A Mitose Universal das Coisas

Vendedora de flores (parcial) 1947. Óleo sobre tela 1005x65cm

Arte: Djanira da Motta e Silva

Foto: Eduardo Ortega/
Acervo Masp

Por Luísa Cardoso*

 Ensaio sobre o Amor

Quem ama, ama em silêncio

Não com a dureza das palavras

Pois sabe-se que é sentido

Em contemplação ávida

Foge do pesar o alento

Se estando as almas separadas

O outro está longe do sofrimento

Mesmo nos braços de outra amada

O coração dói, a alma arde

E ainda que pareça a morte

Sobresai-se não a palavra, mas a verdade

Acata-se os desígnios da sorte

E rende-se… aceita-se sem luta

Que é preferível ver-te em paz

A degladiar-me em disputas

Não de palavras, mas mais mortais

Àguias e Corvos

O único animal que confronta uma águia

É o intrigante, sábio e misterioso corvo

Ela não se intimida e voa ainda mais elevada.

Em alturas maiores, o preto pássaro já não é um estorvo

Desmaia o corvo, a duras penas, empalidecido e sem oxigênio

Retorna consciente, em uma camada mais amena,

Onde voam falcões, gaivotas, gaviões…

Menos a águia, que é dada à liberdade e ao momento.

Viver o hoje é coisa rara

Para muitos, um veneno

Se a realidade por si parece precária,

Ainda assim, nela adentremos…

Sê como as águias

Com toda sua opulência

Vindo tempestade bárbara

Voam mais alto que as nuvens negras

Enxergam, passando a camada espessa

Do sol o calor e a luminescência

Os outros pássaros se molham à bessa,

Escondem-se nas árvores amedrontados,

Menos a águia, que tão impetuosa é essa

Retorna seca, aquecida e vendo o sol adiantado.

Nos Interiores de Minas

Nos interiores de Minas

Fiz minhas missões

Ainda na juventude

Morei em Varginha

Colhi café em Perdões

Formei engenheira em Itabira

Cidade de Carlos Drummond

Escrevi este livro de poesia

Com o que me foi dado de dom

Vi a mineração da Vale corroer as serras,

Negativar a altitude do Pico do Cauê

E as famílias dependendo dela

Com medo de perdê-la e não ter o que comer

Ao menos trouxeram a UNIFEI, minha alma mater

Nunca irei os momentos aqui vividos, esquecer

Pois a cidade era cinza, mas era verde o teu ater

Lutar pelo progresso e conhecimento, foi o que aprendi com você.

O verde das matas me lembra Itaúna

De onde sou natural

Cidade bela, têxtil, rica e única

Minha raiz primeira foi fundamental

As noites de congado com minha avó

Me coroaram mineira toda vez

Folia de reis, bem cultural maior

Que mostra de minas a altivez

Eu nunca deixarei de amar

As montanhas de minas,

Pois elas sustentam minha sorte.

Em busca do sol eu vou

Posso estar na Índia ou na Argentina

Mas por ti, Minas, brilha mais minha retina.

Meu coração bate mais forte!

A cigarra

A cigarra canta chamando chuva

E o céu começa a gotejar

Não é a chuva que cai primeiro

Para depois esse som se escutar.

Antes mesmo de tu chegares

Com tua chuva eu pude compreender

Que cantei tanto em toda parte

Chamado por alguém como você

Tal como as cigarras cantam

Em uma orquestra fenomenal

Cantarolo muito, o dia inteiro

Pois finalmente chegaste, meu sinal

Agora me sinto viva e feliz

Tal qual estrela que não dorme

Em teus braços tão gentis

Percebi que amor é sorte

*Luísa Cardoso é engenheira eletricista de formação pela UNIFEI – Itabira e mestranda em ciências e engenharia de materiais pela mesma instituição. Atualmente com 26 anos, não se contenta em ficar apenas na ciência: ama a poesia que dilacera o peito. Tem publicado seu primeiro livro chamado “A Mitose Universal das Coisas” pela editora mineira “Caravana”. Com uma temática poética erudita, aborda temas como a vida e a morte, o amor, o existir, o buscar, e as divisões que existem no mundo e o definem.

Para acessar a página de compras do livro, temos o link: A mitose universal das coisas – Caravana Grupo Editorial

 

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