A fragilidade do ser
Por Milton Rezende*
Alcunhas
o poeta dos acasos
o poeta das manhãs
o poeta das areias
o poeta da fragmentação
o poeta das pedras
o poeta dos inventários
o poeta das sombras
o poeta sentinela
o poeta em fuga
o poeta das ausências
o poeta das escadas
que deságuam
dentro de si mesmo
o poeta dos silêncios
o poeta dos jardins
o poeta das simultaneidades
ele, às vezes, planta árvores.
Pedágio
sou muito desaparelhado para a vida:
nunca sei como funciona,
onde que se liga,
se as partes são desmontáveis
e nem como se faz pra ser feliz.
É fato
O arpejo do vento anuncia
a fragilidade do ser
humano.
O vento nas cortinas
confirma a fragilidade
do ser humano.
O ser humano
entre revoltado
e astuto levanta
da cama decidido.
Mas ele cai no chão
pesadamente
como uma pluma.
Se não houvesse
a lei da gravidade
ele flutuaria como rei
por espaços contíguos
a fragilidade do ser
humano chega a doer
nos ossos da perna,
no cano da perna.
Um braço intumescido
acompanha o movimento
lateral do descompasso
desconjuntado à direita.
A fragilidade do ser humano
é absurda e dá dó de se ver,
coitado, e ainda cogita mundos
quando está somente deitado.
*Milton Rezende, poeta e escritor, nasceu em Ervália (MG), em 23 de setembro de 1962. Viveu parte da sua vida em Juiz de Fora (MG), onde foi estudante de Letras na UFJF, depois morou e trabalhou em Varginha (MG). Funcionário público aposentado, atualmente reside em Campinas (SP). Escreve em prosa e poesia e sua obra consiste de quatorze livros publicados. Está em www.miltoncarlosrezende.com.br e www.estantedopoetaedoescritor.blogspot.com.br
Fortuna crítica: “Tempo de Poesia: Intertextualidade, heteronímia e inventário poético em Milton Rezende”, de Maria José Rezende Campos (Penalux, 2015).