A casa do gato Drummond
A casa é conhecida como Casa sem Janelas, mas guarda o nome do antigo proprietário – Victor Villiot Martins –, Villino Villiot ou Casa Villiot.
Fica na rua Sá Ferreira n. 80, a uma quadra do Posto 5, em Copacabana. Construída em 1929 com projeto do arquiteto italiano Antonio Virzi (1882-1954), que chegou ao Rio em 1910, contou com a amizade de Rodolfo Bernardelli e foi lecionar na ENBA.
Enveredou pela pista aberta da reforma urbana Pereira Passos projetando casas e fábricas, quase todas demolidas mesmo sendo tombadas pelo Patrimônio, enturmado ficou conhecido como Gaudí Carioca e como “dandy, poeta, um louco de Palermo”.
A casa Villiot foi tombada pelo patrimônio histórico em 1995 e de utilidade pública em 1996. Em 2007 recebe o pequeno acervo de 20 mil livros da Biblioteca Escolar Municipal Carlos Drummond de Andrade, criada como Biblioteca Municipal de Copacabana no dia do aniversário da cidade, 20 de janeiro de 1954.

Entrou de mansinho pela porta da frente, sem desconfiança roçou pernas, subiu desceu escadas e ganhou a simpatia das funcionárias, de leitores e vizinhança.
Não era um gato qualquer, tinha coleira no pescoço – ou foi expulso ou fugiu de alguma casa qualquer. Não era um gato vira-latas, era um castrado de uma casa desalmada.

Passaram a lhe chamar de Drummond, um merecimento ao gato e ao poeta que amava os animais. Ganhou os cuidados de um veterinário voluntario, a carteira de vacinação sempre em dia, a ração “premium” dava gozo pelo sedoso brilhoso. Não tinha rede, dormia entre livros, farejava a presença de roedores de papel.

Até que num dia de 2013 – ano que ainda não terminou – veio a Ordem de Despejo da Prefeitura. De nada valeu o abaixo-assinado com 120 assinaturas pedindo a revogação do despejo.
A imprensa noticiou o desaforo, a Casa sem Janelas encheu de gente revoltada com a Ordem. Mas a Prefeitura não tem coração.
Despejado da Casa sem Janelas o gato Drummond foi recebido num apartamento de janelas abertas para o mar. E ganhou perfil na rede social. [mcs)
Carlos Drummond de Andrade
(Itabira do Mato Dentro, 31 de outubro de 1902 – Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987)

Que pena que demoliram a casa sem janelas e o gato Drummond teve que ganhar outra casa e não cuidar de uma biblioteca.