Agricultores do Cubango são forçados a deixar suas terras para expansão da mineração em Itabira

Fotos: Carlos Cruz

Em visita à comunidade rural do Cubango, ativistas do Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração de Itabira e Região, juntamente com militantes do PSOL, dialogaram com moradores que terão de abandonar suas terras para a mineradora Vale expandir as suas atividades no complexo minerador Conceição, em Itabira, MG.

Anteriormente, o Comitê Popular e a Cáritas Diocesana formalizaram denúncias no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e no Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema), acusando a Vale de assédio e abuso de poder econômico contra pequenos proprietários que mantêm uma cultura de subsistência diversificada há mais de um século no território.

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Denúncias e solicitações

Além do Cubango, as comunidades de Criciúma, Borrachudo e Turvo também serão afetadas pelo processo de desocupação.

No ofício encaminhado ao MPMG e ao Codema, foram solicitadas informações sobre o interesse da mineradora na área e as condições das negociações.

Os signatários pedem a contratação de uma Assessoria Técnica Independente (ATI) para apoiar os atingidos na defesa de seus interesses socioeconômicos, históricos e culturais.

Intervenção 

Segundo os ativistas, a intervenção da deputada Bella Gonçalves (PSOL) levou o MPMG a encaminhar um despacho sobre o caso em 13 de novembro.

O despacho desconsiderou a necessidade da contratação da ATI, uma vez que o caso não envolve construção ou desativação de barragens.

Negociações e assédio

Segundo o MPMG, 25 famílias já negociaram suas propriedades com a Vale, mas muitos resistem

De acordo com o Ministério Público, 25 famílias já deixaram o território após negociações individuais com a Vale. Um processo administrativo foi aberto pelo MPMG, que se reuniu com moradores atingidos e está investigando as condições das negociações.

Os moradores confirmaram aos ativistas que têm recebido assédio da mineradora, forçando negociações e violando seus direitos.

Relataram várias táticas usadas pela Vale, incluindo visitas diárias sem permissão, exigência de sigilo nos valores de compra e venda, ameaças de isolamento e chantagem sobre a paralisação da produção e demissões em massa em Itabira.

Maria Dilza Oliveira Menezes e Nazareno Menezes são exemplos de resistência na região do Cubango

Resistência

Antônio Nazareno de Menezes, proprietário do sítio Nazamel, é um dos que resistem ao assédio. Sua propriedade, exemplo de agrofloresta em Itabira, tem uma produção diversificada e está situada na parte mais alta do Cubango. “Dinheiro nenhum paga por tudo que construímos aqui no sítio com a minha família”, afirma.

O sítio Nazamel fornece alimentos para programas de merenda escolar e vende frutas, mel e quitandas na cidade. Nazareno considera sua propriedade um pedaço de paraíso, mesmo estando próxima às barragens Itabiruçu, Conceição e do complexo minerador.

“Podem cercar tudo com rejeito, que estou protegido pela mata e por estar no alto do morro. Só espero que preservem a estrada de acesso ao meu sítio, que é um direito de ir e vir que poder econômico algum pode me tirar.”

Assim como ele, muitas outras famílias resistem ao assédio da Vale e pretendem continuar morando, trabalhando e produzindo na região, lutando contra o poder econômico, resistindo a pressões e coações.

Este é mais um exemplo de luta sem trégua, de resistência contra a exploração e busca pela justiça social e ambiental em Itabira, que há mais de 82 anos sofre com esse tipo de pressão sobre os seus territórios.

Assim como a família de Nazareno, muitas outras famílias resistem ao assédio da Vale e pretendem continuar morando, trabalhando e produzindo na região, numa luta sem trégua contra o poder econômico, resistindo às pressões, coações e chantagens.

O que diz a Vale

“A Vale esclarece que todo processo de aquisição de imóveis pela empresa é precedido por diagnóstico socioeconômico das famílias e conduzido de forma transparente, respeitosa e por meio do diálogo permanente com as pessoas diretamente envolvidas.”

“A Vale reforça, também, que o atendimento às famílias está em conformidade com a legislação,  normas técnicas aplicáveis e alinhado às diretrizes de padrões internacionais de sustentabilidade. 

A empresa informa, ainda, que a aquisição dos terrenos visa à adoção de novos processos e tecnologias em suas operações para diminuir a necessidade de barragens e, assim, continuar sua atividade minerária de forma segura e sustentável, com foco nas pessoas e no meio ambiente”.

 

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