A árvore que chora
[E ninguém levou à sério. E nunca mais se falou da crendice. ]
Na praia dos Monjólos, nas imediações da cidade, num quintal fronteiro à rua, há um cedro, que todos conhecem, pois, as suas ramadas projetam uma grande sombra naquele trecho.
Nos dias quentes, como esses últimos, as pessoas ali passam para o descanso à sombra da preciosa árvore.
Pois bem, o cedro da Senhorinha como é chamado, por estar encravado na cerca do quintal da casa onde mora pessoa do mesmo nome, “deu pra chorar…”
O estranho fenômeno está preocupando a crendice popular e atraindo inúmeros curiosos aos Monjólos.
Em um dos galhos das extremidades, segundo nos informaram, há uma protuberância enervada com um “tecido” semelhante à teia de aranha. Desse lugar, verdadeiro saco lacrimal, caem, de manhã, duas gotas de água, úmidas e claras.
Não se trata de orvalho, ali depositado, porque a tarde, o fato se repete, com mais intensidade chegando a molhar o chão, ressequido pela prolongada falta de chuvas.
Não se pode também atribuir o fenômeno a um transbordamento de seiva, porque o cedro está com a vegetação paralisada e a água que corre não tem cheiro nem sabor.
Agora, a crendice: para alguns, trata-se de um milagre, para outros de um prenúncio pressagio – o prosseguimento da seca.
Os entendidos ficam com a palavra para decifrar o mistério da árvore que chora.
[Jornal de Itabira, 19 de fevereiro de 1933]