alunos do 1º ao 3º ano da Escola Estadual Maricas Magalhães, no ano passado, também nas aulas de Geografia.

Nessa escola foram produzidos vários documentários abordando o dia a dia dos estudantes, suas angústias e esperanças. Por meio da narrativa audiovisual eles descobriram uma maneira criativa e divertida de estudar o universo socioeconômico, cultural e geográfico do lugar onde vivem (leia mais aqui).

Desenvolvimento

Conforme explica o professor, o projeto Conhecendo meu bairro, conhecendo minha história tem o foco centrado na transformação dos indivíduos, por meio da informação, capacitação e desenvolvimento de valores.

Antiga fábrica de tecidos da Gabiroba que existiu no bairro até meados do século passado (Acervo: Fotos Antigas de Itabira)

“Ele aprende entrevistando as pessoas, filmando um colega e ouvindo a sua opinião”, enfatiza o professor, que tem utilizado essa metodologia com outras turmas de estudantes.

“Com esse trabalho esperamos despertar professores e alunos para uma nova visão da educação, na qual os métodos tradicionais e os modernos possam fundir-se em novas possibilidades de aprendizado, com crescimento pessoal e coletivo”, explica.

Outro objetivo é também elevar a autoestima dos alunos ao se descobrirem como atores sociais e protagonistas de suas próprias histórias. “Utilizamos os conhecimentos geográficos para entender a integração sociedade com a natureza, exercitando o interesse e o espírito de investigação e de resolução dos problemas.”

O audiovisual assim utilizado facilita também o debate “transdisciplinar em torno de temáticas atuais”, descobertas pelas pesquisas e entrevistas desenvolvidas no bairro.

“O aprendizado para ser plenamente alcançado necessita sair da rotina da sala de aula. Por isso é importante buscar alternativas e vivenciá-las com os alunos, compartilhando-as também com os moradores”, diz o professor.

É quando os alunos aprendem e também ensinam ao abordar temas que são comuns a todos os que vivem no bairro e no contexto da cidade – e do mundo. “Esse projeto mostra uma relevância extraordinária ao agregar valores, vivências e reflexões comuns a diversas disciplinas do currículo, possibilitando um espaço de discussão permanente”, sustenta, com razão, o professor Mengueles.

 

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