A hegemonia do Movimento Modernista

A dança (1910): tela de Henri Matisse

Reprodução

Foi em 1922 o início das transmissões do rádio no Brasil, mas o fato mais lembrado daquele ano, na área cultural, é a Semana de Arte Moderna de 22 que lançou o Movimento Modernista, que completou 100 anos

Montserrat Martins*

EcoDebate – Esse é um “marco inicial” da hegemonia paulista na cultura brasileira, como vemos lendo em “A Ideologia Modernista: a semana de 22 e sua consagração”, de Luís Augusto Fischer.

Trata-se de um livro imperdível para quem gosta de literatura e para quem quer compreender como funciona a “validação da cultura” no Brasil. Fischer vai aos bastidores dos fatos e mostra as bases socioeconômicas, as motivações e os métodos que os levaram e os mantiveram nessa posição hegemônica.

Nada acontece ao acaso. Na década de 20 o poder havia se concentrado nas elites cafeicultoras paulistas e nas décadas seguintes essa supremacia econômica seria mantida com liderança paulista do desenvolvimento industrial. No terreno cultural, esse protagonismo foi construído também com a criação da USP (em 1934) e com a força crescente das editoras paulistas.

Um aspecto curioso sobre a USP, referência acadêmica nacional, é um comentário feito pelo célebre antropólogo Claude Lèvi-Strauss em visita ao Brasil (da qual resultou o livro Tristes Trópicos), em 1935, no início daquela Universidade, à qual ele ajudou com o seu conhecimento.

O comentário do intelectual belgo-francês foi sobre a falta de aprofundamento nos assuntos, lhe parecendo que estavam mais interessados em demonstrar erudição para alcançar prestígio do que em busca de aprimoramento científico ou cultural.

Para o escritor carioca Ruy Castro, o livro do gaúcho Fischer desnudou o Modernismo paulista, ou seja, colocou à mostra os mitos em seu entorno, ao longo de sucessivas gerações de intelectuais alinhados com essa verdadeira “ideologia”, que completa agora 100 anos.

Desde então é com seus valores, autores e críticos que se validam as produções culturais e artísticas brasileiras, chegando ao ponto de terem considerado que só passa a existir uma literatura nacional após seu advento, os períodos anteriores são considerados como época de “formação”, minimizados em seu valor cultural, assim como outros são classificados como “regionalistas” quando expressam culturas locais, sendo que a cultura paulista é tida como a “nacional”.

Não há como resumir, aqui, todos os aspectos importantes estudados por Fischer em sua análise do Modernismo. Se você gosta de cultura, de literatura, não perca.

Mas também se tiver curiosidade sobre o processo de conquista que aqui apelidei de “imperialismo paulista” – por minha conta, uma expressão nunca usada pelo autor do livro, para um fenômeno bem mais complexo.

Mas que, traduzido para a linguagem popular, é mais ou menos como a descrição do famoso “apito amigo” para o Corinthians.

*Montserrat Martins é médico psiquiatra, autor de Em busca da Alma do Brasil

 

 

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