Aedes aegypti: Itabira decreta situação de emergência e Gabiroba é o bairro com maior número de domicílios com focos do mosquito
Fotos: Carlos Cruz
Para os que acham que a infestação e o risco de surto de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti (Dengue, Zika, Chikungunya e febre amarela) só ocorrem em período chuvoso, com acúmulo de água em vasilhames, vasos e objetos abandonados ao relento, vai um aviso: mesmo na estiagem o perigo mora ao lado, e pode estar presente em sua casa.
Ocorre que os ovos do mosquito são muito resistentes. Podem sobreviver até mesmo por um ano em local seco. Sendo assim, quando esse local recebe água que se acumula, em cerca de meia hora de submersão esses ovos podem desenvolver e o mosquito propagar com igual virulência, mesmo com a estiagem, assim como ocorre no verão com as chuvas.
“Infelizmente, os mosquitos já conseguem sobreviver em água salobra e com produtos químicos”, adverte a superintendente de Vigilância em Saúde, Natália Andrade, com mais esse motivo de preocupação.
E o que é pior: uma fêmea produz de 60 a 120 ovos em cada ciclo reprodutivo – e pode ter mais de três ciclos durante a sua curta vida de 30 dias. Daí que os mesmos cuidados para impedir a proliferação no verão, devem ser observados durante a estiagem.
Infestação
Sem esses cuidados, Itabira vai permanecer em situação de emergência pelo risco de proliferação dessas doenças, segundo confirma o novo Levantamento Rápido de Índice de Infestação por Aedes aegypti (Liraa), realizado entre os dias 15 e 19 de maio, por amostragem, em dez bairros na cidade.
Por esse levantamento, o Índice de Infestação Predial (IIP) na cidade é de 5,2%. Isso significa que foram encontrados altos índices de larvas do mosquito nos bairros da cidade – e o sinal de alerta deve ser acionado em todas as residências e estabelecimentos comerciais.
Embora o levantamento não tenha sido realizado nos distritos de Ipoema e Senhora do Carmo, o risco de proliferação possivelmente é o mesmo e por isso todos os cuidados devem ser tomados nessas localidades
Segundo o Ministério da Saúde (MS), índices superiores a 4% representam risco de surto dessas doenças entre a população. A situação somente estaria sob controle se esses índices estivessem abaixo de 1%. Acima desse percentual até 3,9% a situação já é de alerta.
“O cenário em Itabira é de alto risco de contaminação pelas arboviroses (doenças causadas por vírus transmitidos por mosquitos)”, alerta a superintendente de Vigilância em Saúde. “É preciso que toda a população reforce a vigilância para eliminar os focos do mosquito”, ela convoca.
Daí que a Prefeitura de Itabira decretou Situação de Emergência no município (Decreto nº 3.617/23). E abriu processo seletivo simplificado para a contratação imediata de mais profissionais para combater os focos de Aedes aegypti.
Bairros mais infestados
Entre os dez bairros onde o levantamento foi realizado, por sorteio por meio de um programa específico disponibilizado pelo MS, o bairro Gabiroba, que é o mais populoso de Itabira, foi disparado o que apresentou o maior índice de infestação, com focos do mosquito sendo encontrado em 62% dos imóveis vistoriados.
Confira:
. Gabiroba (62%)
. Praia (23%)
. Bela Vista (21%)
. Eldorado (19%)
. Colina da Praia (14%)
. Major Lage (13%)
. São Pedro (10%)
. Amazonas (10%)
. Nova Vista (6%)
. Nossa Senhora das Oliveiras (4%)
Por essa amostragem, é fácil concluir que o risco de surto de doenças por picada do mosquito está presente em toda cidade.
Amostragem
Para o levantamento, foram vistoriados 1.874 imóveis na área urbana. “Esses bairros são divididos em quatro estratos. Desses, ¾ apresentaram risco de surto e ¼ estão em sinal de alerta”, diz a superintendente, que pede todo o empenho da população na eliminação de focos do mosquito.
Segundo ela, o levantamento mostra que 83% dos focos estão em domicílios e em áreas ao redor dos domicílios, num raio não superior a cem metros.
Recorrência
O Liraa realizado anteriromente, em maio do ano passado também apontou a mesma situação na cidade, com a proliferação dos criadouros do Aedes aegypti nos domicílios onde estão os maiores responsáveis pelo aumento do índice médio de infestação.
Os principais focos estão em bebedouros e vasos de plantas (43,1%), recipientes plásticos, latas e baldes (22%), além de canaletas e sanitários em desuso (14,7%).
Doenças
O Aedes aegypt transmite a dengue, a Chikungunya, a Zika e a febre amarela urbana. São as arboviroses, a saber:
– Dengue: é a arbovirose urbana mais prevalente no Brasil. É uma doença febril que tem se mostrado de grande importância em saúde pública nos últimos anos.
Os principais sintomas são febre alta, dor no corpo e nas articulações, dor atrás dos olhos, mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas no corpo. Mas a infecção por dengue pode ser assintomática.
– Chikungunya: a transmissão do vírus é feita por meio da picada de insetos-vetores do gênero Aedes. Embora a transmissão direta entre humanos não esteja demonstrada, há de se considerar a possibilidade da transmissão no útero da mãe para o feto.
Os principais sintomas são febre alta de início rápido, dores intensas nas articulações dos pés e mãos, além de dedos, tornozelos e pulsos. Os sintomas iniciam entre dois e 12 dias após a picada do mosquito.
– Zika: a infecção pode ser assintomática ou sintomática. Quando assintomática, pode apresentar quadro clínico variável, desde manifestações brandas e autolimitadas até complicações neurológicas e malformações congênitas.
Estudos indicam que mais de 50% dos pacientes infectados tornam-se sintomáticos. O período de incubação da doença varia de dois a sete dias.
As manifestações mais comuns são febre baixa ou ausente, conjuntivite não purulenta, cefaleia, artralgia, astenia e mialgia. Duas complicações neurológicas graves relacionadas ao Zika vírus: síndrome de Guillain-Barré e microcefalia.
– Febre amarela urbana: tem importância epidemiológica por sua gravidade clínica e potencial disseminação em áreas urbanas infestadas pelo Aedes aegypti.
É uma doença de notificação compulsória imediata, ou seja, todo evento suspeito (tanto a morte de primatas não humanos, quanto casos humanos com sintomas compatíveis) deve ser prontamente comunicado, em até 24 horas após a suspeita inicial, à Secretaria Municipal de Saúde.
Em casos graves, a pessoa infectada pode desenvolver complicações como febre alta, icterícia, hemorragia, e eventualmente choque e insuficiência de múltiplos órgãos.
Cerca de 20% a 50% das pessoas que desenvolvem febre amarela grave podem morrer. Assim que surgirem os primeiros sinais e sintomas, é fundamental buscar ajuda médica imediata.