À nossa senhora Aparecida – Elegia aos Pinto Coelho   

Foto: Reprodução/
Álbum de Família                                        

Por Cristina Silveira

A Vila de Utopia compartilha nesta página o poema Doce Encantamento, uma recordação para consagrar a “ausência para sempre” da professora Maria Aparecida Pinto Coelho Rodrigues Alves.

E, em triste extensão, ao seu irmão caçula e afilhado de batismo, Lúcio Flávio Pinto Coelho. Aparecida, corpo grande e singelo. Lúcio, corpo fino e ágil. Aparecida, voz para canto, coro e coral. Lucinho, o que esticou a canela até o Iraque, onde foi para construir e não para fazer a guerra.

Um dia depois do outro, a tragédia. Espanto! Perplexidade! A solidão da morte e o destino demasiadamente humano…

Que consolo? Talvez, ouvir Cantiga de Viúvo – melancolia de Carlos Drummond encantada por Villa-Lobos.

Cantiga de viúva para Fátima de Souza, casada por 28 anos com o Lucinho (1961-2023).

Cantiga de viúvo, para Antonio Paulo Rodrigues Alves, casado por 48 anos com Aparecida (1944-2023).

Cantiga de Viúvo

Por Carlos Drummond de Andrade

A noite caiu na minh’alma,

fiquei triste sem querer.

Uma sombra veio vindo,

veio vindo, me abraçou.

Era a sombra de meu bem

que morreu há tanto tempo.

me abraçou com tanto amor

me apertou com tanto fogo

me beijou, me consolou.

Depois riu devagarinho,

me disse adeus com a cabeça

e saiu. Fechou a porta.

Ouvi seus passos na escada.

Depois mais nada…

Acabou.

O distrito de Ipoema, no município de Itabira (Foto: Valério Adélio)

Doce encantamento

Por Aparecida Pinto Coelho Rodrigues Alves

Ipoema!

Ontem, um lugar pacato.

Uma praça, uma igreja, uma escola, uma ponte…

Rua de Cima,

Rua de Baixo.

Distrito Menino.

Pés descalços vivenciam brincadeiras inocentes e singelas.

Boizinhos de barro, de chuchu, de banana meio verde encantam o mundo dos garotos.

Meninas criam bonecas de pano; constroem casinhas; organizam batizados;

Visitam as comadres, orientadas por suas avós.

As avós contam antigas histórias mal-assombradas.

A algazarra da criançada confunde-se com o bando de maritacas em arvores frutíferos nos deliciosos quintais sem fins…

Fazem jus ao nome IPOEMA, “pássaro que canta”, em tupi-guarani.

No Poço do Pari e na Volta do Campo, os meninos nadam escondido de seus pais.

Amarram cabaças em corpos seminus.

Saltam dos ingazeiros; enfrentam a correnteza, os desafios dos redemoinhos traiçoeiros

De um rio, aparentemente ingênuo.

Proeza só descoberta com o aparecimento da esquistossomose… terrível pesadelo!

Ao cair da tarde, o sino da Igreja anuncia a Ave-Maria.

Padre João, no alto-falante, reza um texto bíblico.

Religiosidade marcante na localidade.

A festa da padroeira Nossa Senhora da Conceição e a de São Sebastião são celebradas com entusiasmo pelo povo de fé fervorosa.

O Distrito Menino cresce.

Torna-se Distrito Jovem.

Os adolescentes partem para colégios distantes.

Internos, choram; deixam para trás uma saudosa convivência familiar.

Um ano sem voltar à casa paterna. Saudades!

O Caraça causou-lhes arrepios; definitivamente, não querem ser seminaristas.

O Colégio Nossa Senhora das Dores de Itabira e o de Bom Jesus do Amparo, tão pertinho, registram fugas de garotas ipoemenses infelizes.

Durante as férias, descanso merecido.

Porém, preocupação geral…

Moças bonitas fazem footing, na Pracinha, sob o olhar inquieto dos pais.

Gonçalo da Silveira, Osvaldo Pinto Coelho, Pedro Correa, Geraldo Quadrado, Geraldo Lage, Ormezindo e tantos outros observam suas filhas, cautelosos. Até mesmo o farmacêutico, Zé Patrocínio!…

Rapazes oferecem músicas às donzelas; somente as iniciais dos nomes, muitas vezes, baralhadas; serenatas perdidas na madrugada, vigiadas pelas gretas das janelas.

Rigidez excessiva! Sussurros anunciam: filha de político da UDN não pode namorar o filho do político do PSD.

Proibida qualquer aproximação entre ambos. Política ferrenha!… As horas dançantes, nas salas de visitas de algumas famílias, deixam alguns pais vigilantes, angustiados…

Torcem os grossos bigodes; apontam para as suas mocinhas o caminho em direção a casa.

Tolo disfarce!…

As moças, abraçadas a seus pares, fingem não ver o aceno; continuam tranquilas; ao ritmo da musica, atravessam o salão com cavalheiros interessantes.

O tempo passa.

O Distrito Jovem torna-se Distrito Adulto.

Muitas famílias vão embora.

Exigência da própria vida.

Partem com muita saudade, com os corações apertados.

Muita tristeza compartilhada pela dor da ausência.

O Distrito Menino,

O Distrito Jovem,

O Distrito Adulto de um passado, ainda muito vivo na memória.

É a terna Ipoema, que se transforma, hoje, em Moderno Distrito, a menina dos olhos do município mineiro de Itabira.

Faz parte de um cenário mundial, com paginas na Internet.

Os anônimos homens, de outrora, com suas tropas, renascem com o resgate de uma bonita história.

Cria-se o Museu do Tropeiro, parada obrigatória para viajar pela Estrada Real.

Peças de couro, de ferro e de madeira foram o seu acervo.

O bazar de artesanatos, produtos regionais, salas de multimeios… atraem os visitantes,

Turistas do mundo inteiro.

As Pousadas Termas do Rei, Tropeiro Real, Recanto da Dona Euzébia, Chalés do Portal, o Hotel Fazenda das Laranjeiras, o Hotel Fazenda Boitempo… oferecem aos viajantes hospedagem confortável, deliciosa mesa de quitandas, arroz feijão e couve; a cozinha mineira em seu esplendor.

Belas cachoeiras, como a Cachoeira Alta do Onelvindo Coelho, imponente pela grandeza de sua queda d’água; a do Patrocínio e a da Conquista apresentam um maravilho cenário de puro encantamento. Agradam bastante aos amantes de esportes radicais.

A Mata do Limoeiro, formada por remanescentes da Mata Atlântica, possui respeitável e rica diversidade.

Ipoema! Ipoema! Ipoema!

Noite de Lua Cheia,

Roda de Viola,

Cantigas das Lavadeiras,

Danças folclóricas tecem e eternizam as belezas de um Moderno Distrito.

Doce Encantamento!

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3 Comentários

  1. Minha querida e doce professora ,Aparecida,
    Foi cantar e escrever no céu. Lá ela deve estar feliz com suas companheiras de trabalho que chegaram primeiro. Pessoa boníssima que nos ajudou muito no Memorial como voluntária.
    Irmã de Conceição, amiga também muito querida. Mãe de PITY, nosso amigo e grande músico. Que Deus conforte toda a família.

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